Pandemia de COVID-19 afetou mulheres desproporcionalmente nas Américas, aponta relatório da OPAS
10 março 2022
Relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostra que as desigualdades de gênero na saúde aumentaram nas Américas e pede dados desagregados para conceber uma resposta mais inclusiva.
Durante a pandemia, o papel de cuidadora expôs as mulheres a um risco aumentado de contrair COVID-19. Compondo a grande maioria dos profissionais de saúde, as mulheres estiveram na linha de frente, cuidando de pacientes, e representaram 72% de todos os casos de COVID-19 entre profissionais de saúde da região.
A pandemia de COVID-19 teve um impacto desproporcional sobre as mulheres nas Américas, ameaçando seu desenvolvimento e bem-estar e contribuindo para o aumento da desigualdade de gênero na saúde, revela um novo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O relatório “Gender and Health Analysis: COVID-19 in the Americas”, lançado nesta terça-feira (8) durante um webinar para marcar o Dia Internacional da Mulher, explora os efeitos da pandemia em mulheres e meninas e apresenta resultados em áreas como saúde, emprego e bem-estar social. O evento contou com a participação de Karen Sass, diretora da área de Incapacidade da Secretaria Nacional de Cuidados do Ministério do Desenvolvimento Social do Uruguai, e Hugh Adsett, embaixador e representante permanente do Canadá junto à Organização dos Estados Americanos (OEA).
"Este relatório ressalta que a desigualdade de gênero é uma crise social, econômica, política e de saúde em curso, que foi exacerbada pela pandemia", disse a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne. “Mas também destaca onde precisamos trabalhar mais para criar um futuro mais justo, resiliente e sustentável”, enfatizou.
Durante a pandemia, o papel de cuidadora expôs as mulheres a um risco aumentado de contrair COVID-19. Compondo a grande maioria dos profissionais de saúde, as mulheres estiveram na linha de frente, cuidando de pacientes, e representaram 72% de todos os casos de COVID-19 entre profissionais de saúde da região. "Se elas tivessem sido melhor protegidas desde o início e com turnos razoáveis, muitas infecções poderiam ter sido evitadas", acrescentou Etienne.
Os custos físicos e emocionais de trabalhar longos turnos em hospitais e a preocupação com a exposição à COVID-19 acompanharam muitas profissionais de saúde do sexo feminino até suas casas, onde muitas vezes eram responsáveis por 80% das tarefas. O estudo aponta para várias pesquisas que mostram que as mulheres que trabalham na área da saúde são mais propensas a sofrer de ansiedade e depressão, insônia ou esgotamento do que seus colegas do sexo masculino.
Durante os lockdowns para conter a propagação do vírus, as mulheres também passaram mais tempo em casa, um lugar inseguro para muitas delas. As chamadas para linhas diretas de violência doméstica aumentaram 40% em alguns países durante esses períodos. Em outros, caíram drasticamente, indicando que as mulheres podem ter enfrentado novas barreiras para buscar ajuda.
A COVID-19 também teve um impacto relevante na saúde das mulheres. O relatório destaca que, embora os dados mostrem que as mulheres foram menos propensas a desenvolver doença grave por COVID-19 do que os homens, elas estavam mais propensas ao diagnóstico tardio. E, uma vez diagnosticadas, morreram mais cedo, sugerindo que muitas delas não receberam cuidados adequados em tempo oportuno.
Enquanto isso, o redirecionamento dos serviços de saúde para lidar com a emergência do COVID-19 deixou muitas mulheres e meninas sem o apoio necessário para se manterem saudáveis. Na América Latina e no Caribe, uma em cada quatro adolescentes não teve acesso a serviços de planejamento familiar, o que as deixou expostas à gravidez indesejada, riscos à saúde e evasão escolar, entre outros.
A pandemia também agravou a mortalidade materna. As gestantes tiveram que equilibrar o medo da COVID-19 com a incerteza de poder dar à luz com segurança em uma unidade de saúde, e muitas não receberam a atenção necessária a tempo. Nos últimos dois anos, mais de 365 mil casos de COVID-19 foram notificados entre mulheres grávidas na região, e mais de 3 mil delas morreram.
O relatório também alerta que a incorporação de uma abordagem de gênero na resposta à pandemia tem sido insuficiente. O gênero não aparece nas análises dos efeitos diretos e indiretos da pandemia, dificultando o reconhecimento e a compreensão das diferentes consequências que a COVID-19 teve em homens e mulheres.
“A pandemia exige uma transformação radical na geração, análise e uso de dados desagregados para identificar as desigualdades em saúde”, afirmou o subdiretor da OPAS, Jarbas Barbosa. "Sem dados e evidências quantitativas e qualitativas, nossos esforços em equidade de gênero e outros aspectos da saúde ficam significativamente comprometidos", adicionou.