Abertura da COP29: Discurso do secretário-executivo da ONU Mudança Climática
Discurso do secretário-geral da ONU Mudança Climática, Simon Stiell, durante a abertura da COP29 em Baku, no Azerbaijão.
Excelências, Delegados, Colegas, Amigas e Amigos,
É uma honra recebê-los na COP29.
Agradeço ao Dr. Sultan Al Jaber e à Presidência dos Emirados Árabes Unidos pelo seu trabalho incansável, ao passarem o bastão para o Presidente Babayev e o Azerbaijão, a quem devo parabenizar pelas excelentes instalações em que nos encontramos.
Em tempos difíceis, enfrentando tarefas difíceis, não perco esperança e sonhos.
O que me inspira é a engenhosidade e a determinação humanas. Nossa capacidade de sermos derrubados e de nos levantarmos repetidamente, até atingirmos nossos objetivos.
A senhora com quem estou nesta foto é minha vizinha, Florence, em Carriacou. Em julho deste ano esses éramos nós, em pé em cima de tudo o que restou de sua casa.
Aos 85 anos, Florence se tornou uma das milhões de vítimas da mudança climática desenfreada somente neste ano.
Ela estava concentrada em uma coisa: ser forte pela sua família e forte pela sua comunidade.
E há pessoas como Florence em todos os países da Terra. Derrubadas e se levantando novamente.
Este processo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática - UNFCCC - é o único lugar que temos para abordar a crescente crise climática, e para de forma credível nos responsabilizarmos mutuamente para agir para contê-la.
E sabemos que esse processo está funcionando. Porque sem ele, a humanidade estaria caminhando para cinco graus Celsius de aquecimento global.
Nesses corredores, negociamos peças específicas do quebra-cabeça a cada ano. Pode parecer muito distante do que está acontecendo na sala de estar da Florence. Não podemos nos dar ao luxo de continuar acabando com vidas e meios de subsistência em todas as nações - portanto, vamos tornar isso real:
Vocês querem que suas contas de supermercado e de energia aumentem ainda mais?
Querem que seus países deixem de ser economicamente competitivos?
Vocês realmente querem ainda mais instabilidade global, custando preciosas vidas?
Essa crise está afetando cada indivíduo no mundo de uma forma ou de outra.
E estou tão frustrado quanto qualquer outra pessoa pelo fato de uma única COP não conseguir realizar a transformação completa de que todas as nações precisam. Mas se alguma de suas respostas a essas perguntas foi “Não”, então é aqui que as Partes precisam chegar a um acordo para sair dessa confusão.
É por isso que estamos aqui em Baku. Nós precisamos chegar a um acordo sobre uma nova meta global de financiamento climático.
Se pelo menos dois terços das nações do mundo não puderem reduzir suas emissões rapidamente, todas as nações pagarão um preço brutal.
Se as nações não conseguirem criar resiliência nas cadeias de suprimentos, toda a economia global estará derrotada. Nenhum país está imune.
Portanto, vamos acabar com qualquer ideia de que financiamento climático é caridade. Uma nova e ambiciosa meta de financiamento climático é totalmente do interesse de todas as nações, inclusive das maiores e mais ricas.
Mas não é suficiente apenas concordar com uma meta. Precisamos nos esforçar mais para reformar o sistema financeiro global. Dar aos países o empoderamento fiscal de que tanto precisam.
E aqui em Baku precisamos colocar os mercados internacionais de carbono em funcionamento, finalizando o Artigo 6.
Precisamos avançar na mitigação, para que as metas de Dubai sejam cumpridas.
Não podemos deixar que o 1,5°C fique fora de alcance. E mesmo com o aumento das temperaturas, a implementação de nossos acordos deve fazer com que diminuam.
O investimento em infraestrutura e energia limpa chegará a dois trilhões de dólares em 2024. Quase o dobro do investimento em combustíveis fósseis.
A mudança para energia limpa e resiliência climática não será interrompida. Nosso trabalho é acelerar esse processo e garantir que seus enormes benefícios sejam compartilhados por todos os países e todos os povos.
Precisamos chegar a um acordo sobre as metas de adaptação. Não é possível gerenciar o que não se mede. E precisamos saber se estamos a caminho de aumentar resiliência.
E devemos continuar aprimorando os novos mecanismos de suporte financeiro e técnico para perdas e danos.
Não podemos tomar decisões no escuro. Os Relatórios Bienais de Transparência, previstos para este ano, nos darão uma visão mais clara do progresso que estamos fazendo e das lacunas que precisamos preencher.
No próximo ano todos os países entregarão sua terceira geração de planos climáticos nacionais - NDCs.
Para ajudar os países a criá-los e comunicá-los, a UNFCCC lançará uma Campanha de Plano Climático.
Ela mobilizará a ação de todas as partes interessadas e se alinhará aos esforços do Secretário-Geral da ONU e da próxima presidência brasileira da COP.
Paralelamente, reiniciaremos as Semanas do Clima a partir de 2025. Alinhando-as mais estreitamente com nosso processo e com os resultados que ele deve produzir.
No Secretariado, continuaremos a trabalhar incansavelmente com o que temos, ao mesmo tempo sendo claros quanto ao financiamento de que precisamos para que possamos cumprir o que está sendo solicitado de nós cada vez mais.
E manteremos o foco na participação segura, inclusiva e significativa de todos os observadores nesta COP.
Nos últimos anos demos alguns passos históricos. Não podemos sair de Baku sem um resultado substancial. Reconhecendo a importância deste momento, as Partes precisam agir de acordo com ele.
Mostrem determinação e engenhosidade aqui na COP29 - Precisamos que todas as partes pressionem por um acordo desde o início - Que se levantem e cumpram o prometido.
Agora é a hora de mostrar que a cooperação global não está nocauteada. Ela está se erguendo para este momento. Portanto, vamos nos levantar aqui juntos.
Agradeço a vocês.
Para saber mais, acompanhe a cobertura completa da ONU News em português e visite a página especial da ONU Brasil sobre a COP29: Investindo em um planeta habitável para todas as pessoas.