Reunião Ministerial sobre a Cúpula do Futuro
Discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a reunião ministerial preparatória para a Cúpula do Futuro, em 21 de setembro de 2023.
Excelências, ilustres ministros(as) e delegados(as),
Meu relatório sobre Nossa Agenda Comum exige confiança e solidariedade renovadas entre povos, países e gerações.
Ele propôs um multilateralismo reformado para refletir e abordar as realidades políticas e econômicas de hoje.
Hoje, a necessidade de tais reformas está mais clara do que nunca.
Enfrentamos uma série de riscos graves e até mesmo existenciais, sem os sistemas multilaterais necessários para os gerenciar.
Estamos nos movendo em direção a um mundo multipolar.
A multipolaridade está criando novas oportunidades para que diferentes países liderem no cenário global.
Mas a história ensina que a multipolaridade sem instituições multilaterais fortes gera sérios riscos.
Ela pode resultar em tensões geopolíticas ainda maiores, competição caótica e maior fragmentação.
As instituições multilaterais só sobreviverão se forem realmente universais.
A Cúpula do Futuro é uma oportunidade única para ajudar a reconstruir a confiança e alinhar instituições e estruturas multilaterais ultrapassadas com o mundo de hoje, com base na equidade e na solidariedade.
Mas isso é mais do que uma oportunidade.
É um meio essencial de reduzir os riscos e criar um mundo mais seguro e pacífico.
Ilustres ministros(as),
Eu parabenizo o acordo segundo o qual a Cúpula do Futuro adotará um Pacto para o Futuro negociado intergovernamentalmente, reafirmando a Carta das Nações Unidas; revitalizando o multilateralismo; impulsionando a implementação dos compromissos existentes; e chegando a um compromisso sobre soluções para novos desafios.
Também saúdo sua decisão de trabalhar em prol de um Pacto que abranja cinco áreas:
- Desenvolvimento sustentável e financiamento para o desenvolvimento.
- Paz e segurança internacionais.
- Ciência, tecnologia e inovação, e cooperação digital.
- Juventude e gerações futuras.
- Transformando a governança global.
Elogio seu compromisso de promover os direitos humanos, o empoderamento de mulheres e meninas e a aceleração em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Vocês, os Estados-membros, decidirão o que levar adiante dentro desses cinco grupos de questões, no Pacto para o Futuro.
Compartilhamos uma série de propostas concretas para sua consideração em onze Informes de Política.
Essas propostas abrangem:
- Uma Nova Agenda para a Paz que revigoraria nossa estrutura de segurança coletiva.
- Um sistema financeiro global que funcione para todas as pessoas.
- Métricas econômicas que vão além do PIB para embasar as decisões políticas.
- Um pacto que aproveite os benefícios e gerencie os riscos das tecnologias digitais e da Inteligência Artificial;
- Um Código de Conduta voluntário sobre a integridade da informação online e das plataformas digitais.
- Novos protocolos para gerenciar choques globais de forma mais eficaz.
- Cooperação mais forte no espaço sideral.
- Transformação dos sistemas educacionais.
- Inclusão significativa dos jovens nos processos globais de tomada de decisões.
- Formas de salvaguardar o futuro e defender os direitos das gerações futuras.
- E uma ONU 2.0, melhor equipada para apoiar os Estados-membros, por meio do uso de dados, ferramentas digitais, inovação, previsão e ciência comportamental.
Nossas propostas aprofundam a visão de Nossa Agenda Comum, transformando as recomendações originais em medidas concretas e realizáveis em direção a sistemas globais mais justos, sustentáveis, universais e eficazes.
Também saúdo as contribuições do Conselho Consultivo de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, que merecem sua séria consideração, e agradeço à co-presidência pelo excelente trabalho realizado pelo grupo.
E elogio o progresso que já foi feito em muitas das recomendações da Agenda Comum, por meio dos debates convocados no ano passado pelo presidente da Assembleia Geral:
- O estabelecimento do Escritório da ONU para a Juventude.
- As cinco medidas transformadoras para a igualdade de gênero.
- A Nova Visão para o Estado de Direito.
- O Acelerador Global sobre empregos e proteção social.
- Planos para a proposta de Cúpula Bienal aberta entre os membros do G20, o ECOSOC, os líderes das instituições financeiras internacionais e eu mesmo como secretário-geral das Nações Unidas.
Distintos ministros(as),
O Pacto para o Futuro será o contrato de vocês entre si e com seus povos.
Ele representa o seu compromisso de usar todas as ferramentas à disposição em nível global para resolver problemas - antes que esses problemas nos dominem.
Os desafios que enfrentamos são universais. Eles exigem soluções universais e não podem ser resolvidos por meio de pequenos grupos de Estados ou coalizões de pessoas dispostas a isso.
As Nações Unidas são o único fórum onde isso pode acontecer.
Também será importante receber as contribuições da sociedade civil, do meio acadêmico, do setor privado e de outras partes interessadas.
Os riscos são altos.
Um Pacto para o Futuro substantivo e abrangente tem o potencial de turbinar a implementação da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de acordo com a Declaração da Cúpula dos ODS.
Ele ajudará a determinar se enfrentaremos os graves desafios de hoje e de amanhã ou se continuaremos no caminho do colapso social, financeiro, político e ambiental.
Gostaria de enfatizar que esse Pacto complementará e reforçará totalmente nossos esforços para alcançar os ODS e criar um mundo mais pacífico, sustentável e equitativo hoje.
Mas vamos ser claros.
O tempo não está do nosso lado.
Nos dois anos que se passaram desde meu relatório sobre Nossa Agenda Comum, surgiram novos conflitos e as tensões geopolíticas estão mais altas do que nunca.
Enfrentamos um novo desafio com a IA generativa.
Estamos vendo os sinais do colapso climático.
Bilhões de pessoas em todo o mundo foram atingidas pela crise do custo de vida.
E mais países do que nunca estão lutando contra o endividamento ou a inadimplência.
Não podemos nos aproximar de um acordo enquanto o mundo corre em direção a um precipício.
Precisamos trazer uma nova urgência aos nossos esforços e um senso compartilhado de propósito comum.
Vamos nos inspirar nos recentes acordos globais sobre:
- Biodiversidade
- Alto Mar
- Perdas e Danos Climáticos
- Direito humano ao meio ambiente limpo, saudável e sustentável
Chegar a um acordo será difícil. Mas é possível.
Peço que redobrem seus esforços no próximo ano para garantir que o Pacto para o Futuro seja ambicioso e transformador.
Ilustres ministros(as),
A Cúpula do Futuro também deve ser um momento para reforçar a conexão entre a governança global e as pessoas do mundo.
O Pacto para o Futuro deve refletir as prioridades e as preocupações das mulheres e dos homens que lutam para alimentar suas famílias e das comunidades que sofrem o impacto da emergência climática.
Ele deve oferecer soluções para um mundo melhor, mais justo, mais pacífico e mais sustentável.
Acima de tudo, ele deve demonstrar que o multilateralismo pode oferecer resultados para todas as pessoas, em todos os lugares.
Muito obrigado.