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O poder das alianças: por que apoiar nossos pacificadores é mais importante do que nunca

27 maio 2022

Para marcar o Dia Internacional dos Trabalhadores das Forças de Paz da ONU, o subsecretário-geral para as Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix, escreveu um artigo exaltando a relevância e os desafios modernos enfrentados pelos capacetes-azuis.

A frequência de ataques contra forças de paz aumentou de 280 em 2020, para 463 no ano passado. Em 2021, houve 24 mortes devido a esses atos violentos.

Para Lacroix, um dos motivos que explicam esta escalada na violência contra as equipes de paz é o aumento da circulação de desinformação. 

 

Trabalhadores das forças de paz vietnamitas servindo na missão da ONU no Sudão do Sul plantam uma muda como parte de um projeto com jovens locais.
Legenda: Trabalhadores das forças de paz vietnamitas servindo na missão da ONU no Sudão do Sul plantam uma muda como parte de um projeto com jovens locais.
Foto: © Tenente Phuc Nguyen Tien/UNMISS

Por Jean-Pierre Lacroix*



Todos os dias, trabalhadores das forças de paz das Nações Unidas se mobilizam para fornecer proteção a centenas de milhares de pessoas vulneráveis ​​nas situações políticas e de segurança mais frágeis do mundo.

Nossas equipes civis e também as uniformizadas apoiam cessar-fogos, previnem e respondem à violência, investigam violações e abusos de direitos humanos e ajudam a construir a paz, a recuperação e o desenvolvimento em países afetados por conflitos. Não há dúvida de que essa presença salva e muda vidas.

No Sudão do Sul, mais de 80% dos entrevistados em um estudo de percepção recente disseram que se sentiam mais seguros por causa da presença de forças de paz da ONU. Comunidades em outras zonas de conflito também testemunham o impacto dos trabalhadores de manutenção da paz. Durante a operação "Deixe a paz reinar" na República Centro-Africana, os líderes locais relataram que o aumento das patrulhas coibiu grupos armados, enquanto o fornecimento de água potável, assistência médica e a reabilitação de estradas pelas forças de paz melhoraram muito a qualidade de vida. "Isto impede os inimigos da paz em nossa região, fazendo com que a paz retorne e nos permita circular livremente", disse Iyo Feikoumon, da vila de Doyi.

Em algumas operações de manutenção da paz, a principal tarefa é fornecer proteção robusta aos civis devido à natureza da ameaça no terreno. Nossos militares e policiais fazem o possível para cumprir esse mandato em condições difíceis e muitas vezes perigosas. No entanto, o objetivo final é criar as condições para soluções políticas e paz sustentável. Essa é a verdadeira medida do nosso sucesso.

Alcançar tal resultado é cada vez mais difícil em um clima político e de segurança global cada vez mais tenso.

Os conflitos são mais complexos e multifacetados, com tensões locais alimentadas por forças nacionais, regionais e internacionais que atuam em prol de seus próprios interesses. Um número crescente de atores envolvem-se com a violência, incluindo de natureza criminal, terrorista e armada. É difícil estabelecer contato com esses indivíduos e grupos, que são movidos por diversos objetivos e muitas vezes ligados ao crime organizado transnacional, porque eles não têm interesse real em alcançar acordos políticos que promovam uma paz duradoura.

Estamos testemunhando uma abordagem menos unida para a resolução de conflitos entre as potências mundiais devido às crescentes divisões políticas que, por sua vez, reduzem a pressão sobre as partes em conflito para acabar com a violência e fazer concessões. Essas divisões são evidentes nas resoluções do Conselho de Segurança relacionadas aos mandatos de manutenção da paz, com menor unanimidade observada nas decisões tomadas pelos Estados-membros, especialmente nas renovações de mandatos, bem como menor apoio às nossas missões de paz quando enfrentam desafios no terreno.

O aumento de desinformação também está criando novas e crescentes ameaças à segurança do pessoal da ONU e das comunidades que eles servem. Em lugares como Mali, República Centro-Africana e República Democrática do Congo (RDC), as notícias falsas alimentam a luta e a hostilidade em relação às missões de manutenção da paz. Estamos vivenciando um aumento de ataques em nossas bases, emboscadas em comboios e aumento do uso de artefatos explosivos improvisados. Nesse ambiente, a emblemática bandeira azul que deveria dar segurança às forças de paz agora corre o risco de transformá-las em alvo de ataques.

