ARTIGO: Reforce a segurança nas estradas para as pessoas, o planeta e a prosperidade
17 fevereiro 2025
"Líderes globais devem tomar medidas urgentes e conjuntas para acabar com a carnificina nas estradas”, é o que afirma o Enviado Especial do Secretário-geral da ONU para Segurança no Trânsito e 15 chefes de agências/departamentos da ONU e pelo Ministro dos Transportes de Marrocos, no contexto da 4ª Conferência Ministerial Global para Segurança no Trânsito, que será realizada entre 18 a 20 de fevereiro em Marrakesh.
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Líderes globais devem tomar medidas urgentes e conjuntas para acabar com a carnificina nas estradas.
Se você tivesse que adivinhar a principal causa de morte de crianças e jovens em todo o mundo, o que diria? Malária? Pneumonia? Suicídio? Todas elas estão no topo da lista, mas não - são os acidentes de trânsito.
Os carros existem há mais de 120 anos e sabemos como evitar essas tragédias. No entanto, os acidentes de trânsito ainda tiram mais de duas vidas a cada minuto e quase 1,2 milhão de vidas todos os anos.
Se essas mortes fossem causadas por um vírus, seriam chamadas de pandemia e o mundo se esforçaria para desenvolver vacinas para evitá-las.
Mas, no entanto, há muito tempo a redução das mortes no trânsito tem sido negligenciada, mal compreendida e subfinanciada.
As pessoas sempre cometerão erros nas estradas, mas temos soluções comprovadas que garantem que nossos sistemas de transporte possam absorver esses erros de forma a reduzir significativamente o risco de morte.
Como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da Década de Ação da ONU para a Segurança Viária 2021-2030, o mundo estabeleceu uma meta ambiciosa de reduzir pela metade as mortes nas estradas em todo o mundo até 2030.
Apenas dez países - incluindo alguns países de baixa e média renda duramente atingidos - conseguiram reduzir as mortes no trânsito em mais de 50% em uma década, e mais de 30 países estão logo atrás. Isso mostra que a meta pode ser atingida, mas não é nem de o longe suficiente. Precisamos de ações urgentes.
A chave para atingir essa meta é a decisão de projetar e construir nossos sistemas de transporte para as pessoas - e não para os veículos motorizados - e tornar a segurança primordial em todas as decisões e ações.
Isso é especialmente importante para os usuários mais vulneráveis das vias, como pedestres, ciclistas e motociclistas, que muitas vezes são deixados perigosamente expostos.
O avanço da segurança viária é crucial por si só, mas também é fundamental para o desenvolvimento sustentável em geral.
O mundo está passando por uma onda de motorização sem precedentes. Mais de um bilhão de veículos estão nas estradas. Isso é insustentável. Portanto, devemos nos concentrar no transporte de pessoas, não de carros, motocicletas ou caminhões.
O transporte é responsável por um quarto das emissões globais de carbono e alimenta o congestionamento em nossas cidades. No entanto, quando a mobilidade se torna segura e acessível, as pessoas escolhem as opções mais ecológicas de transporte público, caminhada e ciclismo.
Projetar cidades em torno de um transporte sustentável - com ciclovias, zonas de pedestres e transporte público acessível - também fortalece as comunidades, tornando os espaços mais seguros e habitáveis, além de melhorar o acesso à moradia adequada e aos serviços básicos para todas as pessoas.
Estradas seguras impulsionam as economias. As mortes nas estradas podem custar aos países cerca de 3 a 5% de seus PIBs, e garantir que mais pessoas possam se deslocar com segurança para seus empregos, escolas e serviços vitais impulsiona o desenvolvimento.
O transporte seguro, acessível e econômico também elimina as barreiras de acesso a empregos, escolas e outras oportunidades para grupos desfavorecidos. Isso ajuda a garantir que todas as pessoas possam atingir seu potencial.
O mesmo vale para a igualdade de gênero. Em alguns países, até 80% das mulheres relatam ter sofrido assédio no transporte público, portanto, devemos tornar o transporte seguro para mulheres e meninas.
A segurança no trânsito é assunto de todas as pessoas e, para ter sucesso, precisamos do envolvimento de vários setores.
Os planejadores urbanos e engenheiros devem garantir que a segurança seja incorporada à infraestrutura. A academia e a sociedade civil podem gerar evidências. A mídia pode se aprofundar no que funciona, no que não funciona e o porquê.
O setor privado tem uma enorme influência. As empresas podem contribuir para a mobilidade segura e sustentável aplicando princípios e práticas comprovadas em suas cadeias de valor. Elas devem vender apenas veículos que atendam aos padrões de segurança das Nações Unidas.
No entanto, o papel do governo é fundamental. Eles devem oferecer abordagens estratégicas e bem coordenadas, políticas sólidas e estruturas legais que imponham padrões de segurança e comportamentos seguros, além de financiamento suficiente. A aplicação da lei e a educação também são fundamentais.
Essa visão está no centro do Plano Global para a Década de Ação das Nações Unidas para a Segurança Viária 2021-2030, que oferece um guia para os governos reduzirem as mortes no trânsito.
Nesta semana, líderes mundiais se reunirão para uma Conferência Ministerial Global sobre Segurança Viária no Marrocos. Eles avaliarão o progresso, compartilharão conhecimentos e promoverão ações para reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2030.
Eles devem adotar uma nova Declaração de Marrakech, que reconheça a segurança no trânsito como uma prioridade urgente de saúde pública e desenvolvimento e que nossos esforços devam ser orientados pelos princípios de equidade, acessibilidade e sustentabilidade.
A Declaração convoca líderes mundiais a intensificar os esforços para colocar em prática o Plano Global para a Década de Ação das Nações Unidas para a Segurança no Trânsito. Precisamos de uma mudança radical na