Brasil se mobiliza para superar desafios causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul e impulsionar ação climática global
O Dia Mundial do Meio Ambiente serve como lembrete da necessidade urgente de agir para garantir a resiliência contra futuros desastres climáticos.
O criador de cordeiros e empresário Bernardo Barbosa Ibargoyen (44) estava preparado para a alta temporada de seu negócio. A chegada do inverno na Região Sul do Brasil costuma fazer com que seus negócios floresçam, com moradores e turistas lotando restaurantes no Rio Grande do Sul em busca do sabor da culinária regional.
Atualmente, seu pai é responsável pela fazenda da família, localizada em Santana do Livramento, cidade na fronteira entre o Brasil e o Uruguai, enquanto Bernardo supervisiona a venda de cortes de carne para restaurantes do estado. A família trabalha com pecuária há quatro gerações.
“Tenho minha própria empresa há oito anos. É um negócio de pequena escala com carne de altíssima qualidade”, diz Bernardo.
O que Bernardo não estava preparado para enfrentar eram as fortes chuvas e os alagamentos generalizados que deixariam centenas de cidades do Rio Grande do Sul submersas durante semanas.
Segundo dados oficiais divulgados na segunda-feira, os piores alagamentos da história do estado, que começaram no final de abril, afetaram 475 cidades, deslocando cerca de 600 mil residentes e matando pelo menos 172 pessoas, com centenas de feridos.
A subida do nível dos rios destruiu casas, lojas, fábricas e infraestruturas vitais. O maior aeroporto do estado foi fechado por tempo indeterminado. As pessoas enfrentaram cortes de energia e interrupções na internet. O custo total da reconstrução do estado ainda está sendo calculado por economistas e pelo governo, mas estimativas iniciais indicam que poderá ultrapassar 120 bilhões de reais.
“Nosso negócio teve queda de 80% no faturamento em maio”, diz Bernardo.
“De um momento para o outro, restaurantes tiveram que fechar e não havia ninguém para comprar a nossa carne. Cerca de 20% do nosso estoque de carne estragou devido a uma queda de energia de cinco dias. Não podíamos plantar leguminosas para complementar a alimentação dos nossos animais. Alguns de nossos cordeiros provavelmente morrerão devido a fungos causados pela umidade em seus cascos. Eles também podem perder peso devido ao estresse desnecessário no inverno.”
Bernardo mora na capital Porto Alegre, a 500 km de sua fazenda em Santana do Livramento. As estradas e pontes danificadas significam que ele não pode ajudar seus pais na fazenda com a mesma frequência que antes.
Confrontada com essa situação, a esposa de Bernardo, Aline Barilli Alves, teve uma ideia.
“Diante da necessidade de usarmos as economias que tínhamos para pagar as contas, ela mobilizou familiares e amigos para organizar um movimento para ajudar pequenos empresários como nós”, diz Bernardo.
Esse movimento virou uma plataforma online, chamada “Produtores Gaúchos Unidos”, por meio da qual produtores de alimentos do Rio Grande do Sul podem vender seus produtos para restaurantes fora do estado.
Caminho para a resiliência climática
A “Produtores Gaúchos Unidos” faz parte dos diversos esforços nacionais e internacionais mobilizados para ajudar o estado sulista. Instituições locais, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Sul (Sebrae-RS), criaram canais de contato direto para oferecer informações úteis às pequenas empresas neste período.
Olhando para além da prioridade imediata de prestar socorro às vítimas, o acontecimento catastrófico serve como mais um lembrete da necessidade de catalisar ações ousadas para combater os impactos devastadores da mudança climática, tais como iniciativas de desenvolvimento industrial sustentável apoiadas pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).
O aumento da temperatura global devido às mudanças climáticas aumentou a frequência de eventos climáticos extremos. O mais recente Relatório sobre o Estado do Clima Global da Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que 2023 foi de longe o ano mais quente já registado. Quer se trate de alagamentos, secas, incêndios florestais ou ondas de calor extremas, quase metade da população mundial é altamente vulnerável aos impactos climáticos.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado anualmente em 5 de junho e este ano centrado na desertificação, degradação dos solos e resiliência à seca, serve como um lembrete da necessidade urgente de agir para garantir a resiliência contra futuros desastres climáticos.
