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Falta de inovação em antibióticos abre espaço para superbactérias, alerta OMS

15 abril 2021

  • O mundo ainda não está conseguindo desenvolver tratamentos antibacterianos necessários, apesar da crescente conscientização sobre a ameaça urgente da resistência aos antibióticos, de acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).
  • A OMS revela que nenhum dos 43 antibióticos que estão atualmente em desenvolvimento clínico abordam suficientemente o problema da resistência das 13 bactérias mais perigosas do mundo aos medicamentos.
  • Quase todos os novos antibióticos lançados no mercado nas últimas décadas são variações das classes de antibióticos descobertos na década de 1980. O pequeno retorno sobre o investimento de antibióticos bem-sucedidos limitou o interesse dos principais investidores privados e da maioria das grandes empresas farmacêuticas.
superbactérias
Legenda: Nenhum dos 43 antibióticos que estão em desenvolvimento clínico abordam suficientemente o problema da resistência das bactérias mais perigosas do mundo aos medicamentos.
Foto: © CDC

O mundo ainda não está conseguindo desenvolver tratamentos antibacterianos necessários, apesar da crescente conscientização sobre a ameaça urgente da resistência aos antibióticos, de acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS revela que nenhum dos 43 antibióticos que estão atualmente em desenvolvimento clínico abordam suficientemente o problema da resistência das bactérias mais perigosas do mundo aos medicamentos.

“A falha persistente em desenvolver, fabricar e distribuir novos antibióticos eficazes está alimentando ainda mais o impacto da resistência antimicrobiana e ameaça nossa capacidade de tratar infecções bacterianas com sucesso”,

 

Hanan Balkhy, diretora-geral assistente da OMS para a resistência antimicrobiana.

Quase todos os novos antibióticos lançados no mercado nas últimas décadas são variações das classes de antibióticos descobertos na década de 1980.

O impacto da resistência antimicrobiana é mais grave em ambientes com recursos limitados e entre grupos vulneráveis, como recém-nascidos e crianças pequenas. Pneumonia bacteriana e infecções da corrente sanguínea estão entre as principais causas de mortalidade em crianças abaixo de 5 anos. Aproximadamente 30% dos recém nascidos com infecção no sangue morrem devido à resistência a vários antibióticos de primeira linha.

Descobertas do relatório - O relatório anual “Antibacterial Pipeline” da OMS analisa os antibióticos que estão nos estágios clínicos de teste, bem como aqueles em desenvolvimento inicial. O objetivo é avaliar o progresso e identificar lacunas em relação às ameaças urgentes de resistência aos medicamentos e encorajar ações para preencher essas lacunas.

O documento avalia o potencial dos antibióticos candidatos para lidar com as bactérias resistentes mais ameaçadoras, descritas na Lista de Patógenos Bacterianos Prioritários da OMS (WHO PPL). Essa lista, que inclui 13 bactérias resistentes a medicamentos prioritárias, tem informado e orientado áreas prioritárias para pesquisa e desenvolvimento desde sua primeira publicação, em 2017.

antibióticos na farmácia
Legenda: O pequeno retorno sobre o investimento das pesquisas limitou o interesse dos principais investidores privados e da maioria das grandes empresas farmacêuticas em desenvolver novas fórmulas.
Foto: © Shutterstock

O relatório de 2020 revela uma linha de pesquisa quase estática, com apenas alguns antibióticos sendo aprovados por agências regulatórias nos últimos anos. A maioria desses agentes em desenvolvimento oferece benefício clínico limitado em relação aos tratamentos existentes. 82% dos antibióticos aprovados recentemente são derivados de classes de antibióticos existentes com resistência aos medicamentos bem estabelecida. Portanto, é esperado um rápido surgimento de novos agentes com resistência aos novos medicamentos.

A revisão conclui que “em geral, o trabalho de investigação clínica e os antibióticos aprovados recentemente são insuficientes para enfrentar o desafio do aumento da emergência e da disseminação da resistência antimicrobiana”.

Soluções inovadoras fora do caminho tradicional - A falta de progresso no desenvolvimento de antibióticos destaca a necessidade de explorar abordagens inovadoras para tratar infecções bacterianas. O relatório de 2020 da OMS pela primeira vez inclui uma visão integral dos medicamentos antibacterianos não tradicionais. Destaca 27 agentes antibacterianos não tradicionais, variando de anticorpos para bacteriófagos e terapias que apoiam a resposta imunológica do paciente e enfraquecem o efeito da bactéria.

Altas taxas de falha e impacto na dinâmica do mercado - O relatório observa que existem alguns produtos promissores em diferentes estágios de desenvolvimento. No entanto, apenas uma fração deles chegará ao mercado devido aos desafios econômicos e científicos inerentes ao processo de desenvolvimento de medicamentos. Isso, junto com o pequeno retorno sobre o investimento de antibióticos bem-sucedidos limitou o interesse dos principais investidores privados e da maioria das grandes empresas farmacêuticas.

O relatório confirma que as pesquisas pré-clínicas e clínicas continuam sendo conduzidas por empresas de pequeno e médio porte. Essas empresas geralmente lutam para financiar seus produtos até os estágios finais do desenvolvimento clínico ou até que a aprovação regulamentar seja obtida.

Oportunidade da COVID-19 - A crise da COVID-19 aprofundou a compreensão global sobre as implicações econômicas e de saúde de uma pandemia descontrolada. Também acentuou as lacunas no financiamento sustentável para lidar com esses riscos, incluindo investimentos em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos antimicrobianos e vacinas, revelando ao mesmo tempo que progresso rápido pode ser feito quando há vontade política e iniciativa suficientes.

“As oportunidades emergentes da pandemia COVID-19 devem ser aproveitadas para trazer à tona as necessidades de investimentos sustentáveis em pesquisa e desenvolvimento de antibióticos novos e eficazes”, afirmou o diretor da Coordenação Global de resistência antimicrobiana da OMS, Haileyesus Getahun.

“Os antibióticos apresentam o calcanhar de Aquiles para a cobertura universal de saúde e nossa segurança de saúde global. Precisamos de um esforço global sustentado, incluindo mecanismos para financiamento conjunto e investimentos adicionais para atender à magnitude desta ameaça”.

 

Haileyesus Getahun, diretor da Coordenação Global de resistência antimicrobiana da OMS.

Iniciativas globais - Para resolver as lacunas de financiamento e impulsionar investimentos sustentáveis no desenvolvimento de antibióticos, a OMS e sua parceira Drugs for Neglected Diseases (DNDi) estabeleceram a iniciativa Global Antibiotic R&D Partnership (GARDP) para desenvolver alguns dos tratamentos inovadores que estão incluídos no relatório. Além disso, a Organização tem trabalhado em estreita colaboração com outros parceiros financiadores sem fins lucrativos para impulsionar e acelerar a pesquisa antibacteriana.

Outra nova iniciativa importante é o AMR Action Fund, uma parceria que foi criada por uma coalizão entre empresas farmacêuticas filantrópicas e Banco Europeu de Investimento, com o apoio da OMS. Esta iniciativa visa fortalecer e acelerar o desenvolvimento de antibióticos por meio de financiamento global em grupo. Espera-se que o Fundo desempenhe um papel importante para garantir que os produtos mais inovadores e promissores recebam o financiamento necessário.

 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OMS
Organização Mundial da Saúde

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa