Com apoio da ONU, coral de crianças no Rio pede um mundo melhor no Dia Mundial do Refugiado
22 junho 2015
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Vestidos de branco, meninos e meninas refugiados de diferentes países que vivem no Brasil cantaram a música Heal the World (“Cure o Mundo”), de Michael Jackson, junto com a atriz Letícia Sabatella para marcar o Dia Mundial do Refugiado, celebrado mundialmente em 20 de junho. As vozes das crianças do coral Coração Jolie ecoaram pelo Espaço Cultural Trem do Corcovado, no Rio de Janeiro, na ultima sexta-feira (19) para pedir paz e um mundo melhor.
O evento, que seria realizado no Cristo Redentor, teve que ser transferido devido ao mau tempo. Antes do início da apresentação do coro - que foi acompanhado pela Orquestra de Cordas da Grota, também formada por jovens - a pequena Veronia Gusaneb, do Sudão, emocionou os presentes com uma breve apresentação questionando até quando os refugiados terão que viver em condições tão adversas.
Em um português perfeito, Veronia transmitiu a mensagem de paz das 20 crianças participantes do coral, a maioria proveniente de países em conflito como a República Democrática do Congo, Afeganistão, Síria ou, como ela, das disputas que culminaram na divisão do seu país, o Sudão.
“Todos os anos, milhões de crianças são obrigadas a deixar suas casas, por causa da guerra. Muitas vivem em campos de refugiados, sem poder estudar ou brincar. Eu peço que vocês ajudem essas crianças que não tiveram a mesma sorte que eu. Este é um ato pela paz, feito por crianças que não querem mais saber o porquê de tudo isso. O que a gente quer saber é até quando”, disse.
O evento foi apresentado pela atriz Malu Mader e também contou com a presença do representante do Alto Comissariado da ONU Para Refugiados (ACNUR) no Brasil, Andrés Ramirez; o bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Luiz Henrique da Silva Brito; o secretário nacional de Justiça e presidente do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), Beto Vasconcelos; e a ONG IKMR.
Há dez anos, o número de deslocados era de 37,5 milhões. Ao final de 2014, essa cifra saltou para 59,5 milhões, alcançando um recorde. Essa projeção parece aumentar a cada dia. De 2013 para 2014, esse número cresceu em 8,3 milhões de pessoas, o maior já registrado em um único ano, segundo a nova edição do relatório Tendências Globais divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na quinta-feira (18).
Celebração da resiliência
As crianças do coral fazem parte do grupo que representa a maior parcela de refugiados no mundo. Ano passado, 19,5 milhões de pessoas foram forçadas a deixar seu país de origem por causa de conflitos (acima dos 16,7 milhões de 2013), sendo a metade delas formada por menores de 18 anos.
Com números tão alarmantes, Ramirez explicou que o motivo para tal celebração é a capacidade de resiliência das pessoas e sua capacidade de continuar lutando apesar das condições desfavoráveis.
“Todos os anos celebramos essa data e essa celebração no meio de uma grande tragédia humana parece até irônica. Mas celebramos a resiliência, a luta diária dos refugiados para sobreviver”, disse o representante do ACNUR. “Nos últimos cinco anos, o Brasil teve mais de 2000% de crescimento de solicitantes de refúgio. Esse crescimento é global e o Brasil não poderia ser uma exceção”, complementou, explicando que o desenvolvimento econômico do país, a organização de grandes eventos e a tradição humanitária e pacífica da nação serviram como fatores de atração como destino daqueles que buscam um recomeço.
De acordo o secretário nacional de Justiça e presidente do CONARE, Beto Vasconcelos, o Brasil registrava até outubro do ano passado, 7.289 refugiados reconhecidos, de 81 nacionalidades – incluindo refugiados reassentados. Apesar de haver se mantido estável de 2010 a 2012 (em torno de 4.000), a população de refugiados no Brasil vem crescendo de forma acelerada entre 2013 e outubro de 2014 (até outubro, quando passou de 5.256 para os mais de 7 mil atuais).
Além disso, também foram contabilizadas 8.302 solicitações solicitações de refúgio. A maioria delas da África, Ásia, Oriente Médio e América do Sul.
“Aqui no Brasil, onde temos uma tradição acolhedora e humanitária, ao final somos um país construído por migrações, construído por estrangeiros, temos certeza que é um momento de sensibilização da sociedade para que possamos todos juntos trabalhar na integração e na acolhida dessas pessoas de forma bastante humana”, disse Vasconcelos.
Mochila percorre continente americano com mensagens e presentes de crianças
O dia que celebrou a força e a coragem dos refugiados começou cedo, na Escola Municipal Friedenreich, localizada dentro do Estádio do Maracanã. No marco da campanha “A Volta ao Mundo em uma Mochila”, estudantes de 4 a 10 anos receberam a visita da mochila gigante que o ACNUR criou com o objetivo de percorrer diversos países do continente americano coletando mensagens e presentes simbólicos para as crianças vítimas de conflitos e guerras.
Os alunos foram convidados a colorir bonecas de pano doadas pelo ateliê Com Lola, que posteriormente serão enviadas a meninas e meninos sírios que estão em campos de refugiados da Jordânia.
A atividade, que contou com a presença do represente do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez, e foi organizada em parceria com a Cáritas do Rio de Janeiro, inaugurou a campanha "A Volta ao Mundo em uma Mochila" no país.
Ao final do evento, foram recolhidas cerca de 400 bonecas, que levarão um pouco de cor, carinho e solidariedade às jovens vítimas da guerra na Síria. Um presente de criança para criança. Mensagens como "paz", "amor" e até recados como "espero que você volte para casa" emocionaram os organizadores.
"Mais do que doar um brinquedo, as crianças puderam produzi-lo e, nesse processo, colocaram um pouco do coração delas", comentou Aline Thuller, coordenadora do programa de refugiados da Cáritas RJ. "Nesses tempos de ódio, violência e xenofobia, é muito positivo poder sentar com as crianças e discutir como é bom conviver com o diferente", disse Thuller.
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