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Mudanças climáticas ameaçam o continente africano

19 outubro 2021

Insegurança alimentar, pobreza e deslocamentos na África aumentaram em 2020 e tendem a se aprofundar, revela o estudo co-produzido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e publicado hoje. 

Resultado de um esforço colaborativo entre organizações africanas e agências da ONU, o relatório recomenda investimentos em adaptações e sistemas de aviso prévio para auxiliar na prevenção de desastres, bem como alerta para o desaparecimento de massas de gelo do continente nas próximas décadas. 

Até 2030, 118 milhões de pessoas extremamente pobres no continente africano estarão expostas à seca, inundações e calor extremo. 

Estima-se, também, que 12% de todos os novos deslocamentos populacionais do mundo ocorreram no leste da África. Já são mais de 1,2 milhão de deslocados devido a desastres e outros quase 500 mil causados por conflitos.

Legenda: Mulher idosa que vive como deslocada interna no Sudão se prepara para receber porção de ajuda alimentar emergencial
Foto: © Tim McKulka/ONU

A mudança climática contribuiu para o aumento da insegurança alimentar, pobreza e deslocamento na África no ano passado, é o que revela novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e parceiros, publicado nesta terça-feira (19). Intitulado Estado do Clima na África 2020, o documento destaca a vulnerabilidade desproporcional do continente, mas também revela como o investimento em adaptação climática, sistemas de alerta precoce e serviços meteorológicos e climáticos podem indicar uma saída para as múltiplas crises. 

Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, disse que os indicadores climáticos na África durante o ano passado foram caracterizados pelo aquecimento contínuo das temperaturas, aumento acelerado do nível do mar, condições meteorológicas extremas e desastres climáticos - como inundações, deslizamentos de terra e secas.    

Além da vulnerabilidade desproporcional, o estudo ilustra benefícios de possíveis investimentos em campos como adaptação ao clima, serviços meteorológicos e climáticos e sistemas de alerta precoce, que superam em muito os custos. 

Redução de geleiras icônicas - “O rápido encolhimento das últimas geleiras remanescentes no leste da África, que devem derreter totalmente em um futuro próximo, sinaliza a ameaça de uma mudança iminente e irreversível para o sistema terrestre”, alertou o secretário-geral da OMM.  

Apenas três montanhas na África são cobertas por geleiras: o maciço do Monte Quênia, as Montanhas Rwenzori, em Uganda, e o Monte Kilimanjaro, na Tanzânia. Mesmo que as geleiras sejam muito pequenas para atuar como reservatórios de água significativos, a OMM destacou sua importância turística e científica. Atualmente, as taxas de redução dessas três geleiras são mais altas do que a média global, e o “degelo total” poderia ser possível por volta de 2040.

O Monte Quênia deverá ser degelado uma década antes, acrescentou a agência, tornando-se uma das primeiras cadeias de montanhas inteiras a perder a cobertura glacial devido à mudança climática induzida pelo homem.   

Milhões em risco - O relatório é resultado do trabalho em conjunto da OMM, da Comissão da União Africana e da Comissão Econômica para a África pelo Centro de Política Climática da África. Também participaram entidades científicas regionais e internacionais e agências das Nações Unidas. Ele foi emitido durante a sessão extraordinária do Congresso da OMM poucas semanas antes da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26), que acontecerá em Glasgow, na Escócia, entre 31 de outubro e 12 de novembro. 

O aumento da variabilidade do tempo e do clima perturba vidas e economias, disse Josefa Leonel Correia Sacko, comissária para a Economia Rural e Agricultura da Comissão da União Africana.   

As estimativas revelam que até 2030, pelo menos 118 milhões de pessoas extremamente pobres no continente estarão expostas à seca, inundações e calor extremo, o que impedirá o progresso em direção ao fim da pobreza e ao aumento do crescimento. 

A falta ou o excesso de chuva também se agrava no continente. Na publicação, os autores ressaltam que a seca em Madagascar desencadeou uma crise humanitária.  

Grandes inundações também provocam o deslocamento de populações de diversos países da região e aumentam a insegurança alimentar. Em 2020, o número de pessoas em situação de deslocamento aumentou 40% em relação ao ano anterior. 

Estima-se que 12% de todos os novos deslocamentos populacionais do mundo ocorreram no leste da África. São mais de 1,2 milhão de deslocados devido a desastres e outros quase 500 mil causados por conflitos.

“Na África Subsaariana, a mudança climática pode reduzir ainda mais o produto interno bruto (PIB) em até 3%, até 2050”, disse a comissária da Comissão da União Africana, ao complementar que: “Isso representa um sério desafio para a adaptação ao clima e ações de resiliência, porque não só as condições físicas estão piorando, mas também o número de pessoas sendo afetadas está aumentando”. 

O relatório estimou que o investimento em adaptação climática para a África Subsaariana custaria entre 30 a 50 bilhões de dólares por ano durante a próxima década, ou cerca de 2 a 3% do PIB. 

Os autores disseram que a rápida implementação de estratégias de adaptação irá estimular o desenvolvimento econômico, bem como mais empregos como parte da recuperação pós-pandemia. Prosseguir com as prioridades de um plano de recuperação verde da União Africana também permitiria uma recuperação sustentável, bem como uma ação climática eficaz.

Recomendações - Em entrevista à ONU News, o diretor de Parcerias Globais da OMM, Filipe Lúcio, ressaltou a importância de investir em formas de prevenção, como alerta precoce. 

“Eles precisavam ter sistemas de aviso prévio integrados, particularmente nos países vulneráveis, onde seja possível prever o que vai acontecer e a partir daí tomar medidas para preparação e resposta adequadas. Só para dar-lhes um exemplo, na África, só 44 mil pessoas entre 100 mil pessoas estão cobertas com o sistema de aviso prévio”, informou o representante da OMM. Na mesma linha, as recomendações do relatório reforçam a necessidade de recursos dedicados à infraestrutura hidro-meteorológica. As ferramentas permitiriam que a população se preparasse para eventos climáticos.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OMM
Organização Mundial de Meteorologia

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