Uma iniciativa de saúde que salva vidas
Unidades Móveis de Saúde alcançam povos indígenas e comunidades de acolhida em áreas remotas na fronteira do Brasil com a Venezuela.
"Os povos indígenas estão entre as populações mais vulneráveis. Esses serviços transformam a vida de pessoas com doenças crônicas em comunidades remotas; isso facilita suas vidas." - Maria Chan, médica da Agência da ONU para as Migrações (OIM)
Em Roraima, norte do Brasil, um veículo médico desce uma estrada esburacada, levantando uma nuvem de poeira. É uma das Unidades Móveis de Saúde da OIM, que ajuda a levar assistência médica aos indígenas venezuelanos e suas comunidades de acolhida em uma das áreas de mais difícil acesso no Brasil.
O estado de Roraima é a principal porta de entrada da Venezuela para o Brasil para aqueles que deixam a crise econômica e social em curso no país. Muitos dos mais de 400 mil venezuelanos que atualmente vivem no Brasil entraram no país pelo norte do estado.
"Muitas pessoas podem encontrar um médico perto de onde moram, mas para milhares que vivem em comunidades rurais, o atendimento médico está a horas de distância" destacou a médica da OIM, Maria Chan, no final de um longo dia de consultas. Para lidar com isso, a OIM decidiu colocar a equipe médica em movimento, deslocando-se até a porta daqueles que precisam.
As unidades móveis estão totalmente equipadas para fornecer aos migrantes e refugiados venezuelanos, bem como às suas comunidades de acolhida, os cuidados de saúde necessários, incluindo tratamento e medicamentos essenciais uma vez por mês. Duas Unidades Móveis de Saúde da OIM estão alcançando as populações mais vulneráveis da região e capacitando agentes comunitários de saúde para prestar atenção primária a pacientes de populações rurais.
As comunidades indígenas da região podem sofrer de várias doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, desnutrição infantil, infecções fúngicas da pele, parasitas e infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Uma iniciativa de saúde que salva vidas
Em uma pequena sala de uma escola aberta em Sakao Motá, uma remota aldeia indígena que abriga tanto a população local quanto venezuelanos, as pessoas esperam no calor sufocante o médico as chamar para uma avaliação médica.
Katiuska Fernandez, 31, senta-se em silêncio com seu filho de oito anos. Ela está grávida de seis meses. "O hospital mais próximo fica a uma hora de carro daqui, e não temos dinheiro para pagar um táxi ou outro meio de transporte," diz ela, enquanto espera para realizar sua consulta pré-natal.
"Estou tão feliz que está tudo bem. Esta assistência médica está mudando nossas vidas." - Katiuska Fernandez.
Em 2018, a escassez de alimentos e remédios, além da crescente insegurança, levou Katiuska e sua família de cinco membros a deixar sua pequena comunidade venezuelana do outro lado da fronteira. Eles venderam seus pertences e cruzaram a fronteira com várias outras famílias Taurepang. Desde então, a agricultura de subsistência praticada na comunidade de acolhida os ajudou a sobreviver.
No ano passado, a equipe de saúde da OIM forneceu consultas médicas e psicológicas para cerca de 8 mil migrantes e refugiados vulneráveis e comunidades de acolhida em Roraima, com uma média de 30 pessoas por dia. Os atendimentos médicos incluíram avaliações gerais, testes para IST, COVID-19 e glicemia, medicina pediátrica e consultas pré-natais.
Gravemente impactados pela migração
Localizada na Terra Indígena São Marcos – uma tapeçaria de assentamentos queimados pelo sol que abriga o povo Tauperang – Sakao Motá é uma das comunidades indígenas fortemente impactadas pelo fluxo de migrantes e refugiados da Venezuela, juntamente com as comunidades Ta'rau Parú, Par Bananal e Sorocaima I, todas localizadas na fronteira entre o Brasil e a Venezuela.
Atualmente, 160 indígenas venezuelanos do grupo Taurepang vivem em Sakao Motá. Antes da chegada dos venezuelanos, a aldeia tinha apenas 100 moradores.
Apesar de os recursos agrícolas da aldeia serem escassos, os venezuelanos foram recebidos como parte do mesmo grupo indígena, do qual compartilham origens linguísticas e laços de parentesco.
Sentado sob um tamarindeiro, Silvano Fernandez, um indígena brasileiro de 55 anos, lembra como sua comunidade recebeu de braços abertos os irmãos e irmãs venezuelanos. Silvano é um dos pacientes regulares da unidade médica. Ele sofre de dores crônicas causadas por um acidente de carro, que o impedem de levar uma vida normal.
"Eles são nossos parentes; devemos acolhê-los porque são nosso povo. Hoje são eles, mas amanhã podemos ser nós." - Silvano Fernandez
Mesmo que os resultados de saúde relacionados à gravidez de Katiuska tenham melhorado à medida que ela realiza exames regulares com médico da OIM, sem sinal de telefone ou acesso a um veículo, ela está pronta para dar à luz em casa quando chegar a hora. "Se eu não conseguir transporte para o hospital mais próximo, meu bebê nascerá em casa, na comunidade, como todas as minhas ancestrais", disse ela depois de ter feito o pré-natal.
Veja o vídeo sobre as Unidades Móveis da Saúde em Roraima:
As Unidades Móveis da Saúde da OIM contam com o apoio financeiro do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.
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