A paixão pela agricultura urbana é compartilhada por venezuelanos no Brasil e na Argentina
Enquanto Leonardo atua no Centro de Sustentabilidade em Boa Vista, Abelis Carrillo encontrou um propósito ao trabalhar com cultivo de alimentos em Córdoba.
Uma região cercada por vastos campos de girassóis, milho e cana-de-açúcar foi onde Abelis, de 29 anos, cresceu. Seu amor pela natureza a levou a estudar engenharia agronômica para dar continuidade ao seu desejo de viver e trabalhar no campo, cuidando da terra e dos animais.
Ao buscar a condição de refugiada na Argentina, ela enfrentou desafios ao tentar se estabelecer em um novo país, encontrando no trabalho um meio de crescimento profissional e social. Na Loopfarms, uma empresa inovadora que promove a agricultura sustentável, ela encontrou não apenas um emprego, mas uma paixão. Depois de trabalhar cinco meses como estagiária, agora ela supervisiona a produção de microgreens e cogumelos comestíveis em uma das instalações da empresa.
A missão da startup é revolucionar a agricultura urbana e promover um modelo de produção de alimentos sustentável. A empresa utiliza tecnologia de ponta, como biogás e hidroponia, para cultivar microgreens em ambientes internos, aproveitando ao máximo o espaço disponível nas áreas urbanas.
"Eles não precisam de muita água e terra, e seu ciclo de produção é mais curto", explica Abelis.
A Loopfarms coleta resíduos orgânicos gerados por restaurantes próximos para produzir biofertilizantes, que são então usados para alimentar os brotos.
"Trata-se de aproveitar recursos que teriam sido perdidos, através da reciclagem de resíduos orgânicos", diz o colega de Abelis, Mauro.
No Brasil, uma iniciativa implementada em 2022 segue despertando o interesse entre jovens venezuelanos. Localizado na capital de Roraima, Boa Vista, o Centro de Sustentabilidade é um espaço onde a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) desenvolve ações de soluções ecológicas para a produção sustentável de alimentos.
Os mais engajados na iniciativa são os jovens que compõem o Comitê Jovem de Sustentabilidade dos abrigos. O grupo organiza discussões sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e reflete sobre a implementação de soluções de responsabilidade ambiental adequadas para a localidade, garantindo que elas estejam conectadas às possibilidades naturais do entorno. Eles mobilizam pessoas nas atividades de compostagem, biodigestores, aquaponia e manejo de um canteiro e arboreto.
Desde o início do projeto, mais de 5 mil mudas de árvores já foram doadas para o reflorestamento de abrigos e áreas públicas em Boa Vista, capital de Roraima, estado com o maior fluxo de pessoas refugiadas e migrantes que, em média, segue recebendo cerca de 300 pessoas por dia.
“Aqui, no Centro de Sustentabilidade, aprendemos e temos experiências práticas sobre agricultura, tivemos encontros de atividades, fomos a laboratórios, conhecemos mais sobre plantas. Foi muito divertido”, conta Leonardo, integrante do Comitê Jovem de Sustentabilidade e eleito representante do grupo.
Globalmente, a agricultura e a produção de alimentos geram quase um terço das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Em contraste, os trabalhos de Abelis e de Leonardo estão mitigando a mudança climática ao usar transporte, terra e água mínimos para produzir alimentos que são embalados em recipientes retornáveis para evitar o desperdício de plástico.
Apesar dos desafios que enfrentam, pessoas refugiadas estão desempenhando um papel importante na ajuda às suas comunidades para se adaptarem às ameaças da crise climática. Com o apoio certo, elas adotaram práticas sustentáveis e lançaram iniciativas para proteger os ecossistemas locais e construir resiliência. O envolvimento delas é crucial em meio a uma crise que está afetando o mundo inteiro, mas impacta particularmente as pessoas vulneráveis que vivem em regiões afetadas por conflitos e desastres.
Atualmente, no Rio Grande do Sul, uma equipe do ACNUR especializada em gestão de abrigos, documentação e prevenção de violência baseada em gênero está atuando nas áreas afetadas e está coordenando o recebimento de itens de socorro enviados, como 208 unidades emergenciais de habitação. A equipe também está fornecendo assistência técnica para facilitar a construção dos novos locais de abrigamento temporário e segue traduzindo as informações oficiais em diferentes idiomas para facilitar a tomada de decisões por parte de pessoas refugiadas e migrantes.
Essa história integra a série de destaques da ONU Brasil para o Dia Mundial do Meio Ambiente 2024. Visite a página da campanha e faça parte da #GeraçãoRestauração: https://www.worldenvironmentday.global/pt-br