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ARTIGO: Projetos ambientais podem gerar empregos e crescimento

09 junho 2021

  • Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, especialistas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) defendem que a recuperação da pandemia de COVID-19 deve incluir o grande desafio de nosso tempo: a mudança climática.
  • As autoras explicam que não é mais possível pensar que reduzir emissões afetam o desenvolvimento. "Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as mudanças estruturais necessárias para atingir um cenário de produção neutra em carbono até 2030 na América Latina e no Caribe poderiam gerar 15 milhões de empregos", afirmam.
  • A FAO lança na quinta-feira (10) uma nova publicação que mostra, a partir de exemplos de sucesso na América Latina e no Caribe, que a recuperação sustentável da pandemia e a transformação dos sistemas agroalimentares são possíveis.
  • Leia a íntegra do artigo assinado pela oficial de Agricultura Sustentável e Resiliente da FAO para a América Latina e o Caribe, Ignacia Holmes, e pela especialista em biodiversidade da FAO para a América Latina e o Caribe, Dafna Bitrán.
Legenda: Mudanças estruturais necessárias para atingir um cenário de produção neutra em carbono até 2030 na América Latina e no Caribe poderiam gerar 15 milhões de empregos
Foto: © Singkham/Pexels

Estamos em um momento crucial. A pandemia de COVID-19, com seus enormes impactos econômicos, humanos e sociais, uniu-se ao grande desafio de nosso tempo: a mudança climática. A atenção do mundo hoje está voltada para conter a crise sanitária: é mais urgente do que nunca reconstruir economias, restaurar empregos e rendas. Mas a pergunta que devemos fazer é: que tipo de recuperação nós queremos?

 

Aceitaremos o mesmo modelo que implantávamos antes da pandemia ou aproveitaremos essa oportunidade para impulsionar uma recuperação com transformação climática, na qual avançamos em conjunto, com esforços contra as mudanças do clima e com a redução da pegada ambiental na agricultura?

 

As evidências estão cada vez mais claras: proteger o meio ambiente, enfrentar a mudança climática e avançar rumo a uma agricultura sustentável são algumas das melhores maneiras de melhorar a qualidade de vida das pessoas de nossa região.

 

Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as mudanças estruturais necessárias para atingir um cenário de produção neutra em carbono até 2030 na América Latina e no Caribe poderiam gerar 15 milhões de empregos.

 

Um estudo de Nicholas Stern e Joseph Stiglitz mostra que, após a crise de 2008, medidas de estímulo com foco ambiental geraram mais empregos e melhor crescimento do que as alternativas tradicionais.

 

Não podemos mais pensar que conservar, sustentar e reduzir as emissões são restrições que afetam o desenvolvimento produtivo. A tarefa complexa e necessária é identificar estratégias e soluções concretas que nos permitam resolver a equação do desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental.

 

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) afirma que a transformação sustentável do setor agroalimentar, através de inovações tecnológicas e institucionais, será uma fonte de retomada do crescimento econômico.

 

Na América Latina e no Caribe há muitos exemplos disso: no Equador, um projeto de pecuária inteligente permitiu que mil pequenos agricultores aumentassem sua renda em 40%, melhorassem a qualidade do solo em 40 mil hectares e reduzissem suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 20%, evitando a emissão de 24.000 toneladas de carbono equivalente.

 

No México, um projeto para promover tecnologias eficientes e de baixa emissão na agricultura e na agroindústria permitiu que 1.842 agronegócios reduzissem suas emissões líquidas de GEE em 6 milhões de toneladas de CO2, além de produzir energia a partir da biomassa.

 

No Uruguai, um projeto sobre as melhores práticas e alternativas ao uso de pesticidas, que trabalhou com mais de 2.000 técnicos e produtores, demonstrou que, ao fazer ajustes na gestão, seria possível reduzir o uso de herbicidas em até 70% em um ciclo de produção de soja, sem afetar o rendimento e sem aumentar os custos, o que significou uma economia média de 40 dólares por hectare para os casos avaliados.

 

Um projeto de manejo sustentável da pesca de arrasto, principalmente de camarão, reduziu a pesca não intencional de espécies em até 36%, reduzindo seu impacto ambiental no Brasil, no Suriname e em Trinidad e Tobago graças às novas redes e à tecnologia.

 

Estes e outros exemplos fazem parte de uma nova publicação da FAO, “Rumo a uma agricultura sustentável e resiliente na América Latina e no Caribe”, que será lançada na quinta-feira (10) e que mostra que a recuperação sustentável da pandemia e a transformação dos sistemas agroalimentares são possíveis.

 

Se pudermos replicar tais iniciativas em grande escala, sem dúvida geraremos melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e uma vida melhor.

Por Ignacia Holmes, oficial de Agricultura Sustentável e Resiliente da FAO para a América Latina e o Caribe, e Dafna Bitrán, especialista em biodiversidade da FAO para a América Latina e o Caribe.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

FAO
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa