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OMS destaca necessidade de transformar relação com a saúde mental

21 junho 2022

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta sexta-feira (17) sua maior revisão mundial sobre saúde mental desde a virada do século.

O trabalho detalhado fornece um plano para governos, acadêmicos, profissionais de saúde, sociedade civil e outros com a ambição de apoiar o mundo na transformação da saúde mental.

A OMS destaca no material a necessidade de aprofundar o valor e o compromisso dado à saúde mental, remodelar os ambientes que influenciam a saúde mental e fortalecer os sistemas que cuidam da saúde mental das pessoas.

Relatório pede a tomadores de decisão e defensores da saúde mental que intensifiquem o compromisso e a ação para mudar atitudes, ações e abordagens à saúde mental, seus determinantes e cuidados.
Legenda: Relatório pede a tomadores de decisão e defensores da saúde mental que intensifiquem o compromisso e a ação para mudar atitudes, ações e abordagens à saúde mental, seus determinantes e cuidados.
Foto: © OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta sexta-feira (17) sua maior revisão mundial sobre saúde mental desde a virada do século. O trabalho detalhado fornece um plano para governos, acadêmicos, profissionais de saúde, sociedade civil e outros com a ambição de apoiar o mundo na transformação da saúde mental.

Com base nas evidências mais recentes disponíveis, apresentando exemplos de boas práticas e expressando a experiência de vida das pessoas, o relatório da OMS destaca porque e onde a mudança é mais necessária e como ela pode ser melhor alcançada. 

“Todos conhecemos alguém afetado por transtornos mentais. A boa saúde mental se traduz em boa saúde física e este novo relatório é um argumento convincente para a mudança”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. 

“Os vínculos indissolúveis entre saúde mental e saúde pública, direitos humanos e desenvolvimento socioeconômico significam que a transformação de políticas e práticas em saúde mental pode trazer benefícios reais e substantivos para pessoas, comunidades e países em todos os lugares. O investimento em saúde mental é um investimento em uma vida e um futuro melhores para todos.”

A OMS convida, no documento, todas as partes interessadas a trabalharem juntas para aprofundar o valor e o compromisso dado à saúde mental, remodelar os ambientes que influenciam a saúde mental e fortalecer os sistemas que cuidam da saúde mental das pessoas.

Emergência global - Segundo o levantamento, quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – viviam com um transtorno mental em 2019. O suicídio, enquanto isso, foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade. 

Os transtornos mentais são, ainda, a principal causa de incapacidade, causando um em cada seis anos vividos com incapacidade e as pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis. 

O abuso sexual infantil e o abuso por intimidação, de acordo com os dados, são importantes causas da depressão. Já as desigualdades sociais e econômicas, emergências de saúde pública, guerra e crise climática estão entre as ameaças estruturais globais à saúde mental. A depressão e a ansiedade, por exemplo, aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia.

Mesmo antes da pandemia de COVID-19, contudo, apenas uma pequena fração das pessoas necessitadas tinha acesso a cuidados de saúde mental eficazes, acessíveis e de qualidade. Por exemplo, 71% das pessoas com psicose em todo o mundo não têm acesso a serviços de saúde mental. Enquanto 70% das pessoas com psicose são tratadas em países de alta renda, apenas 12% das pessoas com essa condição recebem cuidados de saúde mental em países de baixa renda. Para a depressão, as lacunas na cobertura dos serviços são amplas em todos os países: mesmo em países de alta renda, apenas um terço das pessoas com depressão recebe cuidados formais de saúde mental e estima-se que o tratamento minimamente adequado para depressão varie de 23% em países de baixa renda para 3% em países de baixa e média-baixa renda.

O trabalho também destaca que a estigma, discriminação e violações de direitos humanos contra pessoas com problemas de saúde mental são comuns em comunidades e sistemas de atenção em todos os lugares. E em todos os países, são as pessoas mais pobres e desfavorecidas que correm maior risco de problemas de saúde mental e que também são as menos propensas a receber serviços adequados. Ao mesmo tempo, 20 países ainda criminalizam a tentativa de suicídio.

Plano de ação - Segundo a OMS, durante décadas, a saúde mental tem sido uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública, recebendo uma ínfima parte da atenção e dos recursos de que necessita. Ainda assim, a organização destaca que progressos parciais foram alcançados na última década, provando que a mudança é possível. Agora, contudo, essa transformação precisaria ser acelerada: “a mudança não está acontecendo rápido o suficiente e a história da saúde mental continua sendo de necessidade e negligência, com dois em cada três dólares do escasso gasto público em saúde mental destinados a hospitais psiquiátricos independentes – mais que a serviços de saúde mental comunitários, onde as pessoas recebem melhor atenção”, destaca texto da organização. 

A diretora do Departamento de Saúde Mental e Uso de Substâncias da OMS, Dévora Kestel, defendeu essas “mudanças estratégicas”. “Todo país tem ampla oportunidade de fazer progressos significativos em direção a uma melhor saúde mental para sua população. Seja formulando políticas e leis sobre saúde mental mais sólidas, ou introduzindo a saúde mental nos seguros médicos, fomentando e fortalecendo os serviços comunitários de saúde mental ou integrando a saúde mental à atenção geral à saúde, escolas e penitenciárias – o relatório inclui muitos exemplos que mostram que mudanças estratégicas podem produzir uma melhora considerável.”

O relatório chama todos os países a acelerarem a implementação do Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030, que os compromete com metas globais para transformar a saúde mental, assinado por todos os 194 Estados-membros da OMS. O documento faz ainda várias recomendações de ação, agrupadas em três “caminhos para a transformação”, que se concentram na mudança de atitudes em relação à saúde mental, abordando os riscos e fortalecendo os sistemas de atenção.

Investimento - O primeiro caminho estaria no aumento dos investimentos em saúde mental, não apenas garantindo fundos e recursos humanos adequados em todos os setores da saúde e outros setores para atender às necessidades de saúde mental, mas também por meio de uma liderança comprometida, buscando políticas e práticas baseadas em evidências e estabelecendo sistemas robustos de informação e monitoramento.

Ao mesmo tempo, a OMS destaca que é preciso incluir as pessoas com problemas de saúde mental em todos os aspectos da sociedade e tomar decisões para superar o estigma e a discriminação, reduzir as disparidades e promover a justiça social.

Estratégia intersetorial - O segundo caminho estaria no fomento à colaboração intersetorial, especialmente para compreender os determinantes sociais e estruturais da saúde mental e intervir de forma a reduzir riscos, gerar resiliência e desmontar barreiras que impedem pessoas com problemas de saúde mental de participar plenamente da sociedade.

Algumas sugestões da OMS são a implementação de ações concretas para melhorar os entornos para a saúde mental, como intensificar a ação contra a violência por parte do parceiro e o abuso e negligência de crianças e pessoas idosas; possibilitar a criação de cuidados para o desenvolvimento da primeira infância, disponibilizando apoio de subsistência para pessoas com problemas de saúde mental, introduzindo programas de aprendizagem social e emocional enquanto combate o bullying nas escolas, mudando atitudes e fortalecendo os direitos na atenção à saúde mental, aumentando o acesso a espaços verdes e proibindo pesticidas perigosos que estão associados a um quinto de todos os suicídios no mundo.

Expansão das ações - O terceiro caminho estaria no reforço à atenção à saúde mental em diferentes locais e em diferentes modalidades, alcançando um público maior e mais diverso. Estabelecendo, por exemplo, redes comunitárias de serviços interconectados que se afastem dos cuidados de custódia em hospitais psiquiátricos e cubram um amplo espectro de atenção e apoio por meio de uma combinação de serviços de saúde mental integrados à atenção geral de saúde; serviços comunitários de saúde mental; e serviços para além do setor da saúde.

Diversificar e ampliar as opções de atenção aos transtornos mentais mais comuns, como depressão e ansiedade, que tem uma relação custo-benefício de 5 para 1, é uma das sugestões da OMS. Essa ampliação incluiria a adoção de um método de distribuição de tarefas que expande a atenção baseada em evidências a ser oferecida também por profissionais de saúde em geral e provedores comunitários. Também incluiria o uso de tecnologias digitais para apoiar a autoajuda guiada e não guiada e para fornecer atendimento remoto.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OMS
Organização Mundial da Saúde

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa