Em visita à Etiópia, vice-chefe da ONU ressalta importância da paz para o desenvolvimento sustentável
11 fevereiro 2022
A vice-secretária-geral das Nações Unidas, Amina Mohammed, realizou uma visita oficial à Etiópia entre 5 e 9 de fevereiro. Sua esperança é que a viagem destaque as necessidades existentes do país e que futuras parcerias possam trazer mais investimentos, e não apenas ajuda humanitária, para a região.
De sobreviventes de estupro a jovens empresárias, a vice-secretária-geral passou a semana conhecendo pessoas cujas vidas foram arruinadas pelo conflito na Etiópia. Autoridades locais, líderes governamentais e estudantes também estiveram em sua lista de encontros oficiais.
Durante a visita, ela participou, em nome do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, da 35ª sessão ordinária da Assembleia da União Africana.
A visita da oficial da ONU veio logo após o último apelo do secretário-geral pela a cessação das hostilidades para acabar com o conflito interno que assola o país desde 2020.
A vice-secretária-geral das Nações Unidas, Amina Mohammed, concluiu na quarta-feira (09) uma visita de cinco dias à Etiópia. A viagem da oficial das Nações Unidas iniciou em 5 de fevereiro, quando chegou ao país para representar o secretário-geral, António Guterres, na 35ª sessão ordinária da Assembleia da União Africana, realizada na capital Adis Abeba. Entre os marcos da visita da vice-chefe da ONU, estão as paradas em quatro regiões do país – Amhara, Tigray, Afar e Somali.
A população etíope precisa desesperadamente de ajuda humanitária, pois tem sofrido nos últimos anos com conflitos militares internos desde 2020, agravados por insegurança alimentar e secas. Nas três regiões do norte afetadas pelo conflito, mais de nove milhões de pessoas agora precisam de assistência alimentar humanitária, o número mais alto até agora, desde o início do conflito.
Durante a visita, Mohammed destacou a determinação das Nações Unidas de permanecer um parceiro imparcial e engajado na prestação de assistência humanitária e no fornecimento de apoio ao desenvolvimento ao governo e a todos os etíopes.
“O maior apelo para as Nações Unidas na Etiópia é entregar urgentemente assistência humanitária às pessoas que mais precisam. Esta urgência é particularmente importante para as mulheres e crianças”, afirmou a vice-secretária-geral no final da sua visita.
União Africana e ONU - Após a Cúpula da União Africana, a oficial sublinhou as observações do secretário-geral sobre o evento, reforçando que a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2063 da União Africana era “é o pilar da relação entre as duas organizações”.
Para ela, “as oportunidades para enfrentar os desafios da África são enormes”, acrescentando que “é importante alinhar a Agenda 2030 das Nações Unidas e a Agenda 2063 da União Africana para que seus diversos povos desfrutem de paz e segurança e meios de subsistência sustentáveis”.
Diálogo com líderes etíopes - Mohammed também se encontrou com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed. Durante o diálogo com o chefe de governo, ela enfatizou o compromisso das Nações Unidas de continuar a apoiar o governo em seu progresso para cumprir a Agenda 2030 em busca de fazer do país um exemplo de prosperidade ainda durante esta Década de Ação.
Além disso, de 6 a 9 de fevereiro, a vice-secretária-geral reuniu-se com outros líderes e funcionários do governo, autoridades regionais, líderes de clãs e outras partes interessadas, para discutir o apoio das Nações Unidas ao governo e aos parceiros de desenvolvimento e entender os desafios que estes encontram para atender às necessidades humanitárias das famílias em diferentes áreas, bem como evidenciar como seguir no caminho certo para cumprir a promessa dos ODS.
“Quando encontrarmos a paz, podemos começar a jornada de volta à recuperação econômica e à restauração da dignidade e dos meios de subsistência”, destacou a vice-chefe da ONU.
Ela prometeu à autoridade da região de Afar: “As Nações Unidas irão acompanhá-los na transição do conflito para a paz até o desenvolvimento. Continuaremos a fornecer ajuda humanitária a todas as regiões para que nenhum etíope sofra”.
Civis em apuros - Além disso, Mohammed se reuniu com populações locais, incluindo jovens e mulheres, impactados pelo conflito e pela seca em curso.
Expressando tristeza pelo impacto do conflito sobre os civis, ela reiterou em todos os compromissos oficiais que desempenhou no país o apelo do secretário-geral a todas as partes na Etiópia para uma cessação imediata das hostilidades para que o apoio humanitário chegue a todos aqueles que são afetados. Segundo ela, o cessar-fogo também “abrirá o caminho para um diálogo nacional inclusivo muito necessário envolvendo todos os etíopes”.
Em um coletiva de imprensa, a vice-secretária-geral expressou confiança de que o conflito possa chegar ao fim. Segundo ela, o país está hoje numa situação muito melhor do há alguns meses, com menos hostilidades e mais diálogos em busca da paz.
Referindo-se aos graves efeitos do conflito vivido por mulheres e crianças, a oficial das Nações Unidas pediu o fim imediato da violência sexual e de gênero, entre outras atrocidades, e citou a necessidade de apoio abrangente de saúde física e mental para todos que sofreram violência física e psicológica. Ela pediu às autoridades que envolvam as mulheres nos esforços de recuperação e reconstrução.
Papel promissor feminino - Para enfatizar o papel das mulheres e meninas no desenvolvimento sustentável, a vice-secretária-geral reuniu-se, em Adis Abeba, com um grupo de jovens empreendedoras, que fazem parte de um projeto apoiado pelas Nações Unidas. Elas compartilharam preocupações e destacaram tangivelmente a importância de sua contribuição para o progresso da Etiópia.
As empreendedoras fazem parte de um Centro Criativo apoiado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). Mohammed expressou esperança ao ver o “rico espírito das mulheres etíopes” representado no grupo. Falando com as mulheres, ela as lembrou da força que elas possuem por estarem juntas e apoiando umas às outras.
“O que eu gosto sobre o espírito aqui é que vocês não estão esperando que alguém lhes diga como fazer. Vocês estão apenas dizendo: 'dê-me a oportunidade de criar o ambiente e eu posso fazê-lo. Eu posso cultivá-lo. Posso ser muito maior e melhor. E isso é emocionante”, celebrou Mohammed.
Seca é agravante - Sobre a seca prolongada na região Somali, Mohammed disse que entende a situação como um possível impacto negativo das mudanças climáticas, destacando que a ação climática e o cumprimento dos ODS são fundamentais para reverter esse tipo de crise.
Ela elogiou o plano governamental de construir mais barragens e desenvolver projetos de água na Etiópia, bem como a iniciativa da autoridade da região Somali de realizar investimentos e desenvolvimento para melhorar a vida da população. A vice-chefe da ONU também deu destaque e agradeceu às comunidades anfitriãs pelo forte apoio que estão dando à comunidade rural e outros grupos que foram deslocados para encontrar pontos de água para famílias e gado.
A coordenadora humanitária residente das Nações Unidas na Etiópia, Catherine Sozi, que fez parte da delegação da vice-secretária-geral durante a visita, observou que, em 2021, a Organização conseguiu fornecer mais de 18 milhões de dólares em ajuda aos mais necessitados em Somali. E revelou ainda que um adicional de 20 milhões de dólares estava prestes a ser alocado para a região.
Sobre o conflito na Etiópia - O conflito no país começou em 3 de novembro de 2020, quando tropas oficiais lançaram uma ofensiva contra as forças regionais em Tigray, colocando o país em uma situação instável e repleta de insegurança. Desde então, os combates vêm desestabilizando o país africano deixando milhares de pessoas mortas, deslocadas e outras 400 mil vivendo em situação de fome.
Sobre a vice-secretária-geral - Amina Mohammed foi nomeada a quinta vice-secretária-geral das Nações Unidas por António Guterres em dezembro de 2016 e atualmente é responsável pela implementação da Agenda 2030 como presidente do Grupo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.