Estamos aqui no G20 no Rio e, como viram, o tema da mudança climática foi o centro das atenções.
E, enquanto isso, em Baku, as negociações estão em andamento.
Lembro-me de ter lido um artigo político esta manhã dizendo que “todos os olhos em Baku pararam e se voltaram para o Rio, para enviar a mensagem de volta a Baku, de que é preciso agir.”
E o secretário-geral também disse esta manhã que “nossa janela para evitar uma catástrofe climática está se estreitando.”
E como vemos, inclusive neste país, a crise climática já está causando imenso sofrimento e caos em todo o mundo.
Portanto, tenho certeza de que está claro para todos nós nesta sala, que precisamos reduzir de forma rápida e drástica as emissões globais de gases de efeito estufa e agir agora para interromper o vício do mundo em carvão, petróleo e gás, e acelerar a transição dos combustíveis fósseis para renováveis.
Nós, na ONU, e toda a família da ONU, estamos soando alarmes e oferecendo soluções há anos.
Mas não temos apenas um problema com a poluição causada pelas emissões. Também enfrentamos uma poluição de informações, que está inundando as nossas redes com conspirações e mentiras.
Ela é alimentada por interesses especiais, que há décadas investem bilhões em lobby agressivo e também em publicidade enganosa com um único objetivo. E esse objetivo é obstruir a transição energética, buscando negar os fatos científicos e corroer a confiança na ciência e nas soluções climáticas, ao mesmo tempo em que perseguem as próprias pessoas que estão tentando trazer esses fatos.
E, como a diretora-geral da UNESCO acabou de mencionar, jornalistas também estão sendo atacados. E não apenas os jornalistas que fazem reportagens sobre o clima estão sendo atacados fisicamente e online, mas também vemos cientistas e ativistas climáticos enfrentando ameaças.
Portanto, independentemente da mensagem, o objetivo é fazer com que o público deixe de engajar.
Gostaria apenas de lembrar que, em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ou IPCC, declarou que “o enfraquecimento deliberado da ciência estava contribuindo para percepções errôneas do consenso científico, da incerteza, do risco desconsiderado, da urgência e da descrença”, assim reconhecido pelos cientistas do IPCC em todo o mundo.
E acho que hoje, finalmente, um número crescente de pessoas está acordando para os danos causados pela desinformação sobre o clima.
E elas estão acordando para o fato de que não estamos apenas vivendo nesses ambientes, mas estamos vivendo em ecossistemas de informações tóxicas.
E elas estão exigindo mudanças.
E é por isso que a presidência do Brasil no G20 é tão bem-vinda.
Seu reconhecimento de que a integridade da informação é fundamental para progredir em tudo o que estamos tentando alcançar.
E isso está na pauta pela primeira vez.
Enquanto isso, a UNESCO tem trabalhado arduamente na educação midiática.
Ela divulgou diretrizes muito importantes para os órgãos reguladores.
E também, aqueles que acompanham a Assembleia Geral, devem ter visto que um Pacto Digital Global muito importante foi adotado pelos Estados-membros. E há uma seção muito importante que todos os Estados-membros assinaram sobre a integridade da informação que reforça a importância de uma “Bíblia da Informação”, para que as pessoas possam acessar.
Mas também exigiu uma avaliação do impacto da desinformação sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. E acho que essa Iniciativa ajudará nisso.
Portanto, temos um impulso e agora temos uma nova Iniciativa, e eu realmente gostaria de agradecer ao governo brasileiro por ter sido tão visionário e ter insistido nisso, e à UNESCO por ter participado imediatamente e ter concordado em se tornar copresidente de onde o fundo será baseado.
Obrigada pela sua liderança.
E a todos esses Estados-membros que acabaram de ser citados, muito obrigada.
Muitos deles estão na sala e vão unir forças conosco, bem como a sociedade civil.
Estamos realizando um evento paralelo agora mesmo em Baku.
E muitos membros da sociedade civil já estão unindo forças com muito entusiasmo. Eles são verificadores de fatos, acadêmicos e também jornalistas.
E também temos parceiros da ONU a bordo, parceiros realmente importantes, como a ONU Mudanças Climáticas (UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) e a Organização Meteorológica Mundial.
Portanto, acreditamos que essa Iniciativa Global é a chance de virarmos a maré contra as forças da inação e revidar em três frentes.
E essas foram as linhas gerais, mas só para enfatizar: convocaremos essa rede global, essa coalizão de parceiros para promover o fortalecimento da integridade da informação na área climática.
E o papel da pesquisa será muito importante.
Sabe-se muito pouco sobre o funcionamento da desinformação climática, bem como sobre seu amplo impacto e em muitas partes do mundo não há pesquisa alguma.
Por isso, esperamos intervir e preencher essa lacuna, especialmente no sul global, e depois, em terceiro lugar, em nossas respostas de comunicação.
Uma coisa é entender que temos um problema e outra é saber que há uma narrativa de desinformação que está levando as pessoas a pensarem que a mudança do clima não existe ou que ela não é um problema urgente. Nós precisamos comunicar os fatos e a ciência.
Precisamos ser mais ousados, inteligentes e mais estratégicos em nosso advocacy. Não apenas focar no que comunicamos, mas no como comunicamos. Assim nosso objetivo é impulsionar o nosso caso existencial para que não alcancemos um ponto de não retorno antes de chegarmos a esse importante encontro que acontecerá na COP30 aqui no Brasil.
Obrigada.
Discurso de
Melissa Fleming
UNDGC
Subsecretária-geral da ONU para Comunicações Globais
Objetivos que apoiamos através desta iniciativa
Entidades da ONU envolvidas nesta atividade
UNDGC
United Nations Department of Global Communications
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura