Secretário Geral: "A crise climática está aqui. Precisamos nos adaptar agora"
07 novembro 2024
Discurso do Secretário Geral no lançamento do Relatório sobre a Lacuna de Adaptação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O Relatório sobre a Lacuna de Adaptação publicado hoje é claro: a calamidade climática é a nova realidade. E não estamos conseguindo acompanhar.
A Terra está em chamas. E a humanidade está exposta.
Este ano, tivemos o dia mais quente e os mares mais quentes da história.
Quinze dos últimos dezesseis meses bateram recordes de temperatura.
E hoje, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e seus parceiros nos informam que 2024 está a caminho de ser o ano mais quente já registrado - quase dois meses antes de seu término.
A humanidade está queimando o planeta e pagando o preço.
Veja os últimos seis meses.
Maio: Enchentes varrem a África Oriental e o Brasil. Onda de calor atinge a Ásia.
Junho: Calor mortal no México, no Oriente Médio e nos EUA.
Julho: O mais antigo furacão de categoria 5 do Caribe.
Agosto: Cidades gregas cercadas por chamas.
Setembro: O furacão Yagi atinge o sudeste da Ásia. Incêndios florestais recordes registrados na América do Sul. O pior furacão dos EUA desde o Katrina.
E outubro: Inundações inflamam a crise no Sahel. E causam estragos na Espanha, onde a chuva de um ano teria caído em apenas oito horas.
Por trás de cada uma dessas manchetes está a tragédia humana, a destruição econômica e ecológica e o fracasso político.
A catástrofe climática está afetando a saúde, ampliando as desigualdades, prejudicando o desenvolvimento sustentável e abalando os alicerces da paz.
Os vulneráveis são os mais atingidos.
E os contribuintes estão pagando a conta. Enquanto os responsáveis por toda essa destruição - especialmente o setor de combustíveis fósseis - obtêm enormes lucros e subsídios.
Enquanto isso, a lacuna entre os fundos necessários para a adaptação e os fundos disponíveis para os países em desenvolvimento deve chegar a US$ 359 bilhões por ano até 2030.
Precisamos de ações urgentes em quatro áreas.
Primeiro, os novos planos nacionais de ação climática, ou NDCs (Contribuições Determinadas Nacionalmente), devem definir claramente as necessidades de planejamento, financiamento e implementação da adaptação, com base em dados de alta qualidade.
Em segundo lugar, todas as pessoas na Terra devem ser protegidas por um sistema de alerta precoce eficaz até 2027, de acordo com a Iniciativa de Alerta Precoce para Todos da ONU.
Terceiro, um aumento massivo no financiamento de adaptação de fontes públicas e privadas.
Todos os países devem ter os meios para se proteger dos extremos climáticos. E aproveitar os benefícios da adaptação para impulsionar o progresso dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Precisamos que os países desenvolvidos dobrem o financiamento da adaptação para pelo menos US$ 40 bilhões por ano até 2025 - um passo importante para fechar a lacuna financeira.
Precisamos desbloquear uma nova meta de financiamento climático na COP29.
Além disso, é preciso aproveitar o Pacto para o Futuro, promovendo ações sobre a dívida e aumentando substancialmente a capacidade de empréstimo dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento - e seu potencial para alavancar muito mais financiamento privado.
O relatório de hoje estima que os países em desenvolvimento fora da China estão gastando mais em pagamentos de juros da dívida do que precisam para adaptação.
Em quarto lugar, precisamos atacar o cerne da crise: os gases de efeito estufa.
O G20 deve liderar os esforços globais para reduzir as emissões em 9% ao ano até 2030, eliminar gradualmente os combustíveis fósseis de forma rápida e justa e acelerar a revolução das energias renováveis - para que possamos limitar o aumento da temperatura global a 1,5º Celsius.
A crise climática está aqui. Não podemos adiar a proteção. Precisamos nos adaptar - agora.