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Entrevista: "Somos uma família arco-íris"

28 junho 2024

A ícone pop Daniela Mercury e sua filha Márcia Verçosa Mercury falam sobre o amor, a força e o apoio necessários para ser uma pessoa aliada.


Daniela e sua filha mais velha com Malu, Márcia, se juntaram à ONU Livres & Iguais para uma entrevista especial.

Legenda: Daniela e sua filha mais velha com Malu, Márcia, se juntaram à ONU Livres & Iguais para uma entrevista especial.
Foto: © ONU Livres & Iguais.

"É de extrema importância para nós [pessoas LGBTIQ+] ter um aliado dentro da família. Todas as pessoas na família são importantes. Ter o apoio dos meus filhos foi fundamental para que eu tivesse forças para lutar pelos meus direitos."

A icônica cantora e compositora brasileira Daniela Mercury tem sido uma defensora do programa Livres & Iguais da ONU há quase uma década. A mãe de cinco filhos é casada com Malu Verçosa, com quem tem três filhas. Daniela e sua filha mais velha com Malu, Márcia, se juntaram à ONU Livres & Iguais para uma entrevista especial. Sentadas lado a lado em um sofá em sua casa, elas discutiram sobre a importância do apoio, da aceitação e do poderoso impacto das relações de aliança em sua própria família "arco-íris" e na vida LGBTIQ+ em geral.

Pergunta: Como os filhos podem ser aliados de seus pais LGBTIQ+? Como foi o início dessa jornada para Márcia?

Daniela: Eu tenho cinco filhos. A Márcia é a terceira. Ela tem 26 anos, é advogada e tem sido uma aliada minha e da Malu desde pequena, desmistificando a forma como as pessoas nos veem e o que é uma família "arco-íris".

Márcia: Meu papel como aliada começou na escola. Fiquei mais consciente porque todos vinham até mim e perguntavam: "Como é ter duas mães?" Desde a escola eu tinha que explicar que eu vivia normalmente assim como elas.  Chego em casa, almoço com minha família, brinco com minhas irmãs, converso com minhas mães, brigo, discuto, como todo mundo!  As pessoas costumam pensar que se trata de algo incomum ou complicado, mas na verdade é a coisa mais simples do mundo: uma família como qualquer outra. 

Daniela: Discutir o significado de "normal" também é defender!

Márcia: Exatamente! Tenho muitos amigos homens, então o ambiente às vezes pode ser um pouco machista e até mesmo homofóbico. Educar por meio de pequenas ações - como questionar piadas ofensivas - pode parecer insignificante, mas é aí que a mudança começa, e isso faz a diferença. 

P: Qual é a importância de que pessoas LGBTIQ+ tenham aliados em suas próprias famílias? 

Daniela: É de extrema importância para nós [pessoas LGBTIQ+] ter um aliado dentro da família. Todas as pessoas na família são importantes. Ter o apoio dos meus filhos foi fundamental para que eu tivesse forças para lutar pelos meus direitos. Se eu tivesse que discutir com meus filhos em casa e enfrentar suas reações negativas à minha orientação sexual, teria sido muito difícil para Malu e eu superarmos os desafios e mantermos uma família unida, consciente e feliz. 

Somos abertamente uma família “arco-íris” feliz, apesar dos desafios que enfrentamos. E como uma família, estamos lado a lado contra a discriminação e o preconceito.

P: O que te motiva no teu papel de aliada das tuas mães?

Márcia: A luta [pela igualdade] é crucial, mas o aspecto mais fundamental de ser uma aliada é o amor. O amor é o que vai mover você. 

Essa aliança cria uma rede de apoio, o que é essencial porque as pessoas LGBTIQ+ já enfrentam muitas dificuldades. Como pessoas aliadas, proporcionamos o conforto de ter alguém com quem conversar e de estar ao seu lado em sua causa. Já é bastante desafiador ter de explicar as coisas e lidar com a discriminação fora de casa, então ter apoio em casa é incrivelmente importante. Ter amigos e familiares que ofereçam um espaço acolhedor, amoroso e respeitoso é uma das coisas mais importantes que podemos oferecer como aliados.


Quero que o mundo inteiro seja aliado, que seja nosso aliado, por amor ou por sua humanidade, bondade, respeito e desejo de que este mundo seja acolhedor para toda a diversidade humana.

Legenda: "Quero que o mundo inteiro seja aliado, que seja nosso aliado, por amor ou por sua humanidade, bondade, respeito e desejo de que este mundo seja acolhedor para toda a diversidade humana."
Foto: © Sasa Lazic.

P: Daniela, você falou sobre como o apoio de seus filhos, incluindo o da Márcia, influenciou sua jornada. Como seus pais afetaram essa situação?

Daniela: Durante toda a minha vida, tenho falado sobre a importância de ter meus pais como aliados, na verdade, toda a família, meus irmãos, meus filhos. Se eu não tivesse essa força, esse apoio e essa aceitação, teria sido muito difícil para mim. Eu teria continuado a lutar por igualdade, mas não me sentiria respeitada e acolhida em casa.

Malu e eu nos casamos oficialmente, com nossos pais ao nosso lado. Meu pai tem 95 anos e minha mãe 85, então tudo isso era novo para eles. É incrivel vê-los como nossos aliados, amando a Malu e acolhendo nosso relacionamento e nossa família. Elas também adoram as três filhas que tenho com a Malu, o que torna tudo ainda mais maravilhoso.

Minha mãe é uma forte defensora dos direitos humanos. Meu pai, por outro lado, teve de superar suas barreiras internas, o que é compreensível, dada a natureza geralmente sexista, homofóbica e transfóbica da sociedade. Todos temos esses preconceitos dentro de nós. 

P: Como seu pai se tornou mais um aliado com o passar do tempo?

Daniela: É um desafio para cada um de nós romper com esses preconceitos, e é ainda mais difícil para pessoas mais velhas que passaram a vida em famílias heterossexuais tradicionais. 

Eu já havia sido casada com homens antes, então essa foi uma experiência nova para meus pais. Ainda assim, por amor, meu pai acolheu. A princípio, ele disse: "Você vai falar sobre isso publicamente?" E eu disse a ele: "Eu vou, pai, é importante. Você me ensinou a ser corajosa, a lutar pelo que eu sou, pelo que eu acredito. E eu não tenho vergonha nenhuma de ser quem eu sou.” Ele entendeu. 

P: Marcia, como você lida com situações em que ouve comentários negativos sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo ou pessoas LGBTIQ+?

Márcia: Sempre que estou em uma situação em que vejo algo que não está certo, eu me pronuncio. Uma vez eu fui a um açougue e estava conversando com o rapaz enquanto ele cortava uma carne e ele estava me dizendo o quão ele achava absurdo duas pessoas do mesmo sexo estarem se relacionando. Eu comecei a explicar: "Tenho duas mães, uma família, duas irmãs, vou para a faculdade, elas vão para a escola, assim como você, assim como sua família." E, no final da conversa, ele parou, entendeu e disse: “Nossa, realmente…  Eu vou estudar um pouco mais sobre isso...” Sempre houve diferentes tipos de famílias, não apenas as famílias arco-íris, mas também mães solteiras ou crianças que são criadas pelos avós.

P: O que você diria àqueles que gostariam de ser aliados das pessoas LGBTIQ+, mas não sabem por onde começar?

Daniela: Nós precisamos de aliados. Minha filha é uma aliada que tenho muito orgulho de ter. Primeiro por amor, depois por consciência de nossa causa. Acredito que devemos incentivar todos a serem aliados. Ao longo de minha vida, conheci muitas pessoas que lutam pela igualdade, que lutaram antes de mim e outras que lutarão depois de mim.

Quero que o mundo inteiro seja aliado, que seja nosso aliado, por amor ou por sua humanidade, bondade, respeito e desejo de que este mundo seja acolhedor para toda a diversidade humana. Obrigada, obrigada minha filha. Te amo. 

Márcia: Te amo!

Para saber mais, siga @onuderechoshumanos nas redes e participe da campanha ONU Livres & Iguais: https://www.unfe.org/pt/ 

ACNUDH

María Jeannette Moya e Felipe Iturrieta Gonzalez

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Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos

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