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No Brasil, impunidade e interesses econômicos matam defensores de direitos humanos

19 abril 2024

O Brasil precisa priorizar a demarcação e titulação de terras - a principal causa da maioria dos ataques contra defensoras e defensores de direitos humanos, afirmou, nesta sexta (19), a Relatora Especial da ONU sobre a situação das pessoas defensoras de direitos humanos. 

“Pessoas defensoras de direitos humanos estão sob extrema ameaça no Brasil. O Governo Federal tem consciência disso, porém até agora não conseguiu implementar as estruturas necessárias para proteger defensoras e defensores e combater as causas dos riscos que enfrentam”, disse Mary Lawlor, Relatora Especial da ONU, em um comunicado sobre a situação que as pessoas defensoras de direitos humanos enfrentam, escrito após uma visita oficial ao país. 

A Relatora Especial das Nações Unidas sobre a situação de pessoas Defensoras de Direitos Humanos, Mary Lawlor, está em missão no Brasil entre os dias 8 e 19 de abril de 2024. Durante sua visita, analisará o contexto das pessoas defensoras de direitos humanos no país e até que ponto elas podem realizar seu trabalho livremente e sem medo.
Legenda: A Relatora Especial das Nações Unidas sobre a situação de pessoas Defensoras de Direitos Humanos, Mary Lawlor, cumpriu missão no Brasil entre os dias 8 e 19 de abril de 2024. Durante sua visita, ela analisou o contexto das pessoas defensoras de direitos humanos no país e até que ponto elas podem realizar seu trabalho livremente e sem medo.
“Durante a minha visita, ouvi repetidamente de defensores e defensoras que sobreviveram a tentativas de assassinato, que foram baleadas, tiveram suas casas cercadas, sofreram ameaças de morte. Ouvi pessoas defensoras que assistiram o seu trabalho ser criminalizado", disse a Relatora Especial da ONU

O Governo Federal do Brasil reconhece as pessoas defensoras de direitos humanos e seu trabalho, e compreende os riscos que enfrentam, observou a especialista. No entanto, quando pessoas defensoras de direitos humanos desafiam as estruturas de poder que impõem e reforçam a injustiça, são violentamente atacadas e enfrentam um nível de risco extremamente alto, disse ela. 

 “As pessoas defensoras de direitos humanos que mais correm risco no Brasil são Indígenas e Quilombolas e membros de outras comunidades tradicionais. Em muitos casos, os autores dos ataques são conhecidos. No entanto, a impunidade por esses crimes continua desenfreada”, disse Lawlor. 

Em visita à comunidade quilombola de Pitanga dos Palmares, na Bahia, a Relatora Especial da ONU, Mary Lawlor, conheceu os filhos de Binho do Quilombo e de Mãe Bernadete - defensores de Direitos Humanos assassinados. Foto tirada em 12 de abril de 2024, no local onde Mãe Bernadete foi morta.
Legenda: Em visita à comunidade quilombola de Pitanga dos Palmares, na Bahia, a Relatora Especial da ONU, Mary Lawlor, conheceu os filhos de Binho do Quilombo e de Mãe Bernadete - defensores de Direitos Humanos assassinados. Foto tirada em 12 de abril de 2024, no local onde Mãe Bernadete foi morta.

Para a especialista da ONU, as empresas e os mercados desempenham um papel marcante impulsionando os conflitos, que colocam em risco aquelas e aqueles que defendem os direitos humanos. 

“A demarcação e titulação de terras indígenas, quilombolas e de outros povos tradicionais, deve ser priorizada, bem como a revisão da legalidade de todas as concessões e licenças que foram concedidas às empresas”, enfatizou. 

Lawlor disse que nas áreas urbanas, pessoas defensoras de direitos humanos também são atacadas, difamadas e muito criminalizadas, especificamente as mulheres negras defensoras dos direitos humanos, jornalistas, comunicadoras e advogadas populares e trabalhadores sociais e da cultura. 

“Associar pessoas defensoras de direitos humanos à criminosos, algo feito constantemente pelas autoridades locais - em particular defensoras e defensores que fazem parte de movimentos sociais e apoiam os mais vulneráveis da sociedade – é um problema claro e tem que acabar”, disse a especialista. 

Um programa de proteção para pessoas defensoras de direitos humanos em situações de risco está em vigor no Brasil há algum tempo. No entanto, Lawlor disse que atualmente não cumpre o propósito e precisa ser reformado e radicalmente ampliado. 

Lawlor aplaudiu o Governo Federal por reabrir a porta às pessoas defensoras dos direitos humanos e à sociedade civil para que participem da concepção das políticas que irão as afetar e incentivou as autoridades a não abandonarem esses esforços. 

“O Governo Federal precisa ter a mesma coragem que os defensores e as defensoras de direitos humanos no país demonstram – e isso é urgente”, disse Lawlor. 

FIM

Acesse a transcrição da coletiva de imprensa, em português. O comunicado à imprensa está disponível, em inglês, na página do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 

Mais informações: 

Mary Lawlor é Relatora Especial sobre a situação de pessoas defensoras de direitos humanos desde 1º de maio de 2020. Ela nasceu e foi educada na Irlanda e é professora adjunta de negócios e direitos humanos. Foi fundadora e diretora da Front Line Defenders (2001-2016) e diretora da Seção Irlandesa da Anistia Internacional (1988 a 2000). 

Para saber mais sobre o seu mandato, acesse o material informativo em português

Mary Lawlor é Relatora Especial sobre a situação de pessoas defensoras de direitos humanos
Legenda: A Relatora Especial da ONU sobre a situação de pessoas defensoras de direitos humanos, Mary Lawlor.

Relatores Especiais fazem parte do que é conhecido como a estrutura de Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos. Procedimentos Especiais, o maior órgão de especialistas independentes no sistema de Direitos Humanos da ONU, é o nome geral dos mecanismos independentes de avaliação e monitoramento do Conselho que abordam situações específicas de países ou questões temáticas em todo o mundo. 

Especialistas em Procedimentos Especiais trabalham voluntariamente; não são funcionários da ONU e não recebem um salário por seu trabalho. Não dependem de qualquer governo ou organização e trabalham em sua capacidade individual. 

Contatos para imprensa: 

Visite a página da ONU Direitos Humanos sobre o Brasil e acompanhe as notícias relacionadas aos especialistas independentes em direitos humanos da ONU no X: @UN_SPExperts.

ACNUDH

María Jeannette Moya e Felipe Iturrieta Gonzalez

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Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos

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