Programas da ONU ajudam a diminuir a desigualdade de gênero online
13 outubro 2021
Entre 2013 e 2017, a lacuna no acesso à internet entre os gêneros aumentou de 11% para 17%. Nos países menos desenvolvidos, a diferença chega a 43%.
Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Menina, celebrado em 11 de outubro, a ONU destaca projetos em todo mundo para a inserção tecnológica das meninas na geração digital.
“As Nações Unidas estão comprometidas em trabalhar com as meninas para que essa geração - seja quem for e seja qual for sua circunstância - possa cumprir seu potencial”, garantiu o secretário-geral em sua mensagem para a data.
Este ano, devido ao Dia Internacional da Menina, celebrado em 11 de outubro, as Nações Unidas mostraram como a pandemia acelerou o uso de plataformas digitais, mas também destacou as diferentes realidades das meninas quando se fala no acesso à internet.
A desigualdade de gênero no uso da internet mundialmente continua a crescer, mas meninas, em todo mundo, estão tentando cada vez mais diminuir esse problema.
A lacuna online entre os gêneros aumentou de 11%, em 2013, para 17%, em 2019, e, nos países menos desenvolvidos, essa porcentagem chega a 43%.
‘Nossa responsabilidade’ - Em sua mensagem para a data, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apontou que as meninas de hoje “são parte de uma geração digital”.
“É nossa responsabilidade cooperarmos com elas em toda sua diversidade, amplificar seu poder e soluções como inovadoras digitais, e dar atenção aos obstáculos que elas encaram no mundo digital”, afirmou Guterres.
O caminho para a equidade digital das meninas é longo. Em mais de dois terços dos países, as meninas são somente 15% das graduadas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, conhecido pela sigla em inglês STEM.
Nos países com renda média ou alta, somente 14% das meninas que tiveram os melhores desempenhos em ciência ou matemática tem expectativa de trabalhar com ciência ou engenharia, comparada a 26% dos meninos com melhores desempenhos.
“Meninas têm habilidades iguais e um imenso potencial nesse campo, e, quando nós as empoderamos, todos se beneficiam”, defendeu o chefe da ONU.
Ele lembrou ver essa situação um tempo antes de começar sua carreira política, quando era professor em Lisboa, Portugal. “Testemunhei o poder da educação de estimular indivíduos e comunidades”, disse Guterres.
“Essa experiência guiou minha visão pela igualdade de gênero na educação desde então”, explicou, ao defender que investimentos para acabar com a divisão digital de gênero geram “grandes ganhos para todos”.
Ligada a isso, a ONU tem uma nova plataforma, chamada de Coalizão para Promover a Igualdade em Tecnologia e Inovação, na qual governos, sociedade civil, setor privado e jovens líderes se unem para apoiar o acesso digital, habilidades e criatividade das meninas.
“As Nações Unidas estão comprometidas em trabalhar com as meninas para que essa geração - seja quem for e seja qual for sua circunstância - possa cumprir seu potencial”, garantiu Guterres.
Impactos em outros campos - A organização destaca que a divisão digital impacta em outras áreas, como na empregabilidade de mulheres, saúde reprodutiva e autonomia corporal. De acordo com diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Natalia Kanem, meninas sem acesso a informações têm mais riscos de se envolverem em casamentos forçados.
Os dados divulgados também estimam que pouco mais da metade meninas e mulheres são capazes de tomar suas próprias decisões sobre sexo, contracepção e outros cuidados de saúde.
A diretora executiva da Unfpa afirma que não se deve tolerar um mundo digital que reforce a desigualdade. Ela sugere que as ferramentas têm potencial de diminuir a “diferença de poder entre os gêneros”.
O UNFPA possui iniciativas para desenvolver ferramentas digitais que fornecem informações e serviços de saúde sexual e reprodutiva e capacitação.
Em sua mensagem para o Dia, Kanem disse que as meninas também estão criando ferramentas, graças a parcerias que dão mentoria e recursos para que elas desenvolvam soluções digitais para um “futuro mais igualitário”.
Retratos do mundo
Para celebrar o Dia Internacional da Menina, a ONU homenageou meninas que usam suas habilidades na tecnologia digital para abrir novas portas. Abaixo estão algumas de suas histórias.
Empoderando a juventude síria - Quando Madeleine foi, pela primeira vez, para Damasco, há quatro anos, para seguir seu sonho de infância de estudar engenharia de telecomunicações, ela estava cheia de ambição.
Apesar do choque que a morte de seu pai causou no seu primeiro ano acadêmico, ela se lembrou o quanto ele valorizava a sua educação e de seus irmãos. Isso fez com que ela trabalhasse ainda mais duro.
Agora, Madeleine é uma das 60 adolescentes a participar do curso de apoio na manutenção de networking computacional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Leia sua história completa aqui.
No Sri Lanka, ensinando programação para meninas - Para meninas presas em casa, a NextGen Girls in Technology, um programa premiado da UNESCO no Sri Lanka, ajuda meninas a descobrirem sua paixão por competências digitais, incluindo a Internet das Coisas (IoT) e programação.
Desde o começo da pandemia, os cursos de programação atingiram 2.500 alunas do primário e secundário, e mais de 500 professoras.
Diyathma de 14 anos é uma delas. Ela mora em Maharagma e venceu a competição de programação para o grupo de sua idade.
Vencendo a divisão entre digital e emprego no Camarões - Happi Tientcheu, de 12 anos, participou recentemente do Campo de Programação de Meninas Africanas Conectadas. Ela e seu grupo, Dangerous, desenvolveram o Sistema de Orientação para Meninas, uma plataforma de animação online que ajuda as meninas e jovens mulheres a encontrar oportunidades de carreira na área de tecnologia da informação e comunicação.
Ao todo, 70 invenções foram produzidas no acampamento, que reuniu por volta de 8.500 jovens meninas africanas de todo o continente africano em Camarões e também online.
Saiba mais sobre o acampamento de programação aqui.
Quebrando estereótipos no Tajiquistão - Nurjan Tolibova, uma programadora de 17 anos de Dushanbe, se juntou ao PeshSaf, um projeto do Laboratório de Inovação Jovem, para melhor suas habilidades de programação e tecnológicas.
Apesar de admitir que os estereótipos de gênero ainda estão afetando as mulheres em campos não tradicionais, como nas áreas STEM, Nurjan encorajou as meninas de todo o mundo a irem atrás de seus sonhos.
“Não tenham medo de estudar tecnologia, mesmo com a percepção geral de como programadores deveriam parecer. Se é algo que você gosta, faça”, afirmou.
Saiba mais sobre o projeto aqui.
Meninas e divisão digital na Costa Rica - Para a Kattia, de 17 anos, morar em uma área remota da Costa Rica significa não ter acesso à internet. Para ter acesso a informações e comunicação, ela precisa ir para um lugar longe de sua casa junto do celular da família para poder conseguir sinal e fazer seu dever de casa.
No começo de 2021, como parte de um projeto de apoio do UNICEF junto do governo, Kattia recebeu seu primeiro computador com acesso à internet.
“Esse é o primeiro computador que nós já tivemos na minha casa. E é um alívio, é muito legal, porque, além de ser muito fofo, é touch. Eu posso usar ele para desenhar. Vai ser muito útil, porque depois que eu me formar, eu pretendo estudar design gráfico”, contou Kattia. “Tecnologia é essencial para mim”.
Saiba mais sobre o trabalho da UNICEF na Costa Rica aqui .