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Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola lança relatório para Cúpula dos Sistemas Alimentares

21 setembro 2021

  • O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) lançou um relatório com soluções concretas para transformar a forma como produzimos, processamos e consumimos alimentos.
  • Entre as principais recomendações estão o incentivo à produção agrícola local e o uso de técnicas agroecológicas, desenvolvimento de sistemas de precificação que remunerem de forma justa o pequeno produtor, além de estímulos econômicos que priorizem a produção de alimentos de alto valor nutricional.
  • O relatório foi divulgado a tempo da Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU, que acontece esta semana durante a Assembleia Geral e reúne chefes de Estado para discutir formas de implementar as ações propostas pelo Fundo.
  • Para a vice-presidente do FIDA, o documento apresenta de forma contundente o que é preciso mudar nas cadeias globais de alimentos para torná-las mais justas, sustentáveis e nutritivas. “Agora precisamos de investimentos e vontade política para agir”, declarou.
Legenda: Os sistemas alimentares são responsáveis por 37% das emissões de gases de efeito estufa e também são altamente vulneráveis às mudanças climáticas
Foto: © Unsplash

Tornar os sistemas alimentares globais mais inclusivos, justos e sustentáveis pode parecer um desafio intransponível, mas há ações concretas que os formuladores de políticas podem tomar, de acordo com um novo relatório divulgado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), nesta terça-feira (21).

Intitulado “Transformando os Sistemas Alimentares para a Prosperidade Rural”, o documento será alvo de discussão entre chefes de Estado na Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU, agendada para esta quinta-feira (23), durante a semana de Alto Nível da Assembleia Geral. 

O relatório enfatiza a importância de se investir em mudanças disruptivas nos sistemas alimentares globais, para que todas as pessoas possam ter acesso a produtos nutritivos, que não prejudiquem o meio ambiente e que ofereçam aos produtores de alimentos remunerações justas pelo cultivo. 

Atualmente, a maioria das pessoas que vivem em áreas rurais é remunerada pelo cultivo agrícola em pequena escala, fazendo desta uma fonte vital de oferta de alimentos tanto no contexto nacional quanto global. Ainda assim, as fazendas de até dois hectares produzem 31% dos alimentos do mundo, no entanto representam menos de 11% das terras agrícolas. 

“Vivemos em um mundo de contradições enormes e injustas. Há 800 milhões de pessoas com fome e ao mesmo tempo, convivemos com altas taxas de obesidade. As dietas nutritivas são caras, mas muitos pequenos agricultores são pobres. As práticas atuais de cultivo de alimentos não são boas para o nosso meio ambiente”, explica a Dra. Jyotsna Puri, vice-presidente associada do Departamento de Estratégia e Conhecimento do FIDA. 

“É claro que precisamos de uma revolução. Uma revolução tão dramática a ponto de tornar as versões anteriores dos nossos sistemas alimentares irreconhecíveis”, complementa Puri, que também é a responsável pelo Relatório de Desenvolvimento Rural, publicação carro-chefe do Fundo.

Entre as principais recomendações do documento estão:

  • Aumento no investimento em fazendas de menor escala e pequenas e médias empresas (PMEs), que prestam serviços para a cadeia agrícola — entre eles o armazenamento, processamento, comercialização e distribuição de alimentos. O foco no empreendedorismo e geração de empregos em nível local também é uma recomendação para aumentar as oportunidades de emprego, especialmente para mulheres e jovens, ao mesmo tempo que colocará pequenos agricultores em contato com mercados novos e diversos.
  • Tornar mais acessíveis tecnologias digitais e inovações agroecológicas, de forma a impulsionar a produção rural de pequenos agricultores, não apenas os tornando resilientes às mudanças climáticas, mas também incentivando o uso de técnicas sustentáveis e de baixa emissão de carbono. 
  • Desenvolver e focar em sistemas de precificação adequados ao custo total e verdadeiro de produção, e que incluam recompensas aos agricultores pelos serviços ecossistêmicos, como manter o solo saudável e controle de pragas.
  • Dar preferência para alimentos nutritivos, acessíveis e baratos. Atualmente, pelo menos três bilhões de pessoas não podem pagar por dietas saudáveis. Mudar isso requer foco na educação nutricional, capacitando mulheres para participarem de decisões dentro desta cadeia, bem como tornar as políticas governamentais mais fortes para regular e orientar as escolhas do mercado. A sugestão é para que os governos usem instrumentos econômicos como apoio financeiro e licitações para incentivar o foco em alimentos ricos nutricionalmente.
  • Engajar-se no reequilíbrio do comércio global e da governança, a fim de corrigir as disparidades de mercado. A atual concentração de poder nos sistemas alimentares exige que se repensem as regulamentações e os arranjos comerciais, de forma que as populações rurais dos países em desenvolvimento também possam se beneficiar. Os mercados de alimentos precisam ser acessíveis à população rural e oferecer condições justas. É necessário que haja incentivos para recompensar as práticas regionais e agroecológicas, além das dietas saudáveis.

Cúpula - A vice-presidente do FIDA acredita que a Cúpula dos Sistemas Alimentares será um divisor de águas para o comprometimento dos governos com uma mudança real, uma vez que o relatório oferece recomendações de ações concretas que podem ser tomadas pelos formuladores de políticas públicas. 

“Sabemos o que precisa mudar para tornar a produção, a comercialização e o consumo de alimentos justos e sustentáveis, o que resultaria em alimentos mais nutritivos e acessíveis para todos. Este relatório fornece fortes evidências e recomendações para ações específicas. Agora precisamos de investimentos e vontade política para agir ”, disse Puri.

O evento, que será liderado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, pretende que chefes de Estado e outros líderes comprometam-se com metas viáveis para transformar os sistemas alimentares globais. O encontro é o ponto mais alto do debate realizado nos últimos 18 meses por governos, produtores de alimentos, sociedade civil e empresas sobre como transformar a forma como produzimos, processamos e consumimos alimentos.

Nos últimos 70 anos, o foco na agricultura industrial e na produção de mais calorias a um menor custo foi acompanhado por desnutrição crescente, aumento do desperdício de alimentos e alto desgaste ambiental. Os sistemas alimentares são responsáveis por 37% das emissões de gases de efeito estufa e também são altamente vulneráveis às mudanças climáticas.

Contato para a imprensa:

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

FAO
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
FIDA
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola

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