Coletiva de imprensa sobre o Oriente Médio
Coletiva de imprensa com o secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a escalada da violência no Oriente Médio, realizada em 6 de novembro de 2023.
O pesadelo em Gaza é mais do que uma crise humanitária. É uma crise de humanidade.
A intensificação do conflito está abalando o mundo, sacudindo a região e, o que é mais trágico, destruindo tantas vidas inocentes.

As operações terrestres das Forças de Defesa de Israel e o bombardeio contínuo estão atingindo civis, hospitais, campos de refugiados, mesquitas, igrejas e instalações da ONU - inclusive abrigos.
Ninguém está seguro.
Ao mesmo tempo, o Hamas e outros militantes usam civis como escudos humanos e continuam a lançar foguetes indiscriminadamente contra Israel.
Reitero minha total condenação aos abomináveis atos de terror perpetrados pelo Hamas em 7 de outubro e repito meu apelo pela libertação imediata, incondicional e segura dos reféns mantidos em Gaza.
Nada pode justificar a tortura, o assassinato, os ferimentos e o sequestro deliberados de civis.
A proteção dos civis deve ser primordial.
Estou profundamente preocupado com as claras violações das leis humanitárias internacionais que estamos testemunhando.
Quero ser claro: nenhuma parte em um conflito armado está acima do direito internacional humanitário.
Senhoras e senhores da imprensa,
Gaza está se tornando um cemitério de crianças. Centenas de meninas e meninos estão sendo mortos ou feridos todos os dias.
Segundo informações, mais jornalistas foram mortos em um período de quatro semanas do que em qualquer conflito em pelo menos três décadas.
Mais trabalhadores humanitários das Nações Unidas foram mortos do que em qualquer período comparável na história de nossa Organização.
Saúdo todos aqueles e aquelas que continuam seu trabalho de salvar vidas, apesar dos enormes desafios e riscos.
A catástrofe que se desenrola torna a necessidade de um cessar-fogo humanitário mais urgente a cada hora que passa.
As partes envolvidas no conflito - e, de fato, a comunidade internacional - enfrentam uma responsabilidade imediata e fundamental: interromper o sofrimento coletivo desumano e expandir drasticamente a ajuda humanitária a Gaza.
Hoje, as Nações Unidas e nossos parceiros estão lançando um apelo humanitário de US$ 1,2 bilhão para ajudar 2,7 milhões de pessoas - ou seja, toda a população da Faixa de Gaza e meio milhão de palestinos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.
Alguma ajuda que salva vidas está chegando a Gaza pelo Egito, através da passagem de Rafah.
Mas a assistência que chega aos poucos não atende ao oceano de necessidades.
E sejamos claros: a passagem de Rafah sozinha não tem capacidade para processar caminhões de ajuda na escala necessária.
Pouco mais de 400 caminhões entraram em Gaza nas últimas duas semanas, em comparação com 500 por dia antes do conflito. E, o que é mais importante, isso não inclui o combustível.
Sem combustível, bebês recém-nascidos em incubadoras e pacientes com suporte à vida morrerão.
A água não pode ser bombeada ou purificada.
O esgoto bruto poderá em breve começar a jorrar nas ruas, espalhando ainda mais as doenças.
Caminhões carregados de produtos essenciais ficarão retidos.
O caminho a seguir é claro:
- Um cessar-fogo humanitário. Agora.
- Todas as partes devem respeitar todas as suas obrigações de acordo com o direito internacional humanitário. Agora.
- Isso significa a libertação incondicional dos reféns em Gaza. Agora.
- A proteção de civis, hospitais, instalações da ONU, abrigos e escolas. Agora.
- Mais alimentos, mais água, mais medicamentos e, é claro, combustível - entrando em Gaza com segurança, rapidez e na escala necessária. Agora.
- Acesso irrestrito para entregar suprimentos a todas as pessoas necessitadas em Gaza. Agora.
- E o fim do uso de civis como escudos humanos. Agora.
Nenhum desses apelos deve ser condicionado aos outros.
E para tudo isso, precisamos de mais financiamento - agora.
Além disso, continuo seriamente preocupado com o aumento da violência e a expansão do conflito. A Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, está em um ponto de ebulição.
Também não podemos nos esquecer da importância de abordar os riscos de o conflito se espalhar pela região do Oriente Médio.
Já estamos testemunhando uma espiral de escalada do Líbano e da Síria para o Iraque e o Iêmen.
Essa escalada precisa parar.
A cabeça fria e os esforços diplomáticos devem prevalecer.
O discurso de ódio e as ações provocativas devem cessar.
Estou profundamente preocupado com o aumento do antissemitismo e do fanatismo antimuçulmano.
As comunidades judaicas e muçulmanas em muitas partes do mundo estão em alerta máximo, temendo por sua segurança pessoal.
As emoções estão à flor da pele. As tensões estão em alta.
As imagens de sofrimento são de partir o coração e esmagar a alma.
Mas precisamos encontrar uma maneira de nos apegarmos à nossa humanidade comum.
Penso nos civis de Gaza - a grande maioria mulheres e crianças - aterrorizados pelo bombardeio implacável.
Junto-me à família da ONU no luto por 89 de nossos colegas da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) que foram mortos em Gaza - muitos deles junto com membros de suas famílias.
Entre eles estão professores, diretores de escolas, médicos, engenheiros, guardas, equipe de apoio e uma jovem chamada Mai.
Mai não deixou que sua distrofia muscular ou sua cadeira de rodas limitassem seus sonhos. Ela era uma excelente aluna, tornou-se desenvolvedora de software e dedicou suas habilidades ao trabalho com tecnologia da informação para a UNRWA.
Sinto-me profundamente inspirado por seu exemplo.
Penso em todos aqueles que foram torturados e mortos em Israel há quase um mês e nos reféns - sequestrados de suas casas, suas famílias e seus amigos enquanto simplesmente viviam suas vidas.
Há dez dias, encontrei-me com alguns dos familiares desses reféns.
Ouvi suas histórias, senti sua angústia e fiquei profundamente comovido com sua compaixão.
Jamais desistirei de trabalhar pela libertação imediata deles. Isso é essencial por si só é fundamental para resolver muitos outros desafios.
Uma mãe compartilhou comigo, de forma comovente, sua desolação pelo filho sequestrado, Hersh.
Ela também falou fora do Conselho de Segurança - e sobre o tema do enfrentamento do ódio, ela disse:
"Quando você só fica indignado quando os bebês de um lado são mortos, então sua bússola moral está quebrada e sua humanidade está quebrada."
Mesmo em seu total desespero, ela se apresentou ao mundo e nos lembrou:
"Em uma competição de dor, nunca há um vencedor".
Precisamos agir agora para encontrar uma saída para esse beco sem saída de destruição brutal, terrível e agonizante.
Para ajudar a acabar com a dor e o sofrimento.
Ajudar a curar os feridos.
E para ajudar a pavimentar o caminho para a paz, para uma solução de dois estados com israelenses e palestinos vivendo em paz e segurança.
Muito obrigado.
Para mais informações, siga @nacoesunidas nas redes sociais e acompanhe a cobertura da ONU News em português: https://news.un.org/pt/focus/oriente-medio
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