Em Assembleia Mundial da Saúde, ONU e OMS defendem plano global para as vacinas
24 maio 2021
- A pandemia da COVID-19 deve ser um "ponto de virada”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. Ele instou os países-membros a tomarem decisões ousadas agora para acabar com a crise e construir um futuro seguro e saudável para todos.
- A fala foi feita em uma mensagem de vídeo para a Assembleia Mundial da Saúde, principal instância decisória da Organização Mundial da Saúde (OMS), que começou na segunda-feira (24).
- Na ocasião, tanto Guterres quando o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, voltaram a apelar por uma distribuição equitativa da vacina. Os dirigentes da ONU alertaram contra os perigos de “uma resposta global em duas velocidades”. O diretor da OMS pressionou os países a vacinarem pelo menos 10% da população global até setembro.
- Segundo Tedros, o mundo segue em uma situação "muito perigosa" e nenhum país, independentemente das taxas de vacinação, deve presumir que está "livre do problema”. Ele acrescentou que, embora nenhuma das variantes da COVID-19 tenha prejudicado significativamente as vacinas atuais, o vírus está em constante mutação.
A pandemia da COVID-19 deve ser um “ponto de virada”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, instando os países a tomarem decisões ousadas agora para acabar com a crise e construir um futuro seguro e saudável para todos. A fala foi feita em uma mensagem de vídeo para a Assembleia Mundial da Saúde, o órgão de tomada de decisões da Organização Mundial da Saúde (OMS), que começou na segunda-feira (24).
A 74ª. sessão da Assembleia conta com delegações de todo o mundo e está aberta a membros e observadores associados da OMS. Foram convidados representantes da ONU e outras organizações internacionais assim como agentes não-estatais. A reunião acontece de 24 de maio a 1 de junho.
Durante seu discurso, Guterres voltou a alertar contra os perigos de “uma resposta global em duas velocidades”.
“Infelizmente, a menos que ajamos agora, enfrentaremos uma situação em que os países ricos vacinam a maioria de sua população e abrem suas economias, enquanto o vírus continua a causar profundo sofrimento circulando e sofrendo mutações nos países mais pobres”, disse.
“Mais picos e ondas podem ceifar centenas de milhares de vidas e travar a recuperação econômica global”, acrescentou.
Ação no acesso à vacina - O chefe da ONU pediu uma ação coordenada em três áreas que abrirão o caminho para a recuperação e um futuro sustentável para as pessoas e o planeta, começando pela solidariedade para deter o vírus.
“Os líderes mundiais devem avançar urgentemente com um plano global para o acesso equitativo às vacinas, testes e tratamentos contra a COVID-19”,
António Guterres, secretário-geral da ONU
Acrescentando que “estamos em guerra com um vírus”, Guterres reiterou seu apelo para que as nações do G20 estabeleçam uma força-tarefa “capaz de lidar com as empresas farmacêuticas e outras partes interessadas importantes”. O objetivo seria pelo menos dobrar a capacidade de fabricação de vacinas por meios como licenças voluntárias e transferência de tecnologia, além de financiar totalmente os mecanismos estabelecidos para a distribuição equitativa da vacina.
Reforçar os cuidados com a saúde - Em seu segundo ponto, o Guterres focou em impulsionar os cuidados primários e a cobertura universal da saúde.
“A COVID-19 não pode ser vista isoladamente dos problemas fundamentais dos nossos sistemas de saúde: desigualdade, subfinanciamento, complacência e negligência. Com os sistemas de atenção primária à saúde adequados, nos recuperaremos mais rapidamente desta pandemia e evitaremos a próxima antes que ela se estabeleça”, afirmou.
Mas, embora sistemas de saúde robustos sejam um começo, eles não são suficientes, acrescentou, e os países devem se preparar para a próxima emergência de saúde global.
Prepare-se para a próxima pandemia - O secretário-geral ressaltou o apoio às recomendações feitas pelo Painel Independente para a Preparação e Resposta à Pandemia, que este mês apelou pela reforma dos atuais sistemas de alerta.
Ele disse que o compromisso político de alto nível é necessário para transformar o sistema existente e que a OMS deve estar no centro da preparação global. A agência também deve ter recursos adequados e estar totalmente habilitada para fazer seu trabalho.
