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Com ONU-Habitat, crianças propõem praças para inclusão de imigrantes em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este

20 outubro 2023

Vinte e quatro alunos de 8 a 13 anos participaram das oficinas de Desenho de Espaços Públicos do projeto Conexões Urbanas, desenhando o espaço público que gostariam e focando na diversidade de pessoas e atividades.

Projetos arquitetônicos foram apresentados nesta semana e entregues às prefeituras municipais, que serão responsáveis pela implementação.

Priorizando espaços de integração entre a população local, espaços públicos promovem o acolhimento e a coesão social entre pessoas de culturas e nacionalidades diversas.

Legenda: Em Foz do Iguaçu, crianças do terceiro ao quinto ano propuseram a “Praça das Nacionalidades”, promovendo a integração dos imigrantes.
Legenda: Em Foz do Iguaçu, crianças do terceiro ao quinto ano propuseram a “Praça das Nacionalidades”, promovendo a integração dos imigrantes.
Foto: © Aléxia Saraiva/ONU-Habitat Brasil.

Pensando em tornar espaços públicos em um local de acolhimento entre pessoas, 24 crianças de três nacionalidades – brasileira, paraguaia e venezuelana – foram as responsáveis por idealizar as praças que desejam em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, cidades que dividem a fronteira entre Brasil e Paraguai.

Com idade entre 8 e 13 anos, elas participaram das oficinas de Desenho de Espaços Públicos, promovidas pelo projeto Conexões Urbanas, iniciativa do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).

As oficinas foram realizadas em agosto na Escola Municipal Olavo Bilac e na Escuela Nuestra Señora del Huerto, nas quais os alunos projetaram uma maquete defendendo as intervenções que queriam nos espaços públicos. Nesta semana, a equipe do projeto retornou aos colégios para apresentar os projetos arquitetônicos que compilam suas propostas.

Os projetos foram entregues às prefeituras municipais, que serão as responsáveis pelo financiamento e implementação da obra. Para facilitar essa ponte, os projetos foram desenvolvidos em parceria com a Secretaria de Planejamento e Captação de Recursos da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu e com a Direção de Relações Internacionais de Ciudad del Este.

Para a coordenadora local do projeto, Camilla Almeida, os espaços públicos são estratégicos para o tema de imigração, já que servem de apoio para manifestações e apropriações culturais diversas:

“O espaço público pode ser o lugar de acolhimento e integração de pessoas de múltiplas nacionalidades. E o que torna um espaço público de fato inclusivo? A participação da população, que vai desde a escuta em atividades participativas, visando consolidar o desenho de um espaço, até o seu uso, estimulando atividades que permitam que intercâmbios culturais aconteçam.”

Crianças de Ciudad del Este pensaram uma praça com diferentes tipos de entretenimento, permitindo integração de pessoas de todas as idades.
Legenda: Crianças de Ciudad del Este pensaram uma praça com diferentes tipos de entretenimento, permitindo integração de pessoas de todas as idades.
Foto: © Aléxia Saraiva/ONU-Habitat Brasil

Praça das Nacionalidades

Em Foz do Iguaçu, o projeto trabalhou na região de Três Lagoas, um espaço localizado na periferia, com crescimento da população imigrante e com poucos espaços públicos disponíveis – o que reflete a carência de outros bairros da cidade.

A integração de diferentes nacionalidades também permeia o contexto da escola, que tem 13 alunos imigrantes e que já trabalha iniciativas de acolhimento entre eles, integrando as famílias à comunidade escolar.

As 12 crianças que participaram da oficina mesclavam nacionalidades distintas, incluindo brasileiras de famílias estrangeiras. Durante a atividade, as crianças refletiram sobre como o espaço poderia ser um local de atividades de integração – desde uma quadra poliesportiva que permita campeonatos até um espaço aberto que para atividades artísticas e culturais que estimulem a diversidade. Ao final da oficina, o nome proposto pelos alunos foi “Praça das Nacionalidades”.

O projeto respeitou a proposta de usar o espaço público como uma base para apropriação cultural da população local, buscando estimular formas de ativação que promovam essa diversidade. Além disso, espaços como chafariz, parquinhos inclusivos e uma horta comunitária reforçam a convivência na vizinhança.

"Eu achei muito legal fazer esse projeto, porque eu nunca fiz algo sobre imigrantes em outro país. Fizemos uma maquete, um mapa, e escolhemos o que quisemos. Vai ser muito legal pra todo mundo, todas as crianças imigrantes vão poder brincar ali porque é pra todos: japoneses, árabes, argentinos, paraguaios, venezuelanos...”, conta Joaquin Rodriguez, 8 anos, aluno venezuelano do terceiro ano.

Parquinhos inclusivos e uma horta comunitária foram ideias para que a praça possa apoiar na inclusão de todas as pessoas do bairro.
Legenda: Parquinhos inclusivos e uma horta comunitária foram ideias para que a praça possa apoiar na inclusão de todas as pessoas do bairro.
Foto: © Tâmara Maysa/Fernanda Santos/ ONU-Habitat Brasil.

“A praça é pra todo mundo, né? Não é privada, é pública, pra todo mundo mesmo. Daí qualquer criança ou pessoa pode vir de qualquer país para aproveitar a nossa praça e também em outros lugares que tem aqui na nossa cidade. Foz é uma cidade que tem bastante turistas, né? Que vem visitar as Cataratas e várias outras coisas da nossa cidade. E a praça vai ajudar muito a acolher pessoas novas que vêm de outras cidades e de outros países”, reflete Yasmim Bogado da Silva, de 10 anos, aluna brasileira do 5º ano.

Praça “Niños del Huerto”

O imaginário urbano de Ciudad del Este remete a seu grande centro comercial. No entanto, a cidade por trás dele apresenta um caráter diferente, com outras vulnerabilidades: o bairro Km 11, onde a escola está localizada, margeia a rodovia e apresenta uma carência de espaços públicos.

O projeto feito com as crianças foi pensado para qualificar o espaço para formas de apropriação que já existem – como quadras de vôlei e futebol, que também são usadas para as festas de San Juan – e outros usos em potencial. Isso está presente na manutenção das quadras e na preservação das árvores locais.

Além disso, foi proposta uma melhor integração da praça com seu entorno, proporcionando mais segurança para pedestres, iluminação, bancos e outros elementos de mobiliário urbano e banheiros. Parquinho, academia e pista de caminhada também são alternativas para a recreação.

“Com nosso parque, aprendi que o velho pode virar novo. O que eu mais gostei no projeto foi a parte dos esportes e a parte do descanso, porque qualquer pessoa de qualquer tipo pode vir, descansar e aproveitar o parque”, conta Maria Lujan, aluna de 11 anos do quarto ano.

Em Ciudad del Este, crianças priorizaram o uso da praça para potencializar usos que já existem – como a quadra para esportes e festa de San Juan – e promover outros usos potenciais.
Legenda: Em Ciudad del Este, crianças priorizaram o uso da praça para potencializar usos que já existem – como a quadra para esportes e festa de San Juan – e promover outros usos potenciais.
Foto: © Tâmara Maysa/Fernanda Santos/ ONU-Habitat Brasil.

Desenho de Espaços Públicos

Com a metodologia de Desenho de Espaços Públicos, os jovens são incentivados a observar suas comunidades e desenvolver a dupla capacidade de imaginar e projetar soluções para melhorar um espaço público. Para isso, é apresentado um repertório de soluções criadas em todo o mundo, a partir do qual os jovens adaptam, rejeitam ou adotam essas ideias em seus projetos conforme acharem relevante. 

A metodologia também oferece um momento de pesquisa de campo, em que os jovens realizam uma caminhada exploratória e conversam sobre aspectos do percurso que lhes chamam a atenção, contando sobre a sua vivência no bairro. 

Para projetar soluções, o ONU-Habitat compartilha técnicas descomplicadas de urbanismo e cartografia, que são colocadas em prática com a elaboração de maquetes físicas dos espaços desejados. Posteriormente, são organizados momentos de apresentação dos projetos, mostrando que os jovens são capazes de projetar e defender a mudança que desejam. 

No âmbito do projeto Conexões Urbanas, a metodologia já foi aplicada em março na outra região de atuação da iniciativa, incluindo as cidades de Barracão e Bernardo de Irigoyen, na fronteira entre Brasil e Argentina. O relatório está disponível no link: https://bit.ly/DesEspPublicos.

Conexões Urbanas

Lançado em 2022, o projeto tem como objetivo fortalecer os governos locais através do planejamento e desenho urbano participativo de espaços públicos através de recomendações de políticas públicas, desenvolvimento de capacidades do corpo técnico, compartilhamento de conhecimento e apoio à regeneração de espaços públicos. O projeto atua na fronteira Brasil-Paraguai, nas cidades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, e na fronteira Brasil-Argentina, com os municípios de Barracão, Bom Jesus do Sul, Dionísio Cerqueira e Bernardo de Iriogyen. Além disso, o projeto engloba duas cidades no Líbano, implementado pela equipe local do ONU-Habitat no país.

Financiado pela Conta de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDA), o projeto já promoveu escutas da população e atores locais, realizou oficinas com autoridades e lideranças dos territórios, e elaborou um diagnóstico dos espaços públicos a partir de metodologias participativas, disponível neste link (https://bit.ly/AvEspaçosPúblicos).  

Contato para imprensa:

ONU-HABITAT

Alexia Saraiva

ONU-HABITAT

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

ONU-HABITAT
Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa