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Grupo de Trabalho do Projeto ACTION inicia Fase de Preparação Detalhada para proposta de projeto de fertilizantes de carbono negativo

26 novembro 2024

Projeto ACTION prevê mitigação de 45 milhões de toneladas de CO₂ equivalente e espera gerar um superávit comercial de cerca de R$ 20 bilhões no Brasil por meio do estímulo à produção nacional de fertilizantes organominerais de carbono negativo, reduzindo a importação e utilização de fertilizantes sintéticos.

O projeto é liderado pelo Governo do Brasil, contando com recursos do Mitigation Action Facility (MAF), implementação da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e apoio especializado do Departamento Regional de Pernambuco do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), do Instituto SENAI de Inovação em Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI TICs) e do Cink Group.

Representantes e especialistas dos governos do Brasil e do Reino Unido se reuniram em outubro, em Brasília (DF), para a Reunião do Grupo de Trabalho do Projeto ACTION. O evento teve o foco na implementação da Fase de Preparação Detalhada do projeto “Acelerando Tecnologias-Chave de Emissão Zero, Alavancando Investimentos em Descarbonização Industrial” (ACTION). A iniciativa é uma cooperação internacional com o objetivo de impulsionar a produção de fertilizantes organomineirais de carbono negativo no Brasil, em substituição aos fertilizantes sintéticos largamente utilizados no país.

O projeto ACTION é liderado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Também fazem parte da direção do projeto o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

A Fase de Preparação Detalhada (DPP, na sigla em inglês) é financiada pelo Mitigation Action Facility (MAF) e implementada pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), com apoio especializado do Departamento Regional de Pernambuco do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), do Instituto SENAI de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI TICs), e da empresa de consultoria tecnológica Cink Group.

Durante a reunião, o coordenador-geral de Descarbonização do MDIC, Gustavo Fontenele, reforçou a importância da parceria entre as instituições e o setor privado no desenvolvimento do projeto: “Cada entidade é de extrema relevância para o que iremos construir. Queremos que a indústria seja um ator indispensável para a descarbonização do país”.

O secretário substituto da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SETEC) do MCTI, Osório Coelho, ressaltou que as inovações internacionais em torno da produção de fertilizantes sustentáveis precisarão ser adaptadas à realidade brasileira: “Não iremos apenas tropicalizar tecnologias, mas também desenvolvê-las e alinhá-las às necessidades e às complexidades do país”.

O diretor de Clima, Natureza e Energia da Embaixada do Reino Unido em Brasília, Richard Ridout, disse que o sucesso do projeto ACTION no Brasil será crucial para a disseminação de práticas semelhantes em outros países: “Precisamos garantir que a implementação do projeto faça uma diferença real para os agricultores no campo, trazendo benefícios e vantagens com o uso de fertilizantes menos intensivos em carbono”.

O chefe da Unidade de Sistemas Energéticos e Descarbonização Industrial da UNIDO, Riccardo Savigliano, explicou que o projeto irá abordar questões estruturais: "O Brasil tem em seu DNA o que é necessário para tornar a produção local de fertilizantes mais eficaz. O desafio será em termos de modelos de negócios. Precisamos levar em consideração a dimensão industrial, em particular o acesso à matéria-prima e o marco regulatório existente”.

O diretor de Inovação e Tecnologia Industrial do SENAI de Pernambuco, Oziel Alves, disse que o ACTION tem relação direta com a missão de sua instituição: “Esse projeto é estratégico para nós, pois está alinhado à nossa prioridade institucional de promover a inovação tecnológica e a capacitação da indústria.”

A equipe do ACTION focará em reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil apoiando a produção de fertilizantes organominerais de carbono negativo. Essa abordagem inovadora pode utilizar biochar (carvão obtido pelo aquecimento de matéria orgânica) derivado de resíduos agrícolas – combinado com um composto rico em nutrientes e digestato proveniente de usinas de biogás – além de outras rotas tecnológicas sustentáveis, conforme as necessidades econômicas específicas de cada região. Esses fertilizantes sustentáveis oferecem uma alternativa de baixa emissão aos fertilizantes sintéticos, sequestrando carbono ativamente e promovendo a saúde do solo.

Segundo um estudo publicado no ano passado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, fertilizantes sintéticos emitem 2,6 gigatoneladas de carbono por ano em todo o mundo, mais do que os setores de aviação e transporte marítimo globais combinados. Esse dado indica a importância do estímulo a fertilizantes alternativos para mitigar as mudanças climáticas – em especial em países como o Brasil, com larga atividade agroindustrial.

