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1,6 bilhão de pessoas estão sendo afetadas pela guerra na Ucrânia

08 junho 2022

O Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentos, Energia e Finanças (GCRG, na sigla em inglês) publicou nesta quarta-feira (8) uma nova análise dos efeitos da guerra na Ucrânia, estimando que 1,6 bilhão de pessoas estão sofrendo com ao menos uma das dimensões da crise. 

O grupo também estimou que o número de pessoas em insegurança alimentar no mundo pode subir de 276 milhões para 323 milhões em decorrência do aumento generalizado dos custos de vida. 

Em uma coletiva de imprensa, o secretário-geral da ONU, António Guterres,  disse que a guerra está desencadeando “uma onda sem precedentes de fome e miséria, deixando o caos social e econômico em seu rastro”.

 

Uma família compartilha uma refeição no Iêmen com alimentos fornecidos pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP).
Legenda: Uma família compartilha uma refeição no Iêmen com alimentos fornecidos pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP).
Foto: © Saleh Hayyan/WFP

Os efeitos em cascata da guerra na Ucrânia estão gerando uma grave crise relacionada aos custo de vida da qual nenhum país ou comunidade pode escapar. Esta constatação foi feita pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta quarta-feira (8), em uma coletiva de imprensa para lançar o último relatório do Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentos, Energia e Finanças (GCRG, na sigla em inglês). O grupo foi criado em abril para estudar os efeitos da guerra na Ucrânia entre os mais vulneráveis do mundo.

A mais recente análise publicada pelo GCRG estima que 1,6 bilhão de pessoas em 94 países estejam expostas a pelo menos uma das três dimensões da crise, sendo que cerca de 1,2 bilhão delas estão vivendo em países severamente afetados pela tormenta que atinge simultaneamente os três setores: alimentos, energia e financeiro. 

Outra conclusão do documento é que a crise está ampliando as consequências de outros desafios enfrentados pelos países, como a emergência climática, a pandemia de COVID-19 e as desigualdades de distribuição de recursos para a recuperação pós-pandemia. O número de pessoas em insegurança alimentar grave dobrou de 135 milhões antes da pandemia para 276 milhões em apenas dois anos e segundo a estimativa do GCRG, os efeitos da guerra podem aumentar ainda mais esse número, elevando para 323 milhões de pessoas.  

O relatório, disponível em inglês, pede a estabilização dos preços recordes de alimentos e combustíveis, a implementação de redes de segurança social e o aumento do apoio financeiro aos países em desenvolvimento para enfrentar o que o secretário-geral chamou de condições perfeitas para formar uma tempestade. 

Em seu pronunciamento, o chefe da ONU insistiu em dizer que a mensagem é clara: os países devem agir agora para salvar vidas e meios de subsistência . “Três meses após a invasão russa da Ucrânia, enfrentamos uma nova realidade”, disse ele a repórteres. “Para aqueles que estão no campo [de batalha], todo dia é um novo derramamento de sangue e sofrimento. E para as pessoas ao redor do mundo, a guerra está ameaçando desencadear uma onda sem precedentes de fome e miséria, deixando o caos social e econômico em seu rastro”. 

Corrida contra o tempo - A secretária-geral da Agência de Comércio e Desenvolvimento da ONU (UNCTAD), Rebeca Grynspan, que lidera o fluxo de finanças do GCRG, disse que o mundo está em “uma corrida contra o tempo” e a inação custará mais do que encontrar soluções. 

Ela também participou da apresentação do relatório e alertou para o fato de que a elevação geral dos custos de vida pode desencadear um “ciclo de agitação social que leva à instabilidade política”. 

Cerca de 60% dos trabalhadores em todo o mundo já têm renda real mais baixa do que antes da pandemia, o que significa que as famílias precisam escolher entre pular refeições, manter as crianças na escola ou pagar contas médicas, exemplificou.

 “A atual crise alimentar pode rapidamente se transformar em uma catástrofe alimentar de proporções globais em 2023”, disse Grynspan.

Custos de energia mais altos e restrições comerciais no fornecimento de fertilizantes da região do Mar Negro fizeram com que os preços disparassem. Segundo a secretária-geral do UNCTAD, se a guerra continuar, e os altos preços de grãos e fertilizantes persistirem na próxima temporada de plantio, haverá escassez de outros alimentos básicos, como arroz, afetando mais bilhões em todo o mundo. 

Exportações - O relatório deixa claro que o impacto da guerra na segurança alimentar, energia e finanças é sistêmico, severo e acelerado. Embora acabar com o conflito mortal e devastador seja a única maneira de parar a “tempestade crescente”, o chefe da ONU pediu por uma ação imediata em duas frentes: estabilizar os mercados globais de alimentos e energia e apoiar os países mais pobres na crise. 

Ele disse que Grynspan e o coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, irão liderar duas forças-tarefa para encontrar um “pacote” que permita que alimentos produzidos na Ucrânia sejam exportados com segurança através do Mar Negro, ao mesmo tempo em que alimentos e fertilizantes russos tenham acesso desimpedido aos mercados globais. 

Os dois já começaram a trabalhar em estreita colaboração com representantes dos dois países, e também com a Turquia, União Europeia e Estados Unidos. O secretário-geral evitou dar maiores detalhes sobre estas negociações para evitar comprometer as chances de sucesso. “Apesar da guerra, a produção de alimentos da Ucrânia e os alimentos e fertilizantes produzidos pela Rússia devem ser trazidos de volta aos mercados mundiais”, pontuou Guterres.

Apoio - Ressaltando que não há solução para a crise global sem também resolver a crise econômica no mundo em desenvolvimento, o chefe da ONU pediu mais recursos para ajudar os países e comunidades mais pobres neste momento. 

“Os governos devem ser capazes de emprestar o dinheiro de que precisam para manter suas economias e seu povo prosperando”, disse ele. “O sistema financeiro global deve superar suas falhas e usar todos os instrumentos à sua disposição, com flexibilidade e compreensão, para fornecer apoio a países e pessoas vulneráveis.”

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