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ONU Direitos Humanos alerta sobre proteção de povos indígenas no Brasil

29 maio 2023

quatro crianças indígenas da Aldeia Escola Floresta, em Minas Gerais
Legenda: Crianças indígenas na Aldeia Escola Floresta, em Minas Gerais
Foto: © Sesai/Ministério da Saúde

A ONU Direitos Humanos na América do Sul alertou sobre iniciativas legislativas que podem enfraquecer a proteção dos povos indígenas no Brasil. 

O alerta foi feito depois que a Câmara dos Deputados aprovou um requerimento de urgência para votar o Projeto de Lei 490, que visa estabelecer um marco temporal à demarcação de terras indígenas, reconhecendo os direitos ancestrais apenas a comunidades que tinham o controle desses territórios em 5 de outubro de 1988. 

Para o chefe da ONU Direitos Humanos na América do Sul, Jan Jarab, a aprovação do projeto seria um "grave retrocesso" para os direitos dos povos indígenas no Brasil, "contrariando normas internacionais de direitos humanos.

A ONU Direitos Humanos na América do Sul alertou nesta segunda-feira (29) sobre iniciativas legislativas que arriscam enfraquecer a proteção dos povos indígenas no Brasil, e cobrou das autoridades medidas urgentes em prol destas populações conforme as normas internacionais de direitos humanos.

O alerta foi feito depois que a Câmara dos Deputados aprovou um requerimento de urgência para votar um projeto de lei (PL 490) que visa estabelecer um marco temporal à demarcação de terras indígenas, reconhecendo os direitos ancestrais apenas a comunidades que tinham o controle desses territórios em 5 de outubro de 1988. 

“Aprovar o projeto conhecido como marco temporal seria um grave retrocesso para os direitos dos povos indígenas no Brasil, contrário as normas internacionais de direitos humanos”, destacou o chefe da ONU Direitos Humanos na América do Sul, Jan Jarab. 

“A posse das terras existente em 1988, após o expansionismo da ditadura militar, não representa a relação tradicional forjada durante séculos pelos povos com seu entorno, ignorando arbitrariamente seus direitos territoriais e o valor ancestral das terras para seus modos de viver”, ele adicionou.

Em novembro de 2021, a ONU Direitos Humanos apresentou ao Congresso Nacional um parecer analisando aspectos do projeto de lei que são incompatíveis com as normas internacionais de direitos humanos.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU ainda demonstrou preocupação com outra iniciativa na Câmara dos Deputados (MP 1158), que retira atribuições dos Ministérios dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente e Mudança do Clima no tocante a demarcação de terras e outros assuntos.

“O parlamento brasileiro tem uma responsabilidade fundamental na promoção e proteção dos direitos humanos. Portanto, deve avaliar qualquer medida relacionada aos povos indígenas e ao ambiente com o intuito de fortalecer as capacidades do país para proteger esses direitos, e para combater os impactos da mudança climática e do desmatamento”, disse o chefe regional.

Segundo a ONU Direitos Humanos, os povos indígenas e outras comunidades tradicionais no Brasil continuam afetadas desproporcionalmente por ataques e ameaças como mineração ilegal (garimpo), exploração ilegal da madeira, poluição do ambiente, desnutrição das crianças e outras formas de discriminação e violência. A falta de demarcação de terras tradicionais - que não avançou durante o governo anterior - contribui para a deterioração nos direitos destas populações.

O representante da ONU salientou ainda que vários mecanismos internacionais de direitos humanos - incluindo especialistas independentes e o órgão intergovernamental da Revisão Periódica Universal – já recomendaram ao Brasil a adoção de medidas para melhorar a situação dos povos indígenas.

“Ao invés de enfraquecer o marco de proteção, o Estado brasileiro em sua totalidade deve redobrar seus esforços e tomar medidas urgentes para enfrentar, na lei e na prática, a situação crítica de direitos humanos que vivem os povos indígenas, garantindo sua participação e seu direito a serem consultados nas decisões que os afetam, conforme os compromissos internacionais do país”, exortou Jan Jarab.

Informações para a imprensa:

María Jeannette Moya (maría.moya@un.org / +56979996907) e Felipe Iturrieta: (felipe.iturrietagonzalez@un.org).  

ACNUDH

María Jeannette Moya e Felipe Iturrieta Gonzalez

ACNUDH
Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos

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Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos

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