Sem sementes, alimentos e recursos, produtores agropecuários afegãos sofrem
22 novembro 2021
No Afeganistão, agricultores e pecuaristas sofrem as consequências da crise, seca e fome que assolam o país. Segundo a FAO, 18,8 milhões de afegãos não conseguem se alimentar todos os dias, sendo que o número deve aumentar para quase 23 milhões até o final do ano. As colheitas caíram entre 80 e 90%, deixando a população sem alimento. Os preços de recursos básicos necessários para produção dispararam com a inflação e os produtores rurais temem perder meios de subsistência.
Cerca de 70% dos afegãos vivem em áreas rurais e cerca de 80% de todos os meios de subsistência dependem da agricultura ou pastoreio. Sementes, fertilizantes, assistência alimentar e dinheiro são as necessidades urgentes do país. Aproximadamente 115 milhões de dólares são necessários para atender o povo afegão neste inverno e na próxima primavera.
Com os meios de subsistência rurais ameaçados, o deslocamento em massa é iminente. O fenômeno já pode ser visto em acontecimentos recentes no Tajiquistão, país vizinho, onde solicitantes de asilo vindos do Afeganistão tiveram que abandonar o país à força sem que seus pedidos de asilo e proteção pudessem ser examinados.
Organizações humanitárias da ONU informaram na sexta-feira (19) que “condições catastróficas e semelhantes à fome” pairam sobre os fazendeiros e pecuaristas do Afeganistão. As necessidades da população afegã continuam piorando com o início do inverno. Segundo a Organização para a Alimentos e a Agricultura (FAO), nem mesmo o acesso humanitário facilitado consegue conter a inflação dos preços no país, que, por sua vez, superam os recursos financeiros recebidos da ajuda humanitária.
“A situação é desastrosa. Todos os agricultores com quem falamos perderam quase todas as suas safras este ano, muitos foram forçados a vender seus rebanhos, eles acumularam dívidas enormes e simplesmente não têm dinheiro ”, disse Richard Trenchard, Representante da FAO no Afeganistão.
Luta por milhões de vidas - A agência da ONU disse que 18,8 milhões de afegãos não conseguem se alimentar todos os dias e que esse número deve aumentar para quase 23 milhões até o final do ano. O que começou como uma crise de seca se transformou em um desastre econômico, com nove em cada dez grandes centros urbanos também previstos para enfrentar dificuldades extremas, à medida que as dívidas se acumulam e as economias se retraem.
É preocupante que a seca já generalizada pareça piorar no Afeganistão, à medida que fazendeiros e pastores se preparam para um provável segundo ano consecutivo de seca em 2022, com a expectativa de que o La Niña trará condições mais secas do que o normal nos próximos meses. A situação criará um risco real de fome em 2022, a menos que o apoio imediato em grande escala para proteger essas pessoas e seus meios de subsistência chegue muito em breve, alertou a FAO.
“O que é necessário agora, obviamente, é obter sementes, fertilizantes e assistência alimentar que o Programa Mundial de Alimentos (WFP) está fornecendo... mas também, dinheiro”, insistiu o Trenchard.
Depois de visitar o distrito de Zendajan, na província de Herat, no extremo oeste do país - uma das 25 províncias atingidas pela seca - o oficial da FAO relatou que as famílias ficaram sem pessoas e instituições às quais poderiam recorrer para pedir dinheiro emprestado.
As pessoas estavam até “vendendo tudo o que podiam” para conseguir dinheiro, acrescentou.
Conjuntura devastadora - A situação é terrível porque a agricultura é a espinha dorsal do sustento do Afeganistão e crítica para a economia do país. De acordo com a FAO, cerca de 70% dos afegãos vivem em áreas rurais e cerca de 80% de todos os meios de subsistência dependem da agricultura ou pastoreio.
Trenchard disse que a seca generalizada deixou as famílias sem nada para comer durante a atual estação de escassez, depois que as colheitas caíram de 80% a 90%. Ele pediu um aumento maciço na assistência humanitária, depois de ver por si mesmo a escala de sofrimento nas ruas da zona rural de Heart.
“A única comida que eles têm é comida que as pessoas dão quando passam, etc. Está frio lá, é uma situação difícil e o que me apavora é que se esses meios de subsistência rurais entrarem em colapso, veremos um deslocamento em massa”, relatou o agente da ONU.
Apelo urgente - A FAO precisa urgentemente de 115 milhões de dólares para alcançar cinco milhões de homens, mulheres e crianças neste inverno e na próxima primavera. Desse montante, um em cada cinco dólares apoiará diretamente as mulheres afegãs.
Um pacote de assistência ao cultivo de trigo que custa 157 dólares permite que uma família de fazendeiros supra suas necessidades de cereais por um ano, em comparação com os 1.080 dólares necessários para cobrir as necessidades mínimas de alimentação de uma família média, algo que poucos podem fazer agora.
Para ajudar, a FAO já está distribuindo pacotes de cultivo para a temporada de trigo de inverno em 31 das 34 províncias do Afeganistão. Eles incluem sementes de trigo certificadas de alta qualidade e treinamento técnico fornecido localmente para garantir os melhores resultados possíveis para os agricultores.
“Se não obtivéssemos este saco de sementes de trigo certificadas, não poderíamos cultivar trigo este ano. Essas sementes melhoradas de trigo terão um rendimento muito melhor ”, disse Esmatullah Mirzada, um agricultor da aldeia Safar Khan, no distrito de Zendajan, na província de Herat.
Alerta de deportação do Tajiquistão - Não suficiente a conjuntura que assola o país, o ACNUR, a Agência de Refugiados da ONU, expressou alarme na sexta-feira (19) com a deportação de requerentes de asilo afegãos pelas autoridades tajiques nesta semana.
Segundo o relatório, 11 homens, mulheres e crianças foram “devolvidos à força” ao Afeganistão em 11 de novembro, antes que seus pedidos de asilo e proteção pudessem ser examinados.
Há também "obstáculos crescentes" para os cidadãos afegãos que buscam segurança e acesso aos procedimentos de asilo no Tajiquistão de forma mais geral, apontou o ACNUR, observando que as autoridades locais pararam de emitir autorizações de residência para todos os afegãos recém-chegados, "apesar do fato de que tal documentação é um pré-requisito para os pedidos de asilo”.