Guerra na Ucrânia fez 350 mil moradores de Mariupol saírem da cidade
17 junho 2022
Nesta quinta-feira (16), a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, falou sobre a situação humanitária em Mariupol, na Ucrânia, durante a 50ª sessão do Conselho de Direitos Humanos. Até o momento, foram confirmadas 1.348 mortes de civis na cidade, sendo que 70 vítimas eram crianças.
Bachelet também fez um balanço da destruição na cidade tomada pelas forças russas desde o dia 30 de abril. A estimativa é que 90% dos edifícios residenciais tenham sido danificados ou destruídos, assim como até 60% das casas particulares.
No dia anterior, a alta comissária também relatou ter recebido denúncias de que crianças ucranianas foram “deportadas à força” das regiões do leste do país e levadas para a Rússia para adoção.
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, falou sobre a situação humanitária em Mariupol, na Ucrânia, durante a 50ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, nesta quinta-feira (16), em Genebra. No dia anterior, a Comissão de Inquérito sobre a Ucrânia também participou de uma coletiva de imprensa onde seus membros compartilharam as impressões de sua primeira visita à Ucrânia, desde o início da invasão russa.
Em sua fala ao conselho, Bachelet afirmou que a situação humanitária na cidade portuária de Mariupol, uma das áreas mais atingidas pelo conflito, é devastadora. Lá, a estimativa é que 90% dos edifícios residenciais tenham sido danificados ou destruídos, assim como até 60% das casas particulares. Bachelet ainda afirmou que 350 mil pessoas foram forçadas a deixar esta cidade.
A chefe dos direitos humanos ressaltou que Mariupol foi o lugar mais ‘mortal’ do país entre fevereiro e abril. O local testemunhou cenas dramáticas do conflito, como a evacuação de mais de 600 pessoas da metalúrgica Azovstal e o ataque aéreo russo a um teatro, onde centenas de civis estavam abrigados. “O ataque aéreo russo ao teatro de Mariupol em 16 de março destaca-se entre os exemplos mais mortais e emblemáticos dos danos causados a civis. O teatro tinha centenas de civis escondidos dentro com placas escrito “crianças” claramente e visíveis do céu”, relatou a alta comissária.
Até o momento, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) confirmou a morte de 1.348 civis, sendo que 70 vítimas eram crianças. Bachelet afirma que as mortes foram causadas por ataques aéreos, bombardeios, bem como disputas nas ruas e tanques de combate. Ela alerta que o número de mortes pode ser muito maior e que ainda há corpos para serem enterrados ou mesmo descobertos em lugares sem acesso.
Segundo Bachelet, até que todas as vítimas sejam encontradas e identificadas, é impossível saber o número real de mortes civis. “A tragédia de Mariupol está longe de terminar e o quadro completo da devastação causada ainda não está claro. A cidade pode eventualmente ser reconstruída, mas os horrores infligidos à população civil deixarão sua marca indelével, inclusive nas próximas gerações”, comentou.
“Buscar justiça e garantir reparação para todas as vítimas são os próximos passos cruciais para todas as autoridades com poder para agir assim, e para atores internacionais, incluindo meu próprio escritório”, pontuou.
Militares - Segundo Bachelet, mais de dois mil soldados ucranianos foram levados como prisioneiros de guerra de Mariupol desde o início de março. Ela relatou que seu escritório recebeu denúncias do assassinato de um soldado ucraniano fora de combate e de maus-tratos a vários outros. Ela explicou que, sem acesso a prisioneiros de guerra em território controlado pelas forças armadas russas e grupos armados afiliados, seu escritório não pôde avaliar as condições de detenção e tratamento.
A alta comissária acrescentou que também está atenta aos supostos julgamentos de três militares ucranianos, cidadãos de outros países, que foram feitos prisioneiros de guerra em Mariupol. Eles foram condenados a morte por tentativa de tomada de poder em território controlado por grupos armados afiliados à Rússia em Donetsk, treinamento para atividades terroristas e mercenarismo.
Órfãos deportados - Na quarta-feira (15), Bachelet também chamou atenção para os relatos de que crianças ucranianas foram “deportadas à força” das regiões do leste do país e levadas para a Rússia para adoção.
A principal autoridade de direitos humanos das Nações Unidas disse que seu gabinete está investigando as alegações de que jovens foram levados de orfanatos na região do Donbass, onde a Rússia vem ganhando terreno em meio a intensos combates nas últimas semanas. “O ACNUDH ainda não pode confirmar essas alegações ou o número de crianças que podem estar em tal situação”, disse Bachelet. “Estamos preocupados com os supostos planos das autoridades russas de permitir o movimento de crianças da Ucrânia para famílias na Federação Russa, que não parecem incluir medidas para a reunificação familiar ou respeitar os interesses das crianças.”
Antes da invasão russa em 24 de fevereiro, havia mais de 91 mil crianças em orfanatos, internatos e outras instituições para jovens na Ucrânia, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Em um comunicado, a agência da ONU disse que estava ciente de relatos de que a Rússia “pode estar modificando a legislação existente para facilitar o processo de adoção acelerado” de órfãos do Donbass. “O UNICEF acredita que a adoção nunca deve ocorrer durante ou imediatamente após emergências. Crianças separadas de seus pais durante uma emergência humanitária não podem ser consideradas órfãs. Todas as oportunidades devem ser oferecidas para o reagrupamento familiar”, publicou o UNICEF.