Discurso da coordenadora residente da ONU no Brasil, Silvia Rucks, no primeiro encontro de mulheres parlamentares do P20, fórum legislativo do G20, em Macéio.
Mais mulheres na política e fortalecimento da democracia
Bom dia, excelências. Cumprimento o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Arthur Lira.
Faço uma saudação especial às mulheres parlamentares e às demais autoridades presentes.
Senhoras e senhores,
É um prazer representar o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, neste importante debate sobre mulheres e política.
A participação igualitária das mulheres na política e na vida pública é um direito humano e a base para sociedades democráticas. No entanto, em todas as regiões do mundo ainda estamos longe desse equilíbrio. Apenas 28 países têm uma mulher como chefe de estado. E somente 27% dos parlamentares do mundo são mulheres. Não podemos ignorar a violência política como um fator decisivo para a sub-representação feminina nesses espaços, especialmente quando sabemos que mais de 80% das mulheres em parlamentos já sofreram algum tipo de violência relacionada a sua atuação política.
No Brasil, o desafio de ampliar a participação de mulheres na política ainda é grande, mas vale lembrar que nas últimas eleições registramos um avanço na participação de mulheres em sua diversidade, com o aumento da representação de mulheres indígenas, negras e trans, que têm trazido novas perspectivas para os debates em curso no Congresso Nacional.
Diversas experiências mostram que ter mais mulheres em espaços de poder contribui para menos conflitos, melhores condições de vida e mais igualdade, porque as discussões passam a refletir de forma mais precisa as aspirações das sociedades e aproveitam todas as capacidades disponíveis.
Recentemente, a vice-secretária-geral, Amina Mohammed, afirmou que a falta de mulheres nesses espaços explica, em grande parte, nossos baixos índices de desenvolvimento humano e os persistentes conflitos.
Não nos faltam instrumentos para resolver essa disparidade. No âmbito das Nações Unidas, temos a Declaração de Pequim, que determina a participação política equilibrada. Contamos com as recomendações do Comitê pela Eliminação da Discriminação contra Mulheres. E até a Agenda 2030, firmada por todos os 193 estados-membros, inclui um objetivo sobre igualdade de gênero, o número cinco, com uma meta específica para a promoção da liderança de mulheres nos espaços de tomada de decisão.
O que falta é transformar efetivamente os sistemas estabelecidos, as políticas públicas, e as nossas instituições. E, para isso, necessitamos de vontade política. Trago o caso da ONU como exemplo. Nossa instituição só atingiu a paridade de gênero nos postos de representação da ONU, os mais altos nos países, com a chegada de uma liderança corajosa, que é o nosso atual Secretário-Geral. Ele conseguiu, pela primeira vez nos mais de 70 anos da ONU, ter metade desses postos ocupados por mulheres – e não foi nada difícil encontrar mulheres preparadas e comprometidas para desempenhar essas funções.
Me dá muita satisfação compartilhar este espaço de debate com tantas mulheres parlamentares, pois sabemos que sua presença nas esferas de tomada de decisão inspira, incentiva e promove a participação e o compromisso de outras mulheres na política.