Curso qualifica profissionais da ONU Brasil a priorizar mulheres negras no desenvolvimento sustentável
29 julho 2020
Provocada pela necessidade de encontrar soluções para garantir que as mulheres negras estejam no centro das ações para o desenvolvimento sustentável no Brasil, a equipe de profissionais do Sistema das Nações Unidas no Brasil participou no fim de outubro (19) em Brasília (DF) da primeira aula da Jornada Formativa Mulheres Negras Rumo a Um Planeta 50-50 em 2030.
O curso foi elaborado com parte da estratégia de comunicação e advocacy político da ONU Mulheres, denominada “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50", e se tornou uma realização da ONU Brasil sob a coordenação da ONU Mulheres no âmbito do Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia.
A formação também conta com apoio da Rede de Recursos Humanos e do Grupo Assessor da Agenda 2030. O objetivo das jornadas formativas é preparar as funcionárias e os funcionários da ONU Brasil no país para garantir que as dimensões de gênero e raça e o combate ao racismo sejam centrais nos programas e projetos no contexto da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. A ação tem como base o princípio de não deixar ninguém para trás, centrando esforços em quem sofre mais discriminação.
“As estatísticas demostram claramente que há uma desigualdade importante no Brasil e problemas estruturais relacionados ao racismo. E, como Nações Unidas, não podemos fazer outra coisa além de tolerância zero ao racismo e seus efeitos", disse o coordenador-residente da ONU no Brasil, Niky Fabiancic, na abertura do curso. "A jornada é muito importante para abordar o tema de desigualdades de maneira ampla. Refletimos como podemos promover mudanças em políticas que vão corrigir essas desigualdades que são marcantes no país”, completou.
De acordo com Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil e presidente do Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia, a jornada é um espaço para que as Nações Unidas possam se aprimorar para implementação do Marco de Parceria das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (UNSDPF 2017 – 2021), que incorpora os compromissos para concretizar a Década Internacional de Afrodescendentes 2015 – 2024.
“As afro-brasileiras são 55,6 milhões, 25% da população. Precisamos conhecer as realidades para estruturar ações de impacto e capacidade de resposta para enfrentar o racismo, o machismo e as violações dos direitos humanos das mulheres negras", declarou Nadine. "A jornada formativa é para reflexão quanto ao nosso trabalho diário para alcançar as metas para o desenvolvimento, como nos comprometemos com o país, atendendo as mulheres negras como um dos grupos em situação de maior vulnerabilidade como resultado do racismo e sexismo e não podem ficar para trás”, completou.
Mulheres negras e Agenda 2030
Para abrir a série de encontros, a socióloga e professora universitária Valdecir Nascimento, secretária-executiva da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), apresentou exemplos práticos para ilustrar a necessidade de que as ações para o cumprimento da Agenda 2030 compreendam todas as especificidades das afro-brasileiras.
“Se as mulheres negras não forem centrais, não tem desenvolvimento sustentável. No Brasil e no mundo, são elas que estão na base da pirâmide. Para reformular o mundo e garantir direitos humanos, é fundamental que as mulheres sejam o centro da política”, pontuou.
Valdecir destacou como um passo positivo a relação da ONU com o Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, formado por integrantes do movimento de mulheres negras, que apoia a implementação de estratégia de comunicação e advocacy político homônima da ONU Mulheres.
“Sabemos que só mobilizar as mulheres negras ainda não é suficiente. Também precisamos mobilizar as instâncias de governo, sociedade civil, empresas e outras agências da ONU para que a gente possa ganhar espaço e efetividade na implementação da Agenda de Desenvolvimento. Essa parceria com as Nações Unidas nos coloca em lugar estratégico para que os outros nos escutem”, concluiu.
Qualificação e aperfeiçoamento profissional
Até outubro de 2018, os profissionais da ONU Brasil terão encontros mensais já planejados com especialistas nacionalmente reconhecidas pela produção acadêmica e atuação no movimento negro brasileiro.
Os temas que sustentam a atividade são resultado da implementação local dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Manifesto da Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo a Violência e Pelo Bem Viver. A proposta é que seja uma ação de mais longo prazo e que novas rodadas sejam propostas para o futuro.
Nas conferências, as palestrantes vão propor que as Nações Unidas encontrem soluções para o alcance das metas para o desenvolvimento sustentável considerando tópicos como combate ao feminicídio negro, eliminação do racismo nas cidades, representação das mulheres negras nos meios de comunicação, na economia e no mercado de trabalho, racismo institucional e saúde da população negra, racismo e democracia paritária, mulheres negras e encarceramento, segurança alimentar e nutricional, etnobotânica e biodiversidade, educação etnicorracial, comunidades tradicionais quilombolas e de matriz africana.
Confira aqui a agenda da Jornada Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030.