Internet e estudo conectam sonhos de jovens nas periferias brasileiras
Jovens de São Paulo desenvolvem projetos para melhorar a vida da comunidade graças ao acesso a tecnologia proporcionado pelo UNICEF
Aos 16 anos, Vitória é comunicativa e acredita que somente dedicação e estudo poderão mudar a realidade de sua vida num conjunto de moradia popular ao lado de Paraisópolis, a maior favela da maior cidade brasileira. Aos 17 anos e muito tímido, Wesley está vendo sua vida se transformar graças ao ensino aliado à tecnologia. Ambos moram em bairros periféricos da zona sul de São Paulo e participam do programa Trilhas Digitais, iniciativa do UNICEF que incentiva o acesso à internet para ajudar no aprendizado de jovens e adolescentes.
Vitória Lohanna Mendes Tavares já fez cursos e oficinas de administração, jornalismo, fotografia, percussão, caratê e artesanato. “Quando você está na quebrada (gíria para periferia), você tem que se esforçar duas vezes mais. Se eu não correr atrás, ninguém vai correr por mim”, avalia.
Na pandemia, a estudante teve o aprendizado prejudicado pelo regime de ensino a distância das escolas estaduais. Participando do Trilhas Digitais, iniciativa do UNICEF em parceria com o Instituto Tellus e a British Telecom, ela voltou a estudar e a participar tanto das aulas regulares quanto de outras atividades, usando o celular cedido pela iniciativa.
“Como o Trilhas tem como propósito nos ajudar a resolver problemas da comunidade por meio da tecnologia, ele nos ajudou a pensar em soluções para o território”, explica. O projeto de Vitória, chamado Horta Real, pretende transformar os espaços públicos abandonados do bairro em hortas comunitárias.
A ideia inclui até um curso para os vizinhos. “Por causa da pandemia, muita gente perdeu o emprego. A horta surgiu como uma oportunidade para gerar renda para a comunidade e, também, incentivar o acesso à alimentação saudável”, explica.
Segurança e confiança - Na Chácara Flórida falta internet, saneamento básico e asfalto. Ali Wesley Monteiro da Silva conheceu a iniciativa que incentiva o acesso à tecnologia para promover o aprendizado e a formação de jovens e adolescentes. Ele se interessou por programação.
A superação da timidez, a descoberta da tecnologia como um interesse profissional e educacional e as lições aprendidas serviram de referência para Wesley pensar no seu futuro e no lugar onde vive. Ele desenvolveu o projeto Segurança na Periferia, que orienta moradores de regiões periféricas a encarar abordagens policiais através de um aplicativo e um site que explicam direitos e deveres, tanto de policiais como de cidadãos nessas ocasiões. A ideia é diminuir os índices de violência policial e tornar as relações entre moradores e policiais mais amistosas e pacíficas.
“Na escola, eu sempre fui aquele menino que ficava lá atrás na hora de apresentar os projetos. Agora, eu me sinto mais preparado e confiante”, relata o rapaz. “Eu tenho o sonho de abrir uma ONG, de ensinar programação para jovens de favela também. Quero que eles tenham oportunidades. Na periferia existe muita gente inteligente, que é esforçada, gente que faz tudo, mas por falta de material, de oportunidade, não consegue mudar de vida. Eu quero mostrar que dá para mudar”, afirma, cheio de esperança.