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Minerais críticos: Aproveitamento de dados é chave para desvendar tesouros escondidos

13 março 2024

Uma solução da UNCTAD para os países em desenvolvimento digitalizarem e partilharem dados sobre recursos naturais ganha um significado renovado num contexto de crescente procura de minerais vitais para a transição para energias limpas.

A UNCTAD apoia a digitalização e o compartilhamento de dados para facilitar a descoberta de novos recursos naturais críticos para a transição para uma economia de baixo carbono. 

Minerais críticos desempenham um papel crucial em tecnologias de energia renovável, como células solares fotovoltaicas.
Legenda: Minerais críticos desempenham um papel crucial em tecnologias de energia renovável, como células solares fotovoltaicas.
Foto: © Tsvetan Ivanov/Getty Images.

 

A busca global por um sistema energético mais limpo aumentou a procura de minerais críticos para a transição energética, como o lítio, o cobalto, o níquel e o cobre. Esses minerais desempenham um papel crucial em tecnologias de energia renovável, como células solares fotovoltaicas, energia eólica, armazenamento de baterias e veículos elétricos.

Por exemplo, prevê-se que a procura de cobre para emprego em sistemas de energia limpa suba atinja 42% da demanda global do produto até 2050, de acordo com cálculos do organismo da ONU para o comércio e o desenvolvimento, UNCTAD, baseados em dados da Agência Internacional de Energia.

No entanto, se a produção de cobre continuar ao ritmo atual, a crescente procura não será satisfeita, criando uma lacuna significativa que precisa de ser abordada para manter o aquecimento global não superior a 1,5°C, em linha com o Acordo de Paris sobre o Clima

Tecnologia pode ajudar a desbloquear tesouros minerais escondidos

Para satisfazer a procura crescente, os países precisam explorar novos recursos abundantes em minérios de alta qualidade e atrair investimentos para o setor, entre outras medidas essenciais.

Eles podem usar tecnologia e dados para identificar recursos que os geólogos podem não perceber e ajudar os mineradores a determinar os locais ideais de perfuração.

Na Zâmbia, por exemplo, uma empresa privada utilizou inteligência artificial para gerar mapas geológicos da crosta terrestre, resultando na descoberta de um depósito de cobre de alta qualidade em grande escala.

Isso foi feito por meio da aplicação de algoritmos para analisar múltiplos fluxos de dados, desde dados históricos de perfuração até imagens de satélite, melhorando a identificação de potenciais novos depósitos.

O avanço na exploração de novos recursos de cobre pela Zâmbia mostra como os países em desenvolvimento podem utilizar abordagens inovadoras para descobrir novas reservas de minerais críticos e ajudar a fechar a lacuna entre a oferta e a procura.

“Os países precisam de melhores dados para se beneficiarem mais destes minerais, protegendo ao mesmo tempo o planeta”, explica Miho Shirotori, chefe da divisão de comércio internacional da UNCTAD.

Muitos países em desenvolvimento não dispõem dos dados fiáveis necessários para atrair investimentos para os seus minerais ainda não descobertos.

Uma solução em rede

Uma solução fundamental, proposta pela primeira vez pela UNCTAD em 2009 e que ganha uma urgência renovada no meio da transição energética global, é a criação de uma rede internacional para a digitalização e partilha de dados para facilitar a descoberta de novos recursos naturais.

A iniciativa da UNCTAD, conhecida como Intercâmbio de Informações sobre Recursos Naturais (IIRN), teve como objetivo criar um repositório de informações digitais, com foco em dados históricos geocientíficos.

A iniciativa estagnou anteriormente devido a lacunas técnicas em alguns dos potenciais países beneficiários e às complexidades dos quadros jurídicos e regulamentares relativos à propriedade de dados, direitos de acesso e confidencialidade.

A UNCTAD está agora renovando a iniciativa, com ênfase no reforço da capacidade dos países para gerir a sua riqueza de dados.

A nova iniciativa poderia ajudar os países ricos em minerais em África e noutros lugares a criar os seus próprios bancos de dados de recursos naturais para captar o valor inexplorado da informação geocientífica para otimizar o desenvolvimento e a gestão dos recursos naturais.

Esses bancos de dados incluiriam uma série de dados minerais históricos digitalizados, tais como:

  • Mapas antigos e informações sobre formações rochosas, composição mineral e estruturas geológicas.
  • Dados de exploração, incluindo resultados de perfuração, levantamentos geofísicos e análises geoquímicas.
  • Dados de produção, detalhando quantidades extraídas, teores de minério e métodos de produção.
  • Dados ambientais, como avaliação da qualidade da água, monitoramento da qualidade do ar e estudos de biodiversidade.

A iniciativa permitiria aos países em desenvolvimento aproveitar o poder da tecnologia para compilar e analisar grandes quantidades de dados, capacitando-os a tomar decisões informadas sobre as suas reservas minerais de forma responsável e inclusiva.

Abordagem inclusiva

A UNCTAD defende uma abordagem colaborativa e inclusiva envolvendo governos, empresas e instituições com arquivos geocientíficos trabalhando em conjunto para desenvolver bancos de dados de recursos naturais.

Apoiará os países beneficiários no desenvolvimento da sua capacidade de digitalizar e organizar os seus dados minerais históricos. A iniciativa facilitaria o fácil acesso, pesquisa e recuperação de informações arquivadas através de bases de dados digitais e inteligência artificial, conforme demonstrado nos esforços recentes na Zâmbia.

Aumentará também a eficiência da governança de dados, fornecendo conjuntos de dados mais abrangentes e precisos. Isto poderia melhorar a tomada de decisões entre os decisores políticos, agências governamentais e partes interessadas da indústria no que diz respeito à alocação de recursos.

Além disso, os países em desenvolvimento podem reforçar a sua capacidade de atrair investimentos, o que poderia estimular o crescimento econômico e contribuir para satisfazer a procura global de minerais críticos para a transição energética de uma forma sustentável.

De acordo com a UNCTAD, é também essencial garantir que a crescente procura de minerais críticos para a transição energética não consolide ainda mais a dependência dos países em relação aos produtos de base para as suas receitas de exportação.

Esta dependência deixa os países vulneráveis às flutuações dos preços de mercado e aos choques econômicos globais. Também está ligado ao menor desenvolvimento socioeconômico.

Saiba mais: 

Contato para imprensa:

  • Gustavo Barreto, Oficial de Informação Pública, UNCTAD: barretog@un.org

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNCTAD
Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento

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