Situação muito perigosa - Em seu discurso à Assembleia, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, relatou que houve mais casos de COVID-19 até agora este ano do que em todo o ano de 2020.
“Quase 18 meses após o início da crise de saúde definidora de nossa época, o mundo continua em uma situação muito perigosa”, disse. “Seguindo as tendências atuais, o número de mortes ultrapassará o total do ano passado nas próximas três semanas”.
Independentemente das taxas de vacinação, “nenhum país deve presumir que está livre do problema”, acrescentou. E embora nenhuma das variantes da COVID-19 tenha prejudicado significativamente as vacinas atuais, o vírus está em constante mutação.
Vacinas: “Uma desigualdade escandalosa” - Tedros disse ainda que cada país pode fazer mais, inclusive aumentando a vigilância e a testagem, protegendo os profissionais de saúde e lutando contra a desinformação. Eles também podem implementar programas nacionais de vacinação e doar doses excedentes para a iniciativa de solidariedade global, COVAX.
Ele descreveu a atual crise da vacina como “uma injustiça escandalosa que está perpetuando a pandemia”, já que a maioria das doses, ou 75%, foi administrada em apenas 10 países.
“Não há maneira diplomática de dizer isso: um pequeno grupo de países que fazem e compram a maioria das vacinas do mundo controla o destino do resto do mundo”,
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
A COVAX enviou cerca de 72 milhões de doses para cerca de 125 países em desenvolvimento, mas essas vacinas representam apenas 1% de suas populações combinadas.
Milhões de doses necessárias - Tedros pressionou os países a vacinarem pelo menos 10% da população global até setembro, com tendência de atingir 30% até dezembro.
“Correr para nossa meta de setembro significa que devemos vacinar mais 250 milhões de pessoas em países de baixa e média renda em apenas quatro meses, incluindo todos os profissionais de saúde e os grupos de maior risco como primeira prioridade”, disse.
O diretor-geral da OMS também destacou uma proposta do Fundo Monetário Internacional (FMI) de vacinar 40% da população mundial até o final do ano e 60% até 2022. Discussões sobre como tornar essas metas viáveis estão sendo encaminhadas.
Tedros também saudou o compromisso dos países de doar doses, incluindo anúncios feitos pelos países do G20 em sua cúpula de saúde na última sexta-feira (21).
“Mas para atingir as metas de setembro e do final do ano, precisamos de centenas de milhões de doses a mais, precisamos que elas passem pelo COVAX e que comecem a ser movimentadas no início de junho”, disse ele.
O diretor da OMS instou os fabricantes de vacinas a garantir que os países possam compartilhar rapidamente suas doses por meio do COVAX. Eles também deveriam dar ao mecanismo a prioridade no direito de recusa sobre o novo volume de vacinas, ou comprometer 50% de seus volumes ao COVAX este ano.
“E precisamos que todos os países que recebem vacinas as usem o mais rápido possível. Nenhuma dose pode ficar ociosa ou, pior, ser jogada fora”, disse ele.
“O resultado final é que precisamos de muito mais doses, precisamos delas rapidamente e não devemos deixar pedra sobre pedra para obtê-las”,
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
Homenagem a profissionais da saúde - Tanto o secretário-geral quanto o chefe da OMS dedicaram partes de seus discursos para homenagear os profissionais de saúde do mundo todo.
Tedros abriu seu discurso com histórias de alguns desses profissionais, que “se colocaram na brecha entre a vida e a morte”.
A OMS estima que cerca de 115 mil profissionais de saúde morreram enquanto trabalhavam para salvar vidas e servir ao próximo.
“Os profissionais de saúde e cuidados de saúde fazem coisas heroicas, mas não são super-heróis. Eles são humanos como o resto de nós”, disse Tedros, observando que muitos se sentem frustrados, desamparados e desprotegidos na pandemia.
“Devemos muito a eles, e ainda assim, globalmente, os trabalhadores de saúde carecem de proteção, equipamento, treinamento, salário decente, condições de trabalho seguras e o respeito que eles merecem”, afirmou o diretor da OMS.