Apesar dos nossos maiores esforços para manter as equipes seguras, cada vez mais trabalhadores da paz estão sendo feridos ou mortos nessas condições instáveis. A frequência de ataques perversos contra forças de paz aumentou de 280 em 2020, para 463 no ano passado. Em 2021, houve 24 mortes devido a esses atos violentos.

Entre aqueles que perdemos estão oito capacetes-azuis que morreram quando o helicóptero onde estavam caiu no leste da RDC em março, durante uma missão de reconhecimento para ajudar a proteger civis. Estive em uma cerimônia fúnebre muito comovente com meus colegas em Goma. Todos nós entendemos que o risco e a perda são inevitáveis ​​dada a natureza do nosso trabalho, mas nos unirmos nessas circunstâncias trágicas nos lembra do imenso preço que os capacetes-azuis e suas famílias pagam. A eles, quero prestar homenagem. Seu sacrifício nos inspira a redobrar nossos esforços para construir a paz e a estabilidade.

A ONU não está sozinha na empreitada para a manutenção da paz. Trabalhamos em conjunto com outros parceiros pela causa da paz.

Entre eles estão as organizações humanitárias que prestam assistência vital aos mais vulneráveis. Parcerias fortes com as comunidades também são críticas, inspirando-nos com sua resiliência e persistência para ajudar a resolver tensões, apoiar a reconciliação e construir a paz. Mulheres e jovens também são parceiros cruciais como poderosos defensores da paz, assim como a sociedade civil e a mídia, que lançam luz sobre os desafios e ajudam a promover soluções. Continuamos a fortalecer nossas parcerias com os 122 estados-membros que contribuem com mais de 75 mil militares e policiais para nossas 12 operações de manutenção da paz. Contamos com o consentimento e participação ativa dos governos anfitriões, bem como o apoio forte e unido dos parceiros regionais e internacionais, para persuadir as partes a deixar de lado suas diferenças e fazer as concessões necessárias para chegar a acordos políticos.

Por isso, este ano celebramos o Dia Internacional dos Trabalhadores das Forças de Paz da ONU sob o tema "Pessoas. Paz. Progresso. O poder das alianças". É uma oportunidade para agradecer aos parceiros por sua contribuição e fazer um novo apelo à ação na busca pela paz e segurança mundiais.

As missões de paz são uma ferramenta imperfeita que nunca pode atender a todas as necessidades ou expectativas. Há situações em que somos impedidos ou deixamos de cumprir nossos mandatos, e deixamos a nós mesmos e aqueles a quem servimos desapontados, inclusive em casos de má conduta por parte de nossos funcionários.

Mesmo que isso ocorra, permaneceremos prestando contas, questionando constantemente nosso desempenho e encontrando maneiras de ser mais inovadores e eficazes, especialmente por meio da iniciativa “Ação pela Manutenção da Paz”, que define áreas prioritárias onde o progresso é necessário. Isso inclui fortalecer nossa capacidade de promover soluções políticas e apoiar a paz sustentável, melhorar a proteção dos civis e a segurança das forças de manutenção da paz, implementar a Agenda Mulheres, Paz e Segurança e avaliar rigorosamente nosso próprio desempenho.

Nossos objetivos e metas são ambiciosos e nem todos serão alcançados.

Às vezes, podemos ser questionados sobre o valor e o impacto da manutenção da paz.

Mas se não for a manutenção da paz, o que será? Existe hoje uma solução melhor para manter o cessar-fogo, proteger civis, evitar o caos e apoiar os esforços de paz nos complexos ambientes afetados por conflitos em que nossas operações são instaladas?

Apesar dessas questões e dos muitos desafios diante de nós, as operações de manutenção da paz das Nações Unidas continuarão, juntamente com nossos parceiros, a ser uma forte força de mudança e um esforço coletivo para alcançar a paz e o progresso para todos os povos.

*Jean-Pierre Lacroix é subsecretário-geral da ONU para as Operações de Paz.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

MONUSCO
United Nations Organization Stabilization Mission in the DR Congo
UNDPO
Department of Peace Operations
UNMISS
United Nations Mission in South Sudan

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa