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Chefe da ONU alerta para a importância de ações rápidas na retomada de empregos e erradicação da pobreza

28 setembro 2021

  • Novo relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, revela dados alarmantes sobre emprego e pobreza no mundo.
  • A pobreza extrema aumentou e atingiu entre 119 e 224 milhões de pessoas em 2020, há 75 milhões de empregos a menos em 2021 e a riqueza dos bilionários aumentou em mais de 3,9 trilhões de dólares, aprofundando o abismo de desigualdades sociais pelo mundo.
  • Em busca de recuperação e transição justa para um futuro sustentável, são necessários pelo menos 982 bilhões de dólares para responder aos choques imediatos da crise no mercado de trabalho.
  • Com tamanha discrepância na recuperação da crise causada pela pandemia, o secretário-geral pede por proteção social, proteção à renda, educação e formação profissional.
  • Além disso, o chefe da ONU anunciou a criação de um novo Acelerador Global de Emprego e Proteção Social em parceria com Organização Internacional do Trabalho (OIT), que visa criar pelo menos 400 milhões de empregos até 2030.
Legenda: Mais de quatro bilhões de pessoas em todo o mundo, incluindo muitos vendedores ambulantes, carecem de proteção social adequada, de acordo com a OIT.
Foto: © Marcel Crozet/OIT

Quase dois anos após o início da crise da COVID-19, uma enorme divergência na recuperação está minando a confiança e a solidariedade globais, de acordo com um novo relatório sobre empregos e erradicação da pobreza elaborado pelo chefe da ONU, António Guterres, lançado nesta terça-feira (28).

O secretário-geral advertiu que a pandemia não só confirmou como aprofundou as desigualdades existentes.

O investimento em empregos, proteção social e uma transição justa para um futuro com emissões zero, especialmente em países de baixa e média renda, podem impedir um aprofundamento ainda maior das desigualdades.

“A solidariedade global até agora tem sido completamente inadequada”, advertiu Guterres.  “Um contrato social renovado… deve ser central para a recuperação”.

Recuperações profundamente divergentes - De acordo com o relatório, a pobreza extrema aumentou entre 119 e 224 milhões de pessoas entre março e dezembro de 2020 - o primeiro aumento em mais de 21 anos.

Mais de três quartos destes 'novos pobres' estão em países de renda média. Ao mesmo tempo, a riqueza dos bilionários aumentou em mais de 3,9 trilhões de dólares.

Os dados do relatório revelam que, por causa da pandemia, estima-se que haja menos 75 milhões de empregos em 2021 do que antes da crise, e 23 milhões a menos projetados em 2022.

O relatório também estima que 8,8% do total de horas de trabalho foram perdidas em 2020 - o equivalente às horas trabalhadas em um ano por 255 milhões de trabalhadores em tempo integral.

Isto corresponde a uma perda de 3,3 trilhões de dólares na renda laboral antes do apoio governamental em diversas parte do mundo.

Para alcançar “uma recuperação rica em empregos” e uma “transição justa”, são necessários pelo menos 982 bilhões de dólares para responder aos choques imediatos da crise no mercado de trabalho, apontou o relatório.

Atingindo a proteção universal - O secretário-geral pediu proteção social universal até 2030, incluindo cuidados de saúde universais, proteção à renda, educação e formação profissional, especialmente para mulheres e meninas.

As muitas medidas “ad-hoc” e temporárias que foram implementadas no ano passado “fornecem um ponto de partida”, observou Guterres.

Segundo os dados apontados pelo chefe da ONU, para conseguir atingir isto, devemos mobilizar investimentos públicos e privados significativos - cerca de 1,2 trilhão de dólares para alcançar a cobertura de proteção social universal para países de baixa e média renda.

Os investimentos também devem ser acelerados para ajudar a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a enfrentar os riscos das mudanças climáticas que podem comprometer 1,2 bilhão de empregos, o equivalente a 40% da força de trabalho global.

Acelerando a criação de empregos - Durante a apresentação do relatório, o secretário-geral da ONU anunciou a criação de um novo Acelerador Global de Emprego e Proteção Social para uma Transição Justa, em colaboração com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Guterrres explicou que o objetivo do Acelerador é criar pelo menos 400 milhões de empregos até 2030, principalmente nas economias verdes e de cuidados, e estender os pisos de proteção social até 2025 para 50% das pessoas atualmente sem cobertura.

O secretário-geral recomendou várias medidas para alcançar essas metas em seu relatório, entre elas:

  • Estratégias de recuperação nacionais integradas e inclusivas, com investimento expandido em proteção social.
  • Medidas de política para estender a proteção social aos trabalhadores da economia informal e para formalizar o emprego na economia de cuidados.
  • Devem ser introduzidas políticas para ajudar os trabalhadores a aumentar suas habilidades e requalificá-los.
  • Uma arquitetura financeira sólida deve ser desenvolvida para mobilizar os investimentos.
  • A colaboração com o setor privado deve ser feita para aumentar os investimentos em setores estratégicos e as estratégias devem estar alinhadas com o Acordo de Paris.

Ação mobilizadora - As próximas reuniões de instituições financeiras internacionais, o G20 e a COP26 serão “um momento crucial para colocar o mundo em um caminho sustentável, resiliente e inclusivo”, disse o secretário-geral da ONU, apontando que “a cooperação global é indispensável para construir resiliência a choques futuros, por meio de economias que funcionem para todos.”



Guterres apresentou o relatório na Reunião de Alto Nível sobre Emprego e Proteção Social para a Erradicação da Pobreza, que contou virtualmente com a presença de líderes mundiais, chefes de importantes organizações internacionais, instituições financeiras, sociedade civil, setor privado e academia.

Presente no evento, o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, alertou que as diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento estão crescendo, ao contrário de reduzirem, como deveriam.

O diretor da OIT disse que “o mundo não estava preparado para a COVID-19”, mas agora “tem que estar pronto para entregar uma recuperação que beneficie a todos”. O que, para ele, significa injetar o financiamento necessário para apoiar todos os países.

“O Acelerador Global é projetado para canalizar nacional e internacionalmente os fluxos financeiros públicos e privados, fornecendo pisos de proteção social para 4 bilhões de pessoas que estão fora de qualquer cobertura existente, e para a criação de empregos decentes, principalmente da economia verde e da economia do cuidado em escala agora urgentemente necessária”, disse o chefe da OIT.

Segundo ele, “o nível de ambição é alto, porque seria irresponsável ser menos ambicioso”.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OIT
Organização Internacional do Trabalho
ONU
Organização das Nações Unidas

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