A redução de emissões e da degradação ambiental exige uma mudança radical nos processos de produção. O setor industrial é atualmente responsável por cerca de um terço das emissões de gases de efeito de estufa, mas pode tornar-se um fornecedor líder de soluções tecnológicas, modelos de negócio e empregos verdes.
Com novas tecnologias e inovação, as emissões podem diminuir sem abrandar o crescimento econômico. A transformação verde da indústria é, portanto, essencial para acelerar o alcance de objetivos climáticos e de desenvolvimento sustentável.
Combatendo a mudança climática com tecnologia e inovação
Soluções tecnológicas como a energia proveniente de fontes renováveis podem ajudar a reduzir emissões de gases de efeito de estufa e diminuir a pegada de carbono. Um grande exemplo é o projeto GEF Biogás Brasil, implementado pela UNIDO, que reúne o esforço coletivo de organizações internacionais, do setor privado, de associações industriais e do Governo Federal para tornar a matriz energética brasileira resiliente ao clima, transformando resíduos orgânicos agroindustriais e resíduos sólidos urbanos em biogás, que é fonte renovável de eletricidade, energia térmica, combustível, biofertilizante e outros subprodutos.
O projeto GEF Biogás Brasil é liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), implementado pela UNIDO, financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e tem o CIBiogás como principal entidade executora. O projeto ajuda o Brasil a desbloquear seu potencial econômico e ambiental, e a acelerar a transição energética do país, promovendo modelos de negócios sustentáveis, inovação tecnológica, desenvolvimento de políticas públicas, bem como troca de conhecimento e capacitação.
Enquanto planeja a reconstrução pós-alagamentos e o crescimento futuro, o Brasil deve dar prioridade a materiais de baixo carbono e procurar criar incentivos para que a indústria faça essa mudança. O Brasil pode alavancar inovações de baixo carbono nas indústrias pesadas e aproveitar sua vantagem competitiva para produzir aço e cimento verdes. Esses materiais vitais de construção são responsáveis pela maior parte das emissões de carbono do setor industrial do país atualmente, e espera-se que a sua procura aumente à medida em que o Brasil, tal como outros países, dá continuidade à sua industrialização, com crescimento populacional e melhora dos padrões de vida.
O Brasil pode se beneficiar de sua adesão à Iniciativa de Descarbonização Industrial Profunda e à rede do Acelerador de Descarbonização Industrial, coordenados pela UNIDO, que promovem a colaboração para acelerar a implantação de tecnologias de emissão baixa e próxima de zero, e permitir que as indústrias brasileiras mudem para processos mais limpos e eficientes.
Além disso, Brasil e Reino Unido estabeleceram recentemente uma parceria para criar o Hub de Descarbonização Industrial para apoiar as ambições brasileiras de descarbonização industrial e industrialização verde. Essas e outras iniciativas semelhantes irão cultivar o potencial do Brasil para se tornar um líder nos esforços globais de descarbonização da indústria.
A liderança do Brasil na Cúpula do G20 em 2024, na COP30 em 2025 e no BRICS – aliança entre grandes países em desenvolvimento – oferece uma janela de oportunidade única para o país impulsionar a agenda climática e nortear uma transição energética justa e equitativa.
As enchentes recentes no Rio Grande do Sul servem como lembrete de que o momento de agir é agora. Se você é proprietário de uma empresa e gostaria de participar de ações significativas para a criação de um futuro mais sustentável, entre em contato com a UNIDO para se envolver através de projetos, eventos, programas e parcerias.
Essa história integra a série de destaques da ONU Brasil para o Dia Mundial do Meio Ambiente 2024. Visite a página da campanha e faça parte da #GeraçãoRestauração: https://www.worldenvironmentday.global/pt-br