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Retrospectiva 2021: apoio da ONU a países em conflito

28 dezembro 2021

O ano de 2021 foi marcado por graves conflitos pelo globo, contudo as Nações Unidas reafirmaram seu mandato de paz e proteção de civis em meio a tanta insegurança e violência. 

Em uma retrospectiva do ano, o serviço de notícias da ONU relembra os cenários mais instáveis e delicados. De conflitos de longa duração, como na Síria, Iêmen, Palestina e Israel, à eclosão de novos desafios e focos de violência em Mianmar, Afeganistão, Etiópia e Sudão, e muitos outros, a ONU, agentes de paz e de ajuda humanitária, trabalharam arduamente em todos os pontos de conflito do globo para reestabelecer a paz no mundo.

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Legenda: Um soldado da paz da ONU patrulha um vilarejo em Bandiagara, em Mopti, no Mali
Foto: © Gema Cortes/MINUSMA

Em 2021, conflitos de longa duração continuaram na Síria e no Iêmen, enquanto novos distúrbios causaram séria instabilidade em Mianmar, Afeganistão, Etiópia e Sudão. As forças de manutenção da paz dos "capacetes azuis" das Nações Unidas sofreram perdas e ferimentos, especialmente aqueles que serviam em missões de manutenção da paz no Mali e na República Centro-Africana. O serviço de notícias da ONU, UN News, divulgou uma retrospectiva com os principais confrontos no mundo e a atuação das Nações Unidas em seu compromisso de proteger as pessoas envolvidas.

Síria: paz negada por um abismo de desconfiança - O terrível marco de dez anos do conflito na Síria, que matou mais de 350 mil pessoas, fez com que o enviado especial da ONU para o país, Geir Pedersen, trabalhasse incansavelmente para avançar o processo de paz, em meio ao que chamou de “lento tsunami” de crises, com o colapso econômico agravado pela COVID-19, corrupção e má gestão.

Várias vezes ao longo do ano, Pedersen fez sua avaliação realista da situação humanitária e de segurança no país, caracterizada pelo que ele chamou de “abismo de desconfiança” entre as partes em conflito e frequentes ataques a civis.

As tentativas de chegar a um acordo sobre uma nova constituição para a Síria começaram em outubro, mas esses esforços foram infrutíferos, pelo menos por enquanto. O enviado especial reconheceu que o resultado foi uma decepção, mas exortou os membros do Comitê Constitucional a continuarem seu trabalho.

Iêmen: batendo na porta da fome - A população do Iêmen imersa no desespero enfrentou os níveis mais altos de desnutrição aguda desde o início do conflito em 2015, com mais da metade da população enfrentando grave escassez de alimentos. O chefe do Programa Mundial de Alimentos (WFP) da ONU, David Beasley, alertou em março que milhões estavam “batendo à porta da fome”.

A primavera no país registrou uma dramática deterioração do conflito, com a expansão dos combates em várias frentes, e a ONU confirmou que o país continua sendo a pior crise humanitária do mundo.

Um novo enviado da ONU para o Iêmen, Hans Grundberg, foi nomeado em setembro, sem ilusões sobre a dificuldade de trazer paz e estabilidade ao país, já que um relatório da UNICEF mostrou que cerca de 10 mil crianças foram mortas ou mutiladas desde o início dos combates.

Existe esperança real para o fim da luta? Sim, diz o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que divulgou um relatório em novembro mostrando que, se as partes beligerantes concordarem em parar de lutar, a pobreza extrema poderá ser erradicada em uma geração.

Afeganistão: tomada do Talibã - A atenção internacional se voltou para o Afeganistão após a vitória militar chocantemente rápida do Talibã, que invadiu a capital, Cabul, em agosto, após a retirada da maioria das tropas internacionais em junho.

A tomada do Talibã foi precedida por um aumento acentuado na violência, como o bombardeio de uma escola para meninas em Cabul em maio, que matou pelo menos 60, incluindo várias meninas.

No mês seguinte, 10 desminadores da ONG The HALO Trust foram mortos na região norte, em um ataque descrito pelo Conselho de Segurança como “atroz e covarde”. Um relatório divulgado em julho revelou que mais mulheres e crianças foram mortas e feridas no Afeganistão no primeiro semestre de 2021 do que nos primeiros seis meses de qualquer ano, desde o início dos registros em 2009.

