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UNCTAD projeta redução no crescimento da economia global em 2023

04 outubro 2022

Um novo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) projeta uma redução no crescimento da economia global para o ano que vem, passando de 2,5% para 2,2%, o que colocaria o mundo em situação de recessão.

Segundo o documento, choques de oferta, queda nos índices de confiança do consumidor e de investidores além da guerra na Ucrânia provocaram uma desaceleração global e desencadearam pressões inflacionárias.

Para sair desta situação, o relatório apresenta uma estratégia de maior cooperação entre os países em desenvolvimento que, juntamente com reformas na arquitetura multilateral, pode ajudar a levar a economia global na direção certa. A chefe da agência, Rebeca Grynspan, pediu vontade política durante o lançamento do relatório em Genebra. 

Com os sinais de alerta ligados em uma série de indicadores econômicos e ambientais, reivindicar o futuro com políticas inovadoras e ambiciosas, vontade política e apoio público e privado é um pré-requisito para alcançar metas de desenvolvimento ambiciosas, diz a UNCTAD.

Os preços das commodities subiram durante grande parte dos últimos dois anos, com alimentos e energia mais caros representando desafios significativos para as famílias em todos os lugares.
Legenda: Os preços das commodities subiram durante grande parte dos últimos dois anos, com alimentos e energia mais caros representando desafios significativos para as famílias em todos os lugares.
Foto: © Ernesto Benavides/FMI

O crescimento global cairá para 2,2% em 2023, segundo previsão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que estima para este ano um crescimento de 2,5%. A agência da ONU alerta para, se caso não houver mudanças urgentes em políticas, uma recessão global para qual o mundo já está caminhando. 

Os dados são do relatório “Comércio e Desenvolvimento 2022”, divulgado nesta segunda-feira (3), na sede da UNCTAD, em Genebra. Segundo informações do documento, os movimentos da política monetária e fiscal nas economias avançadas podem causar não só uma recessão global, mas também estagnação prolongada levando a danos piores do que a crise financeira de 2008. Segundo o documento, choques de oferta, queda nos índices de confiança do consumidor e de investidores além da guerra na Ucrânia provocaram uma desaceleração global e desencadearam pressões inflacionárias. 

Algumas medidas como o aumento da taxa de juros de bancos centrais pelo mundo devem levar a um corte ainda maior no crescimento.  

O relatório indica que todas as regiões do mundo estão sendo afetadas por esse quadro, mas os países em desenvolvimento são os mais vulneráveis. Cerca de 60% das nações de baixa renda estão em situação de superendividamento ou quase chegando a esse quadro. 

A agência da ONU afirma que as instituições financeiras internacionais precisam aumentar, urgentemente, a liquidez e estender o alívio da dívida real a mais países.

Já as economias avançadas devem limitar o aperto fiscal.  

Políticas- A UNCTAD recomenda esforços globais que tentem reduzir o preço dos alimentos, energia e fertilizantes.  

Em um momento de queda dos salários reais, aperto fiscal, turbulência financeira e apoio e coordenação multilaterais insuficientes, o aperto monetário excessivo pode inaugurar um período de estagnação e instabilidade econômica para muitos países em desenvolvimento e alguns desenvolvidos. 

Os aumentos das taxas de juros deste ano nos Estados Unidos devem cortar cerca de 360 bilhões de dólares de receita futura para os países em desenvolvimento (excluindo a China) e sinalizar ainda mais problemas à frente, alerta o relatório. 

“Temos as ferramentas para acalmar a inflação e apoiar todos os grupos vulneráveis. Esta é uma questão de escolhas de políticas e vontade política. Mas o atual curso de ação está prejudicando os mais vulneráveis, especialmente nos países em desenvolvimento, e corre o risco de levar o mundo a uma recessão global”, afirma a chefe da UNCTAD, Rebeca Grynspan.

PIB- As perspectivas estão piorando, e o PIB real pode ficar ainda abaixo de sua tendência pré-pandemia até o final do próximo ano e um déficit acumulado de mais de 17 trilhões de dólares-- perto de 20% da renda mundial. 

Os países de renda média da América Latina, bem como os países de baixa renda da África, registrarão algumas das desacelerações mais acentuadas este ano.  

O relatório observa que os países que estavam mostrando sinais de superendividamento antes da COVID-19 estão sofrendo alguns dos maiores golpes com Zâmbia, Suriname, Sri Lanka e Paquistão com choques climáticos ameaçando ainda mais a estabilidade econômica. 

Os fluxos líquidos de capital para países em desenvolvimento tornaram-se negativos com a deterioração das condições financeiras desde o último trimestre de 2021, diz o relatório. Na liquidez, os países em desenvolvimento estão agora financiando os desenvolvidos. 

Estados Unidos - Cerca de 90 países em desenvolvimento viram suas moedas enfraquecerem em relação ao dólar este ano – mais de um terço deles em mais de 10%; as reservas cambiais estão caindo e os spreads de títulos estão aumentando, com um número crescente apresentando rendimentos 10 pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. 

Atualmente, 46 países em desenvolvimento estão severamente expostos a múltiplos choques econômicos e outros 48 seriamente expostos, aumentando a ameaça de uma crise global da dívida. 

O relatório conclui que a situação nos países em desenvolvimento é muito mais tênue do que o reconhecido pelo G20 e outros fóruns financeiros internacionais, com conversas sobre uma rede de segurança financeira global cada vez mais em desacordo com sua realidade. 

Os países em desenvolvimento já gastaram cerca de 379 bilhões de dólares em reservas para defender suas moedas este ano, quase o dobro da quantidade de novos Direitos Especiais de Saque (Special Drawing Rights, ou SDR na sigla em inglês) recentemente alocados a eles pelo Fundo Monetário Internacional, e também sofreram um impacto significativo da fuga de capitais. 

Austeridade - Grandes corporações multinacionais com considerável poder de mercado parecem ter aproveitado indevidamente o contexto atual, elevando as margens para aumentar os lucros. 

Nessas circunstâncias, diz o relatório, remontar à década de 1970 ou a décadas posteriores marcadas por políticas de austeridade em resposta aos desafios de hoje é uma aposta perigosa. 

“O verdadeiro problema enfrentado pelos formuladores de políticas não é uma crise de inflação causada por muito dinheiro para poucos bens, mas uma crise de distribuição, com muitas empresas pagando dividendos muito altos, muitas pessoas sobrevivendo com o salário mês a mês e muitos governos sobrevivendo com cada pagamento de títulos”, disse o chefe da equipe responsável pelo relatório, Richard Kozul-Wright.

Com a inflação já começando a diminuir nas economias avançadas, a UNCTAD pede uma correção de curso em favor de políticas visando reduzir os picos de preços de energia, alimentos e outras áreas vitais diretamente. 

Alerta - De acordo com o relatório, as múltiplas crises que a economia global enfrenta atualmente estão conectadas por uma agenda política que falhou em suas principais promessas de proporcionar estabilidade econômica e impulsionar o investimento produtivo, tanto público quanto privado. 

Com os sinais de alerta ligados em uma série de indicadores econômicos e ambientais, reivindicar o futuro com políticas inovadoras e ambiciosas, vontade política e apoio público e privado é um pré-requisito para alcançar metas de desenvolvimento ambiciosas, aponta o documento. 

O relatório apresenta uma estratégia de maior cooperação entre os países em desenvolvimento que, juntamente com reformas na arquitetura multilateral, pode ajudar a levar a economia global na direção certa. 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNCTAD
Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa