Evento da ONU Mulheres levanta 40 bilhões de dólares para impulsionar igualdade de gênero
01 julho 2021
- O Fórum Geração Igualdade acontece esta semana em Paris e discute novas maneiras de combater a desigualdade de gênero. O evento também busca meios de implementar as mudanças necessárias e já arrecadou 40 bilhões de dólares com este fim.
- Para o secretário-geral da ONU, é necessária a união de estados, empresas e indivíduos "para acabar com o medo e a insegurança que ameaçam a saúde, os direitos, a dignidade e a vida de tantas mulheres e meninas".
- O evento foi convocado pela ONU Mulheres e coorganizado pelos governos do México e da França. Este é o Fórum mais importante para as mulheres em mais de duas décadas e pretende ser um marco no avanço das políticas públicas em meio aos retrocessos trazidos pela COVID-19 e líderes conservadores.
- Segundo a OMS, uma em cada três mulheres sofre violência durante a vida. A pandemia agravou este quadro, com a violência aumentando 83% de 2019 a 2020, de acordo com a iniciativa Spotlight.
O Fórum Geração Igualdade, convocado pela ONU Mulheres, acontece de quarta-feira (30) até sexta-feira (2 de julho). O evento visa a discussão de novas vias e recursos para acelerar o combate à desigualdade de gênero. Até o momento, o Fórum já levantou 40 bilhões de dólares com este propósito.
O secretário-geral discursou na abertura do evento, que reúne chefes de Estado e governo de todo o mundo e é coorganizado pelos governos do México e da França, em parceria com a juventude e a sociedade civil. Uma jornada de cinco anos de ação, com base no Plano de Aceleração Global da ONU para a Igualdade de Gênero, foi lançada no Fórum.
“Igualdade de gênero é essencialmente sobre poder, e poder em um mundo que ainda é amplamente dominado por homens, com uma cultura que ainda é amplamente patriarcal”,
António Guterres, secretário-geral
Equilibrar o poder - Em sua fala, Guterres ressaltou a força dos movimentos populares e de novas alianças, além de mais recursos para reequilibrar as relações de poder no mundo com cinco prioridades: a igualdade de direitos, a paridade, o equilíbrio econômico, o combate à violência a mulheres e meninas e o diálogo entre gerações.
O chefe da ONU também destacou outras duas prioridades. A igualdade de gênero em relação aos algoritmos e profissões relacionadas à tecnologia da informação em uma sociedade cada vez mais digital e a luta contra os retrocessos que alguns dirigentes políticos, econômicos e religiosos tentam impor.
“Precisamos retroceder com o retrocesso”, disse Guterres.
“Esta é uma batalha ideológica e esta batalha ideológica deve ser vencida contra as forças conservadoras que se desenvolvem em todo o mundo e que põem em risco as conquistas de Pequim”, completou, referindo-se à Conferência que aconteceu há 26 na China e foi um marco e uma inspiração para os direitos das mulheres.
Violência e isolamento social - Nos primeiros meses da pandemia, a ONU projetou que quarentenas e o isolamento poderiam levar a 15 milhões de casos adicionais de violência de gênero a cada três meses.
“Infelizmente, essas previsões parecem estar se concretizando”, disse o secretário-geral em um artigo de opinião para o jornal britânico The Independent antes do evento.
Uma em cada três mulheres sofre violência durante a vida, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS), e de acordo com o Relatório Anual Global da iniciativa Spotlight, a violência aumentou 83% de 2019 a 2020, enquanto os casos relatados à polícia aumentaram em 64%.
“Da violência doméstica à exploração sexual, tráfico, casamento infantil, mutilação genital feminina e assédio online, a misoginia violenta prosperou à sombra da pandemia”, disse o chefe da ONU.
A pandemia da COVID-19 somou-se a uma “epidemia existente de violência contra mulheres e meninas”, acrescentou.
A difusão da violência contra mulheres e meninas levou alguns a acreditar que ela continuará para sempre.
Paridade em todos os lugares - Em sua declaração, a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, disse que “as mulheres em todo o mundo estão espremidas em um pequeno canto”.
Elas representam apenas um quarto de todos os gerentes, parlamentares, negociadores de mudanças climáticas e menos de um quarto dos que negociam acordos de paz.
“Um quarto não é suficiente. Um quarto não é igualdade. A igualdade é a metade, onde homens e mulheres estão juntos”,
Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres
Segundo a diretora da ONU Mulheres, Estados-membros, setor privado e outros atores importantes assumiram quase mil compromissos para mudar a vida das mulheres, incluindo a mudança de políticas.
Mas para ela, a luta ainda tem que continuar. “Precisamos estar empurrando para cima o tempo todo, para que haja uma corrida até o topo”, resumiu.
Dados reveladores - Algumas estatísticas divulgadas pelos organizadores do evento mostram onde a ação é mais necessária.
Embora as mulheres representem metade da população, elas detêm apenas 20% da liderança, de acordo com o Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC).
Em comparação com os homens, as mulheres têm 24% mais probabilidade de perder seus empregos e podem esperar que sua renda caia em mais 50% - tornando a justiça econômica e os direitos imperativos.
Ao mesmo tempo, as mulheres têm 10% menos probabilidade do que os homens de ter acesso à Internet, deixando 433 milhões de mulheres em todo o mundo no modo “mudo”.
Aumentando o financiamento - A chefe da ONU Mulheres concluiu detalhando que os países do Sul Global, organizações regionais, jovens e grupos da sociedade civil, levantaram até o momento 40 bilhões de dólares e que a cifra pode subir.
A chanceler Angela Merkel anunciou que a Alemanha investirá 140 milhões de euros adicionais, perfazendo um total de cerca de 240 milhões de euros direcionados para na Coalizão de Ação Internacional. Já a Fundação Bill e Melinda Gates anunciou que gastaria 2,1 bilhões de dólares para promover a igualdade de gênero global.
Plano de ação - Durante o evento, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lançou um conjunto de compromissos para alcançar “progressos tangíveis” em direção à igualdade de gênero nos próximos cinco anos.
A agência da ONU apoiará a educação de meninas com ensino transformador de gênero de qualidade para 28 milhões de alunos em mais de 80 países. A UNESCO também vai trabalhar para acabar com a divisão de gênero digital, capacitar mulheres cientistas e promover a Inteligência Artificial ética. Na África, a agência planeja empoderar economicamente as mulheres nas indústrias criativas.
Inspiração - O Fórum também aspira reverter as desigualdades agravadas pela pandemia e ajudar a acelerar as ações globais em favor da igualdade de gênero, da liderança e de oportunidades para mulheres e meninas em todo o mundo.
O evento é inspirado na Declaração e Plataforma de Ação de Pequim que foi adotada em 1995 na 4ª Conferência Mundial sobre as Mulheres e pretende ser o mais importante do tipo em 25 anos.