Refugiado consegue emprego em Brasília e tenta retomar vida longe da guerra na Síria
10 janeiro 2018
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No momento em que Ahmed percebeu que a única chance de salvar sua vida seria fugir do conflito na Síria, jamais imaginou que chegaria ao Brasil e conseguiria um emprego como técnico em uma empresa de transporte público em Brasília (DF).
Ahmed é engenheiro elétrico e refugiado sírio, e vive no Brasil desde 2014. Assim que chegou, foi em busca de um lugar em que pudesse trabalhar.
Viveu por um mês no Rio de Janeiro, onde trabalhou como garçom. Decidiu ir para Brasília, onde, com a ajuda do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) — instituição parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) —, conseguiu um emprego na Expresso São José, uma empresa de ônibus do Distrito Federal.
“Inicialmente, a vaga era para ser lavador de ônibus. Só que eles acharam que eu tinha mais qualificações do que as necessárias para esse cargo, e preferiram me colocar na manutenção elétrica”, conta Ahmed.
Apesar de sua capacitação, ele não tinha tanta certeza sobre sua habilidade com português. No entanto, seus colegas e supervisores o incentivaram a seguir em frente. “Achei um desafio, mas eles contaram comigo e diziam ‘a gente acredita em você, e você vai conseguir'’”, conta ele, agora em português fluente.
A técnica em segurança do trabalho Ana Amélia Costa conta que no início os refugiados sírios que entravam em contato com ela utilizavam o aplicativo Google Tradutor. Segundo ela, a dificuldade na comunicação com Ahmed e outros refugiados e migrantes que trabalham na Expresso São José acabou despertando uma necessidade positiva.
“Me despertou a vontade de estudar inglês de novo, porque senti essa necessidade de ter o contato com eles, de estar mais próxima, de poder ajudar”, revela. Segundo Ahmed, depois que conseguiu se comunicar, não se sentia mais um refugiado. “Sinto que estou fazendo mesmo parte dessa cultura, desse povo”, revela.
Com o português cada vez mais afiado, a integração com os colegas ficou mais fácil. Um dos melhores amigos de Ahmed na empresa é o Josivalde Bessa, que também é eletricista. Segundo ele, “foi amizade à primeira vista”.
O colega avalia que o convívio com Ahmed é uma oportunidade enriquecedora. “Admiro muito o fato de ele ter saído do país dele, com graduação em engenharia elétrica, para vir trabalhar aqui comigo, que nem sou formado. Sou eletricista, e ele veio trabalhar como meu auxiliar”, conta Josivalde.
Segundo o diretor da Expresso São José, Adriel Lopes, a contratação de migrantes e refugiados é também uma oportunidade de permitir que os funcionários brasileiros tenham acesso a diferentes realidades e contextos culturais.
Ele entende que pessoas como Ahmed são exemplos de resiliência e força, e isso pode ser motivacional para os colegas. Dessa forma, ao realizar a contratação dos recém-chegados, a empresa se beneficia e, ao mesmo tempo, contribui para o processo de integração.
Adriel assistiu a uma reportagem sobre refugiados na televisão e decidiu procurar o IMDH para verificar a possibilidades de contratação. Ele conversou com a Irmã Rosita Milesi, diretora instituto, e acabou conhecendo o Ahmed.
O instituto tem um setor voltado somente para a empregabilidade de migrantes no DF e região. Segundo Irmã Rosita, o trabalho, além de ser uma oportunidade de realização do próprio ser humano, é também um grande instrumento de integração na comunidade. Ela afirma que as empresas têm se demonstrado satisfeitas ao acolher migrantes e refugiados em seus quadros.
Ahmed finalmente sente que sua vida está num rumo promissor. Ele casou com uma brasileira, tem uma filha, conseguiu a revalidação de seu diploma pela Universidade de Brasília e, com otimismo, já faz planos para o futuro.
“Sou muito grato pela oportunidade que me deram na Expresso São José, e espero que em breve consiga trabalhar na minha área”, afirmou.
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