Uma criança foi infectada com HIV a cada dois minutos em 2020
30 novembro 2021
Uma prolongada pandemia de COVID-19 está aprofundando as desigualdades que há muito impulsionam a epidemia de HIV, adverte o UNICEF às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a AIDS. Um relatório liberado pela agência mostra que pelo menos 300 mil crianças foram infectadas pelo HIV em 2020, ou uma criança a cada dois minutos. Outras 120 mil crianças morreram de causas relacionadas à AIDS durante o mesmo período, ou uma criança a cada cinco minutos.
“A epidemia de HIV entra em sua quinta década em meio a uma pandemia global que sobrecarrega os sistemas de saúde e restringiu o acesso a serviços vitais. Enquanto isso, o crescimento da pobreza, problemas de saúde mental e abuso estão aumentando o risco de infecção de crianças e mulheres”, alertou a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore.
A UNESCO vem trabalhando junto ao Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), autoridades do setor de educação e de saúde, além de outros parceiros para fortalecer a resposta ao HIV em todo território brasileiro.
Um dos focos da atuação é Roraima, que apresenta a mais alta taxa de AIDS do Brasil por 100 mil habitantes. Em resposta, a ONU vem buscando apoiar políticas públicas que visam o controle da redução de casos no estado. As ações também contemplam os refugiados e migrantes venezuelanos e população indígena, ambas expostas a altos níveis de vulnerabilidade ao vírus.
Pelo menos 300 mil crianças foram infectadas pelo HIV em 2020, ou uma criança a cada dois minutos. Outras 120 mil crianças morreram de causas relacionadas à aids durante o mesmo período, ou uma criança a cada cinco minutos. As informações são de um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgado na terça-feira (30).
O último relatório HIV and Aids Global Snapshot adverte que uma prolongada pandemia de COVID-19 está aprofundando as desigualdades que há muito impulsionam a epidemia de HIV, colocando crianças, adolescentes, gestantes e lactantes vulneráveis em maior risco de não ter acesso a serviços vitais de prevenção e tratamento da doença.
Para ler o relatório completo, disponível somente em inglês, acesse aqui.
“A epidemia de HIV entra em sua quinta década em meio a uma pandemia global que sobrecarregou os sistemas de saúde e restringiu o acesso a serviços vitais. Enquanto isso, o crescimento da pobreza, problemas de saúde mental e abuso estão aumentando o risco de infecção de crianças e mulheres”, disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore.
“A menos que aumentemos os esforços para resolver as desigualdades que impulsionam a epidemia de HIV, que agora são exacerbadas pela COVID-19, podemos ver mais crianças infectadas com HIV e mais crianças perdendo sua luta contra a AIDS.” — Henrietta Fore, diretora executiva do UNICEF.
De forma alarmante, duas em cada cinco crianças vivendo com HIV em todo o mundo não sabem sua condição, e pouco mais da metade das crianças com HIV está recebendo tratamento antirretroviral (TARV). Algumas barreiras ao acesso adequado aos serviços de HIV são antigas e conhecidas, incluindo discriminação e desigualdades de gênero.
Impacto da pandemia - O relatório observa que muitos países viram interrupções significativas nos serviços de HIV devido à COVID-19 no início de 2020. O teste de HIV infantil em países com alta carga diminuiu em 50% a 70%, com novas iniciações de tratamento para crianças menores de 14 anos caindo de 25% a 50%.
Os lockdowns contribuíram para o aumento das taxas de infecção devido a picos na violência de gênero, acesso limitado a cuidados de acompanhamento e falta de estoque de produtos essenciais. Vários países também experimentaram reduções substanciais nos partos em unidades de saúde, testes de HIV maternos e início de tratamento antirretroviral para HIV. Em um exemplo extremo, a cobertura de TARV entre mulheres grávidas caiu drasticamente na Ásia Meridional em 2020, de 71% para 56%.
Embora a adoção de serviços tenha se recuperado em junho de 2020, os níveis de cobertura permanecem muito abaixo daqueles de antes da COVID-19, e a verdadeira extensão do impacto permanece desconhecida. Além disso, em regiões fortemente afetadas pelo HIV, uma pandemia prolongada pode interromper ainda mais os serviços de saúde e aumentar as lacunas na resposta global, alerta o relatório.
Lugares mais afetados - Em 2020, a África ao sul do Saara foi responsável por 89% das novas infecções pediátricas por HIV e 88% das crianças e dos adolescentes vivendo com HIV em todo o mundo, com meninas adolescentes tendo seis vezes mais probabilidade de ser infectadas pelo HIV do que meninos. Cerca de 88% das mortes infantis relacionadas à aids ocorreram nessa região.
Apesar de alguns avanços na luta contra o HIV e a aids, crianças e adolescentes continuaram sendo deixados para trás em todas as regiões na última década, diz o relatório. A cobertura global de TARV para crianças está muito atrás de gestantes (85%) e adultos (74%). O maior percentual de idade de crianças recebendo TARV está na Ásia Meridional (> 95%), seguido pelo Oriente Médio e Norte da África (77%), Leste da Ásia e Pacífico (59%), África Oriental e Meridional (57%), América Latina e Caribe (51%) e África Ocidental e Central (36%).
Dados adicionais de 2020 incluídos no relatório:
- 150 mil crianças de até 9 anos foram infectadas pelo HIV, elevando o número total de crianças nessa faixa etária vivendo com HIV para 1,03 milhão.
- 150 mil crianças e adolescentes com idades entre 10 e 19 anos foram infectados pelo HIV, elevando o número total de meninas e meninos nessa faixa etária vivendo com HIV para 1,75 milhão.
- 120 mil meninas adolescentes foram infectadas pelo HIV, em comparação com 35 mil meninos.
- 120 mil crianças e adolescentes morreram por causas relacionadas à aids; 86 mil de até 9 anos e 32 mil entre 10 e 19 anos.
- Na África Oriental e Meridional, as novas infecções anuais entre adolescentes diminuíram 41% desde 2010, enquanto no Oriente Médio e Norte da África, as infecções aumentaram 4% no mesmo período.
- 15,4 milhões de crianças perderam um ou ambos os pais devido a causas relacionadas à aids no ano passado. Três quartos dessas crianças, 11,5 milhões, vivem na África ao sul do Saara. As crianças órfãs por causa da aids representam 10% de todos os órfãos em todo o mundo, mas 35% de todos os órfãos vivendo na África ao sul do Saara.
“Reconstruir melhor em um mundo pós-pandêmico deve incluir respostas ao HIV que sejam baseadas em evidências, centradas nas pessoas, resilientes, sustentáveis e, acima de tudo, equitativas”, disse Fore.
“Para fechar as lacunas, essas iniciativas devem ser realizadas por meio de um sistema de saúde reforçado e do envolvimento significativo de todas as comunidades afetadas, especialmente as mais vulneráveis”.
Brasil e a luta contra a AIDS
Embora um progresso considerável tenha sido feito para acabar com a AIDS como uma ameaça à saúde pública, a epidemia de HIV não acabou e os jovens continuam desproporcionalmente em risco. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), só em 2020, 410 mil jovens entre 10 e 24 anos foram infectados pelo HIV, dos quais 150.000 eram adolescentes entre 10 e 19 anos. Além disso, o conhecimento sobre HIV entre os jovens continua muito baixo, com apenas um em três demonstrando conhecimento preciso.
Educação sexual - A educação integral em sexualidade (EIS) é essencial para que os jovens possam se proteger do HIV. Também ajuda os jovens a evitar gravidez não planejada e outras infecções sexualmente transmissíveis, incentiva-os a buscar informações e serviços relacionados à saúde, promove valores de tolerância, respeito mútuo e não violência nos relacionamentos e apoia uma transição segura para a vida adulta.
O trabalho da UNESCO na educação e no HIV — com foco na atuação estratégica para o aumento do acesso à educação integral, segura e inclusiva em sexualidade — é parte fundamental da resposta global à AIDS. A Organização apoia as autoridades educacionais nacionais e parceiros para fortalecer seus currículos existentes e adaptar o conteúdo e as abordagens ao seu contexto local.
Resposta nacional - A UNESCO vem trabalhando junto ao Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), autoridades do setor de educação e de saúde, além de outros parceiros para fortalecer a resposta ao HIV em todo país.
Um dos focos da atuação é Roraima, que apresenta a mais alta taxa de AIDS do Brasil por 100 mil habitantes. Em resposta, UNESCO e UNAIDS vêm buscando apoiar políticas públicas que visam o controle da redução de casos no estado. As ações também contemplam os refugiados e migrantes venezuelanos e população indígena, ambas expostas a altos níveis de vulnerabilidade ao HIV.
Este ano, o Dia Mundial de Luta contra a AIDS está repleto de atividades direcionadas aos jovens refugiados e migrantes venezuelanos nos abrigos da Operação Acolhida de Roraima e em outros locais.