Quando ficou claro que o Talibã havia se tornado o governante de fato do Afeganistão, o foco da ONU mudou para garantir que o apoio humanitário permanecesse o mais forte possível, milhões morreram de fome com o início do inverno e voos de ajuda para Cabul foram retomados só em setembro. Em dezembro, o WFP exortou os países a colocar a política de lado e aumentar o apoio para evitar uma catástrofe potencial.

Etiópia: grave incerteza - A região de Tigray no norte da Etiópia tem sido o epicentro dos combates entre as tropas do governo e as forças regionais da Frente de Libertação do Povo Tigray.

A escalada de violência aumentou as preocupações humanitárias. Em fevereiro, as pessoas deslocadas pela violência foram obrigadas a comer folhas para sobreviver. Em junho, o WFP estimou que cerca de 350 mil pessoas corriam o risco de passar fome.

Houve relatos persistentes de violações dos direitos humanos em Tigray, incluindo relatos perturbadores de abusos de civis e trabalhadores humanitários sendo alvos. Três funcionários da agência Médicos Sem Fronteiras (MSF) foram mortos em junho e, em julho, altos funcionários da ONU apelaram por acesso humanitário imediato e irrestrito a Tigray e pelo fim dos ataques mortais a trabalhadores humanitários.

No entanto, a violência continuou a aumentar e o país estava em estado de emergência em novembro, quando o escritório de direitos da ONU compartilhou relatos de pessoas de origem de Tigray sendo presas na capital, Addis Abeba, e em outros lugares.

A chefe política da ONU, Rosemary Di Carlo, informou o Conselho de Segurança que o futuro do país estava agora envolto em “grave incerteza” e afeta a estabilidade de toda a região africana. E o Conselho de Direitos Humanos estabeleceu uma comissão para investigar as alegações de abusos e violações.

Mianmar: um desafio para a estabilidade regional - A decisão dos militares de Mianmar de deter os principais líderes políticos do país e funcionários do governo em um golpe, incluindo a conselheira de Estado Aung San Suu Kyi e o presidente Win Myint, foi terminantemente condenada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, em fevereiro.

As detenções foram seguidas por um estado de emergência e uma repressão violenta e generalizada contra os dissidentes. No entanto, as manifestações contra a tomada de governo aumentaram em fevereiro, levando à morte de vários manifestantes. A enviada especial da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, alertou que a situação no país é um desafio para a estabilidade da região.

Durante os meses que se seguiram, os protestos continuaram, a violência contra os manifestantes aumentou e altos funcionários da ONU condenaram as ações dos militares. Um relatório da ONU em abril levantou temores de que o golpe, juntamente com o impacto da COVID-19, poderia resultar em até 25 milhões de pessoas - quase metade da população do país - vivendo na pobreza no início de 2022.

A ONU pediu uma resposta internacional urgente para evitar que a crise se tornasse uma catástrofe para todo o Sudeste Asiático, mas, em setembro, o poder dos militares parecia ter se consolidado. Em dezembro, o Escritório de Direitos da ONU alertou que a situação dos direitos humanos no país estava se deteriorando a um ritmo sem precedentes.

Mali: uma zona de perigo de manutenção da paz - As tentativas apoiadas pela ONU de negociar a paz no Mali, após o golpe militar de 2020, não conseguiram evitar uma crise de segurança que se agravou em 2021.

O país, na região do Sahel, na África, manteve seu status de posto mais perigoso do mundo para os soldados da paz da ONU e, infelizmente, muitos deles sofreram consequências irreversíveis enquanto cumpriam seu dever.

Os primeiros ataques mortais aos capacetes azuis da ONU ocorreram em 14 de janeiro deste ano, quando quatro foram mortos e cinco feridos. Outro ataque deixou mais um soldado da paz morto apenas dois dias depois.

No mês seguinte, uma base operacional temporária da Missão de Estabilização Integrada da ONU para o Mali (MINUSMA) em Kerena, perto de Douentza, no centro de Mali, foi atacada, resultando na morte de um pacificador e ferimentos em 27 outros. 

Em abril, o chefe das forças de paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, alertou que os 'capacetes azuis' e as Forças de Defesa e Segurança do Mali continuam a sofrer repetidos ataques e perdas significativas, enquanto algumas grandes cidades vivem sob constante ameaça de grupos armados. 

O número de mortos continuou a aumentar, os ataques em outubro e novembro deixaram dois soldados da paz mortos, enquanto, em dezembro, sete foram mortos e três ficaram gravemente feridos, quando um veículo atingiu um dispositivo explosivo improvisado na região de Bandiagara. Até o momento, mais de 200 soldados da paz foram mortos no Mali.

A presença deles no país, no entanto, continua a ser essencial, cerca de 400 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas devido ao conflito e cerca de 4,7 milhões dependem de alguma forma de ajuda humanitária.

Devastação causada por conflito prolongado no Iêmen
Legenda: Devastação causada por conflito prolongado no Iêmen
Foto: © PNUD Iêmen

Outros pontos de tensão - A agência de notícias da ONU acompanhou eventos em muitos outros países atingidos por surtos de violência e conflito em 2021.

  • Visitando Burkina Faso em dezembro, a chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, lamentou o fato de que a nação da África Ocidental enfrenta “uma infinidade de desafios com graves impactos em uma ampla gama de direitos humanos de seu povo”. Um ataque em uma parte rural do país em junho deixou pelo menos 132 mortos, enquanto outro em agosto resultou na morte de cerca de 80.
  • A República dos Camarões permaneceu atormentada por tensões ao longo do ano, com separatistas nas regiões de língua inglesa do país lutando para criar seu próprio estado. A ONU revelou em dezembro que mais de 700 mil crianças foram afetadas pelo fechamento de escolas devido à insegurança e violência.
  • A República Centro-Africana foi atingida por uma onda de violência após as eleições presidenciais no final de dezembro de 2020, civis e soldados da paz da ONU foram os alvos. Centenas de milhares foram expulsos de suas casas pela violência, e o alto funcionário da ONU, Mankeur Ndiaye, alertou o Conselho de Segurança em junho sobre uma “crise humanitária sem precedentes”. 
  • A República Democrática do Congo sofreu mais um ano de ataques violentos contra civis, com incidentes relatados pela UN News praticamente todos os meses, desde uma série de assassinatos em aldeias em janeiro, à condenação de abusos em massa dos direitos humanos em julho, e com milhares em fuga em novembro. Ao longo do ano, trabalhadores humanitários e agentes da paz da ONU também foram atacados.
  • O Haiti já estava em uma longa crise política, de segurança e humanitária, muito antes do assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho. Em outubro, a oficial sênior da ONU no país, Helen La Lime, alertou que o Haiti estava passando por “um dos períodos mais tensos de sua história recente”.
  • O Iraque foi palco de bombardeios mortais, incluindo um atentado suicida em um movimentado mercado de Bagdá em janeiro, e outro na capital, pouco antes do feriado Eid al-Adha, em julho. Em novembro, a Missão da ONU no país condenou uma tentativa de assassinato do primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi, quando sua casa foi atingida por um ataque de drone.
  • O Níger passou por uma primavera mortal, durante a qual centenas de civis foram mortos em ataques terroristas. Em janeiro, cerca de 100 morreram no oeste do país como resultado da violência armada, e cerca de 200 civis foram mortos na região de Tahoua em março, incluindo cerca de 30 crianças.
  • Na Nigéria, os sequestros em massa continuaram a ser uma ameaça para os alunos. O chefe da ONU, António Guterres, pediu a libertação incondicional de cerca de 30 alunos sequestrados de uma escola no noroeste do país em março, e muitos deles continuam desaparecidos após sequestros anteriores.
  • Os distúrbios na Palestina e em Israel aumentaram em maio, com pelo menos 60 jovens mortos no enclave palestino ocupado de Gaza e outros 444 feridos em um período de dez dias. Após 11 dias de ataques aéreos e de foguetes, um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, momento em que cerca de 240 foram mortos e milhares feridos, a maioria em Gaza.
  • Na Somália, após meses de escalada de tensões e violência, a ONU celebrou a cúpula de negociações durante a primavera, que foram seguidas em agosto por um acordo eleitoral entre o primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble e os chefes dos estados membros federais da Somália.
  • Pessoas na maior parte do Sudão do Sul estão enfrentando violência extrema e ataques, aponta uma investigação da ONU conduzida em fevereiro. O Fundo das Nações Unidas para a Infância, o UNICEF, alertou que, uma década após o país ter alcançado a independência, mais crianças precisam urgentemente de assistência humanitária do que nunca.
  • A experiência do Sudão na divisão conjunta do poder entre os líderes militares e civis, após a destituição do governante de longa data Omar al-Bashir em 2019, foi descarrilada em outubro por um golpe militar. Com o primeiro-ministro restaurado posteriormente em seu cargo, o enviado da ONU, Volker Perthes, disse ao Conselho de Segurança em dezembro que, enquanto as discussões sobre o caminho a seguir estão em andamento, restaurar a confiança será um desafio.

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