Diretor-geral da FAO aborda paradoxo alimentar da América Latina
22 setembro 2022
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), QU Dongyu, destacou a necessidade de ações ousadas para transformar os sistemas agroalimentares da América Latina nesta terça-feira (20).
Ele disse que é necessário investir em um desenvolvimento inclusivo e sustentável, ao mesmo tempo que reconheceu o grande impacto da pandemia de COVID-19 e outras crises mundiais, como a guerra na Ucrânia, na região.
A fala foi feita em evento organizado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) à margem da 77ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que está ocorrendo em Nova Iorque.
A América Latina é uma potência agrícola, mas sofreu um aumento acentuado da fome nos últimos anos, assegurou nesta terça-feira (20) o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), QU Dongyu, destacando a necessidade de ações ousadas para transformar os sistemas agroalimentares da região para que sejam mais eficientes, mais inclusivos, mais resilientes e mais sustentáveis.
“O aumento da fome, da pobreza e da desnutrição é um paradoxo para uma região que contribui significativamente para o abastecimento mundial de alimentos e produz alimentos suficientes para alimentar toda a sua população”, destacou em evento organizado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) à margem da 77ª sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque.
Nenhuma região do mundo foi mais afetada pela pandemia de COVID-19 do que a América Latina e o Caribe, onde as economias encolheram duas vezes mais rápido que a média mundial, a pobreza atingiu seu nível mais alto desde 2006, com a devastação do emprego, especialmente na economia informal, e 65,6 milhões de pessoas sofrem de fome, com quase cinco vezes esse número – ou mais de 40% da população – enfrentando insegurança alimentar moderada ou grave, ressaltou Qu, acrescentando que as disparidades de gênero se deterioraram.
A guerra na Ucrânia, juntamente com outros conflitos, exacerbou o golpe da pandemia e acrescentou mais desafios imprevisíveis, especialmente para os países da região que são importadores líquidos de trigo, milho e óleos vegetais, todos sujeitos a crises de preços no último ano.
Até mesmo a capacidade da região como exportadora líquida de alimentos está em risco devido ao aumento dos custos de fertilizantes, o que pode afetar a produção e o rendimento de alimentos básicos e desencadear uma crise na disponibilidade e acessibilidade de alimentos, acrescentou o diretor-geral.
Resposta - QU ainda identificou quatro áreas prioritárias que precisam de ação acelerada.
A primeira é o apoio imediato às pessoas vulneráveis através dos sistemas de proteção social, especialmente nas zonas rurais e entre os grupos vulneráveis. A segunda questão diz respeito à promoção da produção agrícola, garantindo o acesso dos agricultores familiares a sementes e fertilizantes a preços acessíveis, capital de giro e assistência técnica e vínculos com os mercados.
Em terceiro, o diretor-geral destacou a necessidade de facilitar o comércio de produtos e insumos agrícolas para evitar maiores interrupções na produção de alimentos; seguida, em quarto, pela necessidade de investir em agricultura resiliente ao clima para enfrentar e reverter os efeitos da crise climática.
Ele assegurou aos presentes que a FAO está comprometida em trabalhar com os membros na região e além para alcançar “desenvolvimento inclusivo e sustentável de longo prazo”.
Conferência - O discurso de abertura de QU ocorreu no âmbito de uma conferência organizada pela CAF para identificar os desafios, estratégias e ações de coordenação urgentes necessárias para promover a segurança alimentar na América Latina e no Caribe.
Durante o evento, QU conversou com o presidente executivo do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina, Sergio Díaz-Granados; com o diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (WFP), David Beasley, e com o diretor geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero.
Os principais discursos do evento foram proferidos pelo presidente da República do Equador, Guillermo Lasso, e pelo presidente da Guiana, Irfaan Ali.
Atualmente, o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), formado por dezoito países da região, além de Espanha, Portugal e treze bancos privados latino-americanos, está em processo de ampliação de capital de sete bilhões de dólares para ampliar sua promoção de desenvolvimento e integração regional em vários setores.