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Refugiada síria dá aula a jovens refugiados na Malásia

21 novembro 2016

"Quero agradecer à Malásia por ter dado um futuro a mim e aos meus filhos." Foto: ACNUR/Ted Adnan.
Legenda: "Quero agradecer à Malásia por ter dado um futuro a mim e aos meus filhos." Foto: ACNUR/Ted Adnan.





A refugiada Lujain* sabe o que é se sentir impotente. Ela foi forçada a deixar sua casa na Síria há quatro anos, mas aproveitou as oportunidades na Malásia, país no qual se refugiou, e agora trabalha para capacitar outros migrantes por meio da educação.



Apesar de ter nascido de pais refugiados palestinos no campo de Yarmouk, em Damasco, Lujain esperava um futuro brilhante enquanto crescia. “Tínhamos casa, carro, tudo que um cidadão sírio tinha”, lembra-se. “E mesmo que eu não fosse síria, eu podia ir à escola de graça”.



O sistema de educação inclusiva permitiu-lhe graduar-se na Universidade de Damasco com um diploma em filosofia e psicologia. Planos para um mestrado e doutorado foram temporariamente interrompidos quando ela se casou com um contador sírio e teve dois filhos. Foi então que a guerra começou, obrigando-os a fugir para a Malásia em 2012.



“Eu não achei que seria uma refugiada novamente”, diz a mãe de 32 anos. “Quero agradecer à Malásia por ter dado um futuro a mim e aos meus filhos. Aqui a vida não é fácil, porque você tem que trabalhar duro para sobreviver. Eu era uma dona de casa com uma boa vida na Síria. Agora eu sou professora de alunos refugiados”.



Foi um começo desafiador, já que ela teve que aprender inglês do zero em apenas alguns meses. Mas Lujain adora ensinar e está usando suas habilidades em psicologia em um centro de aprendizagem administrado pelo Instituto de Pesquisa Social da Malásia, uma ONG local.



“Às vezes, vejo alunos desobedientes ou com comportamentos agressivos por causa de problemas em seu país ou em casa”, diz ela, sobre sua classe de 1ª série. “Tento compreendê-los e incentivar o bom comportamento com elogios e recompensas”.



Relatório publicado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em setembro destacou a crise na educação de refugiados, observando que mais da metade das 6 milhões de crianças em idade escolar sob seu mandato não têm acesso à escola. Na Malásia, existem cerca de 21.700 crianças refugiadas em idade escolar. Somente 30% têm acesso à educação em centros informais de aprendizado semelhantes ao que Lujain é voluntária.



Lujain mantém contato com os alunos que avançaram para as séries seguintes e que ainda se aproximam dela para solucionar dúvidas que os pais não podem responder. “Me sinto feliz e confiante quando vejo meus alunos aprendendo e melhorando. Eles não sabiam inglês, e agora já leem histórias e conversam. Eu quero ajudar aqueles que têm dificuldades. Até mesmo os pais me chamam em casa às vezes para perguntar sobre isso e aquilo porque posso explicar em árabe”.



Ela espera que seus alunos eventualmente obtenham o Certificado Geral Internacional de Ensino Médio oferecido no centro de aprendizagem, com o qual podem se candidatar a vagas em universidades na Malásia e em outros locais.



“As crianças são a nova geração. Eles precisam de educação para conseguir bons empregos e se tornarem bons cidadãos. Quando crescerem, também precisarão ensinar seus próprios filhos. A educação não pode parar com a idade. Somente quando aprendemos mais é que seremos úteis a nosso país e a quem precisar de ajuda”.



*Nome alterado por razões de proteção



[caption id="attachment_114177" align="aligncenter" width="1024"]Há cerca de 21.700 crianças refugiadas em idade escolar na Malásia. Apenas 30% têm acesso à educação em centros comunitários informais de aprendizagem como este. Foto: ACNUR/Ted Adnan Há cerca de 21.700 crianças refugiadas em idade escolar na Malásia. Apenas 30% têm acesso à educação em centros comunitários informais de aprendizagem como este. Foto: ACNUR/Ted Adnan[/caption]