UNFPA forma ativistas pelos direitos das pessoas com deficiência
05 outubro 2022
A primeira edição do projeto de formação em ativismo pelos Direitos Humanos INCLUSIVE NÓS! chegou ao fim com um encontro presencial em Brasília no Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro.
Realizada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, a iniciativa promoveu a formação de 21 jovens com deficiência, com idades entre 15 e 29 anos, representantes de diferentes regiões do Brasil.
Ao longo de dois meses, eles participaram de workshops com mentores e facilitadores experientes em formação para o ativismo e de atividades voltadas para o entendimento de seus direitos.
Em 2022, o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, teve um significado ainda mais especial para um grupo de 21 jovens com deficiência. Vindos de diferentes regiões do Brasil, com idades que variam entre 15 e 29 anos, eles desembarcaram em Brasília (DF) para a última etapa do INCLUSIVE NÓS!, projeto de formação em ativismo pelos Direitos Humanos realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil.
“Este dia, sem sombra de dúvidas, ficará marcado em minha memória”, contou Marcos Batista, um dos participantes. Ele havia partido, na tarde anterior, de Lauro Freitas, cidade da Região Metropolitana de Salvador (BA). Em sua primeira visita à capital federal, Marcos declarou, com orgulho, “fui certificado como ativista em prol da luta das pessoas com deficiência”.
O encontro presencial marcou a conclusão da primeira edição do INCLUSIVE NÓS!, iniciativa da área de adolescência e juventude do UNFPA Brasil que começou ainda em julho, com um processo seletivo que atraiu centenas de interessados de todo o país. Desde de 17 de agosto, os participantes selecionados, representativos da ampla diversidade das pessoas com deficiência, passaram por uma jornada de formação composta por dois encontros online por semana.
Contemplar a diversidade dessa população, segundo o UNFPA, é fundamental para promover sua visibilidade. Vale ressaltar que a Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, apontou que o Brasil possui mais de 17,3 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.
Conscientização - A cada encontro, os jovens participavam de workshops com mentores e facilitadores experientes em formação para o ativismo. As sessões, com duração média de duas horas, proporcionaram oportunidades para que eles entendessem seus direitos e como reivindicá-los, descobrissem formas de trabalhar em conjunto e unir esforços para amplificar suas pautas.
Um dos pontos principais da formação oferecida pelo UNFPA foi a conscientização acerca das ferramentas que a legislação brasileira já oferece para as pessoas com deficiência. Após quinze anos de tramitação, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi criada para assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades, visando à inclusão social e cidadania.
Amizade - Além do conhecimento técnico que receberam ao longo dos encontros online, com atividades voltadas para o entendimento da amplitude de seus direitos e dos mecanismos dos quais podem fazer uso para cobrar o cumprimento daquilo que lhes é devido, os participantes ainda puderam criar laços e amizades com novos colegas de diferentes regiões do Brasil.
“Eu acho que o intuito maior do programa está relacionado com a forma como nos portamos perante a sociedade, mas a raiz é a oferta de vivências com outras pessoas. Eu mesma nunca tive antes tanto contato assim com pessoas com diversos tipos de deficiência", conta Siana Guajajara, participante indígena do projeto. “Ver cada um falando por si só, tendo coragem de falar por si, eu nunca tinha visto essa potência toda junta”, completa. Siana nasceu em Terra Canabrava, localizada no município de Jenipapo dos Vieiras (MA), e mora em Brasília.
“O projeto me ajudou a ter essa ótica, de que eu não estou sozinha, também tem gente em outros estados tentando erguer a nossa voz, para dizer que nossa deficiência não nos limita a nada”, diz Siana.
Encontro presencial - Após nove encontros online, nos quais foram convidados a trabalhar em grupos na criação e desenvolvimento de projetos de ativismo por seus direitos, os jovens não só tiveram a chance de apresentar e debater ideias com os colegas – eles puderam, pela primeira vez, estar juntos fisicamente, em Brasília, para as apresentações.
Na capital do país, ainda tiveram a chance de visitar locais emblemáticos para o exercício do ativismo. Assim, pela manhã, a turma do INCLUSIVE NÓS! foi recebida no Congresso Nacional e na Casa da ONU. Para quase a totalidade dos participantes, essa foi a primeira vez nesses locais, e a novidade foi registrada com muito entusiasmo, fotos e selfies.
Na parte da tarde, a animação e o engajamento dos participantes continuou com a apresentação e discussão dos dados da pesquisa até então inédita, “Pessoas com deficiência e as desigualdades no Brasil (2019)”, realizada pelo IBGE. Os alunos apresentaram seus projetos de ativismo e trocaram experiências e inspirações para promoção da igualdade de direitos.
Criatividade e música aumentaram a animação do grupo, no embalo do Surdodum, banda brasiliense formada por músicos com diferentes graus de deficiência auditiva. Para coroar a programação, os jovens ativistas receberam os certificados pela conclusão do curso.
Sucesso - Representante do UNFPA no Brasil, Astrid Bant participou do encontro e se dirigiu aos participantes reforçando que o ativismo é fundamental para as mudanças no mundo. “Nosso lema é não deixar ninguém para trás. Agradeço por vocês terem feito deste projeto um sucesso. Vocês investiram tempo, energia e ideias no INCLUSIVE NÓS!. Saibam que o UNFPA tem o interesse de seguir apoiando em suas estratégias de ativismo em prol das pessoas com deficiência.”
A participante Letícia Mota, de Parauapebas, no Pará, comentou que deseja manter contato com os colegas do projeto. “Espero que a parceria se perpetue por vários anos, pois sabemos que, juntos, somos mais fortes”, disse. “O curso nos ensinou que depende de nós para conquistarmos acesso aos diferentes setores da sociedade – nós precisamos ocupar os espaços públicos.”
Registros - Ao fim do encontro, o clima entre os 21 participantes – e seus acompanhantes – era de dever cumprido e satisfação, com ânimo sobre o que está por vir. Marcos Batista, que tem atuação constante nas redes sociais, fez questão de registrar o dia em Brasília na sua página de Instagram, que traz, em linguagem leve e descontraída, aspectos da luta das pessoas com deficiência.
Eurenice Timbo, mãe da participante Marian Timbo, ressaltou que o projeto deixou “um aprendizado muito grande, pois o ativismo é fundamental para que os direitos sejam respeitados”. Eurenice completou: “como mãe, não tinha esse entendimento, mas agora sei que minha filha, com síndrome de Down, pode falar por si mesma e reivindicar seus direitos”.
O depoimento da participante Georgia Bergantin, que trabalha com gestão de recursos humanos e luta pela inclusão das pessoas com síndrome de Down, resume o espírito do INCLUSIVE NÓS!: “O que eu quero é um mundo melhor para todos, não só para mim. Quero mais inclusão, quero todos juntos”.