Declaração do secretário-geral sobre a conclusão da COP26
Declaração do secretário-geral sobre a conclusão da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26)
Deixe-me começar agradecendo aos nossos anfitriões - o governo do Reino Unido e o povo de Glasgow - por sua tremenda hospitalidade.
Saúdo Alok Sharma e sua equipe. Esta foi uma conferência extremamente desafiadora. Eles demonstraram competência notável para chegar a um consenso entre as partes.
Agradeço a Patricia Espinosa e a todos os meus colegas da equipe de Mudanças Climáticas das Nações Unidas.
E expresso minha gratidão a todos os delegados - e a todos aqueles de fora que pressionaram esta COP para entregar.
Os textos aprovados são um compromisso. Eles refletem os interesses, as condições, as contradições e o estado da vontade política no mundo de hoje.
Eles dão passos importantes, mas infelizmente a vontade política coletiva não foi suficiente para superar algumas contradições profundas.
Como eu disse na abertura, devemos acelerar a ação para manter viva a meta de 1,5oC.
Nosso frágil planeta está por um fio.
Ainda estamos batendo à porta da catástrofe climática.
É hora de entrar no modo de emergência - ou nossa chance de atingir o zero líquido será zero.
Reafirmo minha convicção de que devemos acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis.
Eliminar gradualmente o carvão.
Por um preço no carbono.
Construir resiliência de comunidades vulneráveis contra os impactos das mudanças climáticas aqui e agora.
E cumprir o compromisso de 100 bilhões de dólares de financiamento climático para apoiar os países em desenvolvimento.
Não atingimos esses objetivos nesta conferência. Mas temos algumas bases para progredir.
Compromissos para acabar com o desmatamento. Para reduzir drasticamente as emissões de metano. Para mobilizar o financiamento privado em direção ao zero líquido.
E os textos de hoje reafirmam a determinação em direção à meta de 1,5oC. Aumentam o financiamento do clima para adaptação. Reconhecem a necessidade de fortalecer o apoio aos países vulneráveis que sofrem danos irreparáveis do clima.
E, pela primeira vez, eles incentivam as instituições financeiras internacionais a considerar as vulnerabilidades climáticas nas formas de financiamento concessional e em outras formas de apoio, incluindo direitos de saque especiais.
E, finalmente, fecham o livro de regras de Paris com um acordo sobre mercados de carbono e transparência.
São passos importantes, mas não o suficiente.
A ciência nos diz que a prioridade absoluta deve ser a redução rápida, profunda e sustentada das emissões nesta década.
Especificamente - um corte de 45% até 2030 em comparação com os níveis de 2010.
Mas o conjunto atual de Contribuições Nacionalmente Determinadas - mesmo se totalmente implementado - ainda aumentará as emissões nesta década em um caminho que nos levará claramente a bem acima de 2oC até o final do século em comparação com os níveis pré-industriais.
Saúdo o acordo entre os EUA e a China aqui em Glasgow que - tal como o texto de hoje - promete acelerar as ações para reduzir as emissões na década de 2020.
Para ajudar a reduzir as emissões em muitas outras economias emergentes, precisamos construir coalizões de apoio, incluindo países desenvolvidos, instituições financeiras, aqueles com capacidades técnicas.
Isso é crucial para ajudar cada um desses países emergentes a acelerar a transição do carvão e o transição verde de suas economias.
A parceria com a África do Sul anunciada há poucos dias é um modelo para isso.
Quero fazer um apelo especial para nosso trabalho futuro em relação à adaptação e à questão de perdas e danos.
Adaptação não é uma questão tecnocrática, é vida ou morte.
Já fui primeiro-ministro do meu país. E me imagino hoje na pele de um líder de um país vulnerável.
As vacinas de COVID-19 são escassas. Minha economia está afundando. A dívida está aumentando. Os recursos internacionais para recuperação são completamente insuficientes.
Enquanto isso, embora tenhamos contribuído menos para a crise climática, sofremos mais.
E quando mais um furacão assola meu país, o tesouro está vazio.
Proteger os países de desastres climáticos não é caridade. É solidariedade e interesse próprio esclarecido.
Temos outra crise climática hoje. Um clima de desconfiança está envolvendo nosso globo. A ação climática pode ajudar a reconstruir a confiança e restaurar a credibilidade.
Isso significa finalmente cumprir o compromisso de financiamento climático de 100 bilhões de dólares para os países em desenvolvimento.
Sem mais IOUs (I OWE YOU - documento de reconhecimento de dívida).
Isso significa medir o progresso, atualizar os planos climáticos a cada ano e aumentar a ambição. Vou convocar uma cúpula global de avaliação no nível de chefes de Estado em 2023.
E isso significa - além dos mecanismos já previstos no Acordo de Paris - estabelecer padrões claros para medir e analisar os compromissos líquidos zero de atores não-estatais.
Vou criar um Grupo de Especialistas de Alto Nível com esse objetivo.
Finalmente, quero encerrar com uma mensagem de esperança e determinação para os jovens, comunidades indígenas, líderes femininas e todos aqueles que lideram o exército da ação climática.
Eu sei que muitos de vocês estão decepcionados.
O sucesso ou o fracasso não são atos da natureza. Eles estão em nossas mãos.
O caminho do progresso nem sempre é uma linha reta. Às vezes, há desvios. Às vezes, existem valas.
Como disse o grande escritor escocês Robert Louis Stevenson: “Não julgue cada dia pela colheita que você faz, mas pelas sementes que você planta”.
Temos muito mais sementes para plantar ao longo do caminho.
Não chegaremos ao nosso destino em um dia ou em uma conferência.
Mas sei que podemos chegar lá.
Estamos na luta de nossas vidas.
Nunca desista. Nunca recue. Continue avançando.
Eu estarei com você o tempo todo.
A COP 27 começa agora.