Além do benefício ambiental, o aumento da produção interna de fertilizantes tende a reduzir a necessidade de importação do produto, resultando em ganhos comerciais para o país e geração de empregos verdes em território brasileiro. Atualmente, os fertilizantes importados correspondem a 87% do consumo nacional da agricultura, segundo o MDIC.

Esse tema foi abordado durante apresentação remota do diretor executivo do Cink Group, Felipe Cruz. Ele explicou que a dependência do Brasil em relação às importações de fertilizantes tem gerado impactos econômicos significativos: “Precisamos garantir que o projeto não só reduza as emissões de carbono, mas também ofereça resiliência econômica para as comunidades mais vulneráveis”, acrescentou Felipe.

A coordenadora de Projetos do MDA, Lilian Ferreira de Sousa, confirmou na reunião que o projeto terá impactos econômicos, ambientais e sociais: “A crise climática só se resolve com todos nós imbuídos dessa agenda. Vamos pensar em novas formas de usar a terra e resolver a fome das pessoas”.

Impactos previstos

Com uma duração total de cinco anos e impactos sistêmicos duradouros, espera-se que o projeto ACTION produza os seguintes resultados ao longo de um período projetado de 15 anos:

  • Mitigação de 45 milhões de toneladas de CO2 equivalente;
  • Geração de superávit comercial de R$ 20 bilhões, resultante da redução da importação de oito milhões de toneladas de fertilizantes;
  • Valorização do digestato proveniente da produção anual nacional de 660 milhões de metros cúbicos de biogás (equivalente a 404 milhões de litros de diesel);
  • Aumento da produção agrícola na ordem de R$ 19 bilhões, em função das práticas sustentáveis de produtividade do solo;
  • Criação de 7.804 empregos diretos, sendo 3 mil ocupados por mulheres;
  • Aumento de 154% na renda média de pequenos agricultores;
  • Ampliação do uso de biochar para o sequestro de carbono e uma melhor retenção de água no solo, reduzindo a necessidade de irrigação;
  • Recuperação de 2 milhões de hectares de solo e aumento da produtividade da agroindústria sem a expansão de terras agrícolas, reduzindo o desmatamento.

Durante a reunião do grupo de trabalho, o auditor fiscal agropecuário do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação (DEPROS) do MAPA, Sidney Medeiros, relacionou o projeto ACTION às metas do Plano ABC+: “O objetivo do Plano ABC+ é convencer produtores rurais a adotar práticas de melhoria de renda, resiliência, adaptação e mitigação. O Plano tem, por exemplo, uma linha de crédito dedicada ao agricultor que quer adotar práticas sustentáveis, como sistema de plantio direto, bioinssumos, recuperação de pastagens e outras práticas”.

A reunião também contou com uma apresentação do especialista em Gestão do projeto GEF Biogás Brasil pela UNIDO, Bruno Neves, sobre como o projeto GEF atua para ampliar a produção de biogás no país. O especialista destacou o crescimento significativo do setor, ressaltando o potencial de geração de empregos e o papel fundamental do biogás na transição para uma matriz energética mais sustentável.

Próximos passos

A Reunião do Grupo de Trabalho do Projeto ACTION, realizada em outubro, marcou o início da implementação da Fase de Preparação Detalhada (DPP) do projeto. Nos próximos meses, a equipe do projeto realizará uma série de reuniões e workshops para engajar os principais atores da cadeia produtiva e elaborar uma estratégia para a aplicação das soluções tecnológicas previstas. A equipe pretende entregar uma proposta final de execução ao Mitigation Action Facility (MAF) até agosto de 2025.

Após a avaliação da proposta pelo MAF, prevista para dezembro de 2025, o Conselho do MAF decidirá sobre o financiamento do projeto. A abordagem se concentrará no desenvolvimento de modelos de negócios favoráveis à produção e ao uso de fertilizantes organominerais de carbono negativo na agroindústria brasileira.

A expectativa é que o ACTION transforme o setor de fertilizantes no Brasil, promovendo uma agricultura de baixo carbono e fortalecendo a resiliência econômica do país diante de desafios climáticos e energéticos.

UNIDO

Raphael C.F. Makarenko

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Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

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Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa