ARTIGO: Segurança alimentar e resiliência climática - um vínculo essencial para o futuro
28 janeiro 2025
A pandemia de COVID-19 deixou profundas cicatrizes, exacerbando desigualdades estruturais e enfraquecendo os sistemas de produção e distribuição de alimentos.
A segurança alimentar está intrinsecamente ligada à resiliência climática. Para garantir um futuro sem fome, é essencial promover práticas agrícolas sustentáveis que integrem alimentos nutritivos em dietas saudáveis, melhorem a produtividade e, ao mesmo tempo, mitiguem os impactos ambientais.
Artigo de Mario Lubetkin* publicado no jornal Correio Braziliense em 28 de dezembro de 2025.
![O Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição 2024, lançado em 27 de janeiro de 2025, informa que a América Latina e o Caribe registraram uma redução na prevalência de fome e insegurança alimentar, sendo a única região no mundo com essa tendência. Foto: Elizabeth Jean, da Cooperativa Agropecuária Gina Jaragua, em Higüey, Província de Altagracia, República Dominicana.](/sites/default/files/styles/featured_image/public/2025-01/FAO_Panorama2024.jpg?itok=sEe6KWyA)
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense.
A recente apresentação do relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2024 evidencia uma realidade incontestável: a América Latina e o Caribe encontram-se em um ponto crítico na luta contra a fome e a má nutrição. Embora, nos últimos dois anos, a fome na região tenha diminuído —de 45,3 milhões de pessoas em 2021 para 41 milhões em 2023—, o progresso é desigual e frágil. A situação entre sub-regiões é particularmente preocupante; um exemplo é o Caribe, onde a taxa de fome aumentou de 15,4% para 17,2%.
A pandemia de COVID-19 deixou profundas cicatrizes, exacerbando desigualdades estruturais e enfraquecendo os sistemas de produção e distribuição de alimentos. Somam-se a isso os impactos devastadores da variabilidade climática e dos eventos extremos, como secas, tempestades e inundações, que atualmente afetam 74% dos países da região de forma recorrente. Esses desafios persistentes não apenas reduzem a produtividade agrícola, mas também encarecem os alimentos, limitam sua disponibilidade e comprometem a estabilidade dos sistemas agroalimentares. Como resultado, as populações mais vulneráveis acabam pagando o preço mais alto.
A segurança alimentar está intrinsecamente ligada à resiliência climática. Para garantir um futuro sem fome, é essencial promover práticas agrícolas sustentáveis que integrem alimentos nutritivos em dietas saudáveis, melhorem a produtividade e, ao mesmo tempo, mitiguem os impactos ambientais. Isso inclui o cultivo de variedades resilientes ao clima, a adoção de tecnologias limpas e a proteção dos recursos naturais. Paralelamente, os programas de proteção social garantem que a população tenha acesso a alimentos nutritivos, especialmente em tempos de crise.
O processo de transformação na região, embora ainda enfrente desafios, tem demonstrado nos últimos anos um forte compromisso de trabalho conjunto para alcançar resultados mais sustentáveis e consistentes.
Há sinais concretos e encorajadores de que os governos da América Latina e do Caribe têm colocado a luta contra a fome e a pobreza como uma prioridade inadiável, uma necessidade que exige ações concretas para garantir o desenvolvimento sustentável. A fome é incompatível com a paz, o desenvolvimento, a produtividade e, evidentemente, a sustentabilidade.
O Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Plano SAN CELAC 2030) é um marco importante e representa uma valiosa plataforma para coordenar esforços, compartilhar conhecimentos e desenvolver estratégias conjuntas. A próxima Reunião de Ministros da Agricultura da CELAC 2025, que será realizada em Comayagua, Honduras, no início de fevereiro, será uma oportunidade para consolidar esses compromissos e avançar na implementação de políticas e ações que fortaleçam a segurança alimentar e melhorem a nutrição na região.
No entanto, os esforços governamentais, por si só, não são suficientes. É fundamental que sejam complementados pela participação e contribuições de múltiplos setores.
A luta contra a fome exige uma abordagem integrada que leve em conta não apenas a disponibilidade de alimentos, mas também sua acessibilidade, utilização e estabilidade em contextos de mudanças. Uma ampla colaboração entre diferentes atores é e continuará sendo essencial para construir sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis.
O processo da América Latina e do Caribe na redução da fome atravessa um momento histórico, com implicações não apenas para a região, mas para o mundo. A luta contra a fome tornou-se uma corrida contra o tempo. No entanto, esta região tem demonstrado potencial para se tornar um exemplo de resiliência, prosperidade e compromisso com os objetivos globais. Sua contribuição é fundamental para garantir um futuro mais justo e sustentável para todas e todos.
Como subdiretor-geral e representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, tive o privilégio de fazer parte desse caminho nos últimos anos. Porém, este trabalho não pertence a uma única pessoa ou organização: é um esforço coletivo, uma oportunidade para que cada um de nós contribua para um mundo sem desigualdades, sem fome, sem pobreza – e que não deixe ninguém para trás.
Para saber mais, siga @FAOBrasil nas redes e visite a página: https://www.fao.org/americas/publicaciones/panorama/2024/pt
![FAO](/sites/default/files/styles/thumbnail/public/2021-07/fao.png.png?h=938173fb&itok=oAz8rQrq)