Relatório do ACNUR revela perfil laboral de refugiados e migrantes venezuelanos em Roraima
12 julho 2021
- A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) publicou um relatório em parceria com a Associação Voluntários para o Serviço Internacional que revela indicadores de escolaridade e ocupação de refugiados e migrantes nos abrigos temporários da Operação Acolhida em Boa Vista, Roraima.
- Foram entrevistadas 332 famílias não-indígenas em dezembro de 2020 com o intuito de ampliar o conhecimento sobre o perfil sociodemográfico e laboral da população abrigada em cinco centros de acolhida.
- A pesquisa revela que 73% das pessoas venezuelanas abrigadas em centros de acolhida de Boa Vista veem oportunidades de emprego como principal fator para definir um lugar de moradia mais permanente.
- 21,7% dos refugiados e migrantes nos abrigos estão desempregados ou sem atividade de renda e buscam trabalho.
A preocupação com empregabilidade é recorrente entre a população refugiada e migrante nos abrigos temporários da Operação Acolhida em Boa Vista (RR). A disposição pela busca de trabalho é um dado chave do relatório “Autonomia e integração local de refugiados(as) e migrantes venezuelanos(as) acolhidos(as) nos abrigos em Boa Vista (RR)”, publicado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em parceria com a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil).
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Polis, que entrevistou 332 famílias não-indígenas em dezembro de 2020 com o intuito de ampliar o conhecimento sobre o perfil sociodemográfico e laboral da população abrigada em cinco centros de acolhida temporários geridos pela AVSI Brasil, parceira do ACNUR. Os abrigos funcionam em conformidade com o Acordo de Cooperação entre ACNUR e Ministério da Cidadania: Rondon 1, Rondon 2, Rondon 3, São Vicente 1 e Pricumã.
O diagnóstico identificou que 72,6% das pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela abrigadas em Boa Vista consideram as oportunidades de emprego e geração de renda como o principal fator para definir onde se establecerão de forma mais permanente. Outros 27,1% identificam a proximidade geográfica com a Venezuela como a consideração de maior peso, de forma a se manterem mais próximos de seus familiares. Somente 0,3% dos abrigados afirmou não ter intenção de permanecer no Brasil.
Além dos interesses de refugiados e migrantes, a pesquisa também registrou o perfil dessa população, apresentando recortes como escolaridade, arranjos familiares, idade e proficiência em português.
“O objetivo é que o diagnóstico possa contribuir para o planejamento de ações que fomentem o alcance da autonomia e autossuficiência dessa população com a sua inserção no mercado de trabalho e integração à comunidade de acolhida”, explica a oficial de Relações Institucionais do ACNUR em Roraima, Thais Menezes.
Estudo e proficiência - O estudo reforçou o perfil qualificado da população adulta residente nos abrigos: 83,3% das pessoas refugiadas e migrantes possuem ensino fundamental ou médio completo. Outros 10,2% têm formação técnica e 6% possuem formação superior em diversas áreas de conhecimento.
A proficiência em português também foi contemplada pelo estudo. Entre as pessoas ouvidas, 41,4% têm proficiência alta ou muito alta no idioma local, enquanto 58,6% não têm, no momento da pesquisa, a fluência. Na alta proficiência, homens são predominantes, assim como o perfil de pessoas que procuram emprego, perfis com alta escolaridade e aqueles que têm mais desejo para deixar os abrigos.
“Entendo que a sistematização do conhecimento é um elemento central para nós que promovemos o desenvolvimento humano. Esse relatório permite identificar de maneira mais clara as necessidades dos refugiados e migrantes venezuelanos que nossos colaboradores encontram todos os dias nos abrigos, mas também valorizar os fatores positivos que existem nessa realidade tão complexa da emergência humanitária. Para nós, da AVSI Brasil, o conhecimento tem esse princípio: uma leitura da realidade que parte do positivo”, diz o diretor-presidente da AVSI Brasil, Fabrizio Pellicelli.
Sobre a formação profissional e experiência prática dos respondentes da pesquisa, as atividades e ofícios que mais são mencionadas se relacionam às atividades de cozinheiro; atividades na construção civil; comércio e vendas; educador; costureira; cabeleireiro, estética, manicure e pedicure; e motorista. Além disso, 64,2% relatam experiência em mais de uma área de atuação.
“A grande relevância dessa pesquisa é termos uma base sólida, uma produção de conhecimento sobre a população com a qual estamos trabalhando. Por meio da análise dos dados, vamos traçar estratégias de integração laboral e socioeconômica para facilitar a integração local dessa população”, explica Julia Petek, Oficial de Meios de Vida da AVSI Brasil.
Indicadores de renda - O percentual de pessoas refugiadas e migrantes residentes nos centros de acolhida temporários que exercem algum tipo de trabalho é de 25,6% entre os entrevistados, seja em emprego regular, autônomo diarista, autônomo ambulante ou como empreendedor/a. Por outro lado, 21,7% estão desempregados ou sem atividade de renda e buscam trabalho. Há, ainda, pessoas desalentadas, porém aptas para o trabalho, que compõem a força de trabalho potencial: 16,9%.
O cruzamento de dados permite afirmar que há maior presença de pessoas que estudaram até o ensino fundamental no grupo “força de trabalho ocupada” do que de pessoas com escolaridade até o ensino médio e de escolaridade superior ou técnica. “Isso acontece porque a força de trabalho de venezuelanos refugiados e migrantes em Boa Vista, neste momento, se insere sobretudo na informalidade, como autônomo diarista, em alguns casos prestando serviços em mais de uma atividade”, explica Julia Petek. Somente 30,6% das pessoas que se declaram “ocupadas” trabalham mais de 40 horas na semana.
O estudo contará com duas outras fases de análise, referentes às oportunidades de absorção pelo mercado local da mão de obra refugiada e migrante. Dessa forma, será possível ter dados disponíveis para subsidiar iniciativas de capacitação que fomentem a inserção laboral das pessoas venezuelanas em Roraima e possam atender as necessidades do mercado de trabalho do estado.
Contatos para a imprensa:
- Allana Ferreira: ferreirl@unhcr.org
- Camila Geraldo: ignaciog@unhcr.org