Retrospectiva da FAO em 2020: um ano de engajamento global para construir um mundo melhor
13 janeiro 2021
- Um ano decisivo para qualquer medida, 2020 arriscou prejudicar grande parte da agenda construída com base no envolvimento institucional de diversas organizações. Mas ao contrário do que se esperava, acelerou o esforço colaborativo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e ampliou sua visibilidade global.
- Como nunca em seus 75 anos de história, a FAO teve que atuar como impulsionadora e convocadora durante uma crise global que ameaçava transformar os sistemas agroalimentares mundiais no caos. A pandemia da COVID-19, e as restrições e medidas associadas a ela, revelaram a fragilidade de milhões de meios de subsistência, tanto rurais como urbanos, e a situação precária de muitos agricultores anônimos, pequenos proprietários e comerciantes do mercado informal.
Um ano decisivo para qualquer medida, 2020 arriscou prejudicar grande parte da agenda construída com base no envolvimento institucional de diversas organizações. Mas ao contrário do que se esperava, acelerou o esforço colaborativo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e ampliou sua visibilidade global.
Como nunca em seus 75 anos de história, a FAO teve que atuar como impulsionadora e convocadora durante uma crise global que ameaçava transformar os sistemas agroalimentares mundiais no caos. A pandemia da COVID-19, e as restrições e medidas associadas a ela, revelaram a fragilidade de milhões de meios de subsistência, tanto rurais como urbanos, e a situação precária de muitos agricultores anônimos, pequenos proprietários e comerciantes do mercado informal.
Resposta à pandemia
Já em março, quando os bloqueios começaram a aparecer, a FAO lançou apelos para manter os portos e fronteiras abertos para o comércio vital de alimentos. Nas semanas seguintes, foi implantado e firmado um trabalho de advocacy para alcançar este objetivo.
Em 30 de março, o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, emitiu uma declaração conjunta com os diretores-gerais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial do Comércio (OMC), Tedros Adhanom Ghebreyesus e Roberto Azevêdo respectivamente, alertando que “em meio aos bloqueios da COVID-19, todos os esforços devem ser feitos para garantir que o comércio flua da forma mais livre possível, especialmente para evitar a escassez de alimentos. Da mesma forma, também é fundamental que os produtores e trabalhadores a nível de processamento e varejo sejam protegidos para minimizar a propagação da doença neste setor e manter as cadeias de abastecimento de alimentos”.
Algumas semanas depois, outra declaração conjunta, desta vez com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Programa Mundial de Alimentos (WFP) e o Banco Mundial, pediu aos líderes do G20 que tomassem medidas para enfrentar os impactos da pandemia à segurança alimentar e nutricional.
Em abril, uma reunião online de Qu com 45 ministros da agricultura da África destacou as vulnerabilidades peculiares do continente. Com base nesse alcance inicial, a Organização formulou em meados de 2020 um Programa de Resposta e Recuperação à COVID-19, que pediu financiamento para uma estratégia multifacetada, que varia de ação humanitária a disposições de longo prazo, como uma abordagem “Uma Saúde” (“One Health”), melhores dados para a tomada de decisão, aumento da resiliência para os agricultores e prevenção do próximo surto zoonótico.
"Não podemos mais empregar uma abordagem de negócios ‘como de costume’. Devemos trabalhar muito para limitar os efeitos prejudiciais da COVID-19 na segurança alimentar e nutricional. Precisamos ser mais orientados para os países, inovar e trabalhar em estreita colaboração", disse o diretor-geral da FAO durante o lançamento do Programa em julho.
Ao longo do ano, o chefe da FAO conseguiu ampliar o apoio de ministros de governo de todo o mundo – incluindo 25 ministros da agricultura da América Latina e do Caribe – para declarar a alimentação e a agricultura como “serviços essenciais” durante qualquer período de bloqueio.
Parceria para transformação sistêmica
Sempre orientado pelos objetivos dos “quatro melhores” (“four betters”) – melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e uma vida melhor –, o diretor-geral da FAO se dirigiu ao grupo de países do G20 quatro vezes em 2020, incluindo o encontro extraordinário da Cúpula de Líderes do G20 sobre a COVID-19, em março, e a Cúpula de Líderes do G20, virtualmente hospedada pelo Reino da Arábia Saudita em novembro.
"É essencial que o G20 continue trabalhando para evitar que esta crise de saúde se transforme em uma crise alimentar global. O G20 é muito importante globalmente a nível de política, coordenação e liderança para desenvolver um mundo inclusivo, resiliente e sustentável, liderando o investimento responsável, estimulando políticas, inovação e capacitação", disse o diretor-geral na Cúpula de Líderes, destacando a importância de aumentar a produtividade dos agricultores e investir em inovação digital.
Em setembro, Qu se dirigiu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas pela segunda vez, quando forneceu uma atualização sobre a situação da segurança alimentar em vários países ao redor do mundo, destacando a ligação entre conflito e insegurança alimentar. Ele foi acompanhado pelos chefes do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e do WFP.
Também em setembro, o diretor-geral transmitiu a visão e as ações da FAO relacionadas à biodiversidade e ao clima à Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA, na sigla em inglês).
Em nome de várias agências da ONU e representando o sistema das Nações Unidas, o diretor-geral da FAO participou do ‘Diálogo de Líderes sobre como integrar as questões da biodiversidade em um esforço mais amplo para o desenvolvimento sustentável’, que fez parte da Cúpula das Nações Unidas sobre Biodiversidade. Em um painel co-presidido pela Chanceler Angela Merkel, da Alemanha, e pelo Primeiro Ministro Imran Khan, do Paquistão, ele emitiu uma mensagem clara: A perda da biodiversidade prejudica os esforços globais para combater a pobreza e a fome – sem biodiversidade, sem diversidade alimentar.
Durante a UNGA, a FAO também lançou a Iniciativa Cidades Verdes e seu Programa de Ação. O objetivo da iniciativa é melhorar o bem-estar das pessoas através do aumento da disponibilidade e do acesso a produtos e serviços verdes fornecidos por espaços verdes, indústrias verdes, economia verde e estilo de vida verde – incluindo integração de silvicultura urbana e periurbana, pesca, horticultura e agricultura – e através de sistemas agroalimentares sustentáveis.
No início de dezembro, Qu se tornou o primeiro diretor-geral da FAO a se dirigir ao Parlamento Europeu. Ele ressaltou que os sistemas agroalimentares sustentam a vida de mais da metade da população mundial. Transformá-los era essencial, disse Qu, para tirar a humanidade, de maneira duradoura e sustentável, da pobreza e da fome. A curto prazo, ele deu ênfase especial à necessidade de medidas de proteção social para ajudar os mais vulneráveis em alguns dos tempos mais difíceis vistos em décadas.
Este ano também se intensificou o relacionamento com a Itália. O país anfitrião da FAO presidirá o G20 em 2021, em meio a promessas de colocar as questões de segurança alimentar no topo da agenda.
Foi por sugestão da Itália que, em novembro, Qu se reuniu com o primeiro-ministro Giuseppe Conte, com a vice-primeira-ministra da Holanda, Carola Schouten, e dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus e Tawakkol Karman, para lançar a Coalizão Alimentar. Oficialmente designada como uma “aliança de múltiplas partes interessadas”, a Coalizão também foi descrita como uma “rede de redes” para fortalecer os sistemas agroalimentares. Ela atraiu o interesse de mais de 30 países em um esforço para aumentar a conscientização, mobilizar recursos financeiros e perícia técnica e obter inovação e conhecimento para apoiar os mais necessitados.
No início de 2020, antes que os eventos internacionais mudassem em grande parte para a Internet, Qu se juntou aos CEOs de gigantes da tecnologia no Vaticano para assinar o "Chamado de Roma por ética na IA". A Santa Sé convocou a reunião para endossar princípios comuns que salvaguardam a dignidade humana e a privacidade nas aplicações de inteligência artificial em todos os campos, incluindo o setor alimentar. A presença da FAO tornou o evento a primeira demonstração de governança colaborativa para fornecer bens públicos essenciais.
Mão-à-Mão (Hand-in-Hand) por um futuro digital com segurança alimentar
Um dos projetos mais importantes de Qu logo após assumir o cargo, a iniciativa Mão-à-Mão (Hand-in-Hand) – uma plataforma de "combinação" entre nações doadoras e beneficiárias em busca de metas de segurança alimentar personalizadas – deu um salto qualitativo este ano. Uma plataforma geoespacial conectada com a iniciativa ganhou vida em julho: repleta de dados ricos e compartilháveis sobre agroecologia, água, terra e solo, a plataforma apoia governos e outros a fazer políticas informadas e baseadas em evidências.
“As tecnologias geoespaciais e os dados agrícolas representam uma oportunidade para encontrar novas formas de reduzir a fome e a pobreza através de soluções baseadas em dados mais acessíveis e integrados”, disse o diretor-geral durante o lançamento da plataforma.
"A plataforma geoespacial serve como um bem público digital para criar mapas de dados interativos, analisar tendências e identificar lacunas e oportunidades em tempo real", acrescentou.
Em setembro, a Plataforma Geoespacial foi ampliada através de um Mapa da Terra, lançado em parceria com o Google, que permite a qualquer pessoa com acesso básico à Internet acessar informações críticas climáticas, ambientais e agrícolas.
Em 2020, a FAO também trabalhou na Plataforma Internacional para Alimentação e Agricultura Digital. O plano do projeto o descreve como um mecanismo de coordenação consensual flexível, com a tarefa de estabelecer estruturas normativas para a digitalização da agricultura mundial.
Foi com o mesmo espírito que, no final de novembro e início de dezembro, na 165ª sessão do Conselho de Administração da FAO, Qu apresentou a iniciativa “1.000 Vilas Digitais”. Apoiada, entre outros, pela Microsoft, IBM e pela Fundação Bill e Melinda Gates, a iniciativa tem como objetivo identificar uma massa crítica de comunidades em todo o mundo, programadas para a agricultura “conectada”, com comércio eletrônico e oportunidades de marketing destinadas a integrar os pequenos proprietários e agricultores em cadeias de valor lucrativas.
Apoio financeiro sinaliza confiança
O envolvimento pró-ativo da FAO ao longo de 2020 tem recebido um apoio consistente de doadores.
O Programa de Resposta e Recuperação à COVID-19 arrecadou quase US$ 200 milhões de financiamento até o momento. Outros US$ 200 milhões foram levantados pela FAO para ajudar os países afetados a combater as pragas de gafanhotos do deserto. A crescente carteira do Fundo Verde para o Clima da FAO é agora composta por 13 projetos que totalizam US$ 793 milhões em financiamento, ajudando os países a enfrentar a crise climática, e abrindo caminho para um futuro mais verde e mais limpo.
Além disso, a FAO é agora uma das três principais agências de implementação de projetos financiados pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). A carteira FAO-GEF está avaliada em mais de US$ 1,1 bilhão em fundos de doações.
Em setembro, o presidente chinês Xi Jinping prometeu mais US$ 50 milhões em financiamento para apoiar os esforços de Cooperação Sul-Sul (SSC) da FAO. O financiamento da Fase III do programa vem após uma contribuição total de US$ 80 milhões para as duas primeiras fases.
“Com a confiança cada vez maior de nossos integrantes e parceiros, e cheios de determinação e dedicação, seguiremos trabalhando de mãos dadas, para o dia em que a fome seja apenas uma nota de rodapé nos livros de história!” disse o diretor-geral ao Conselho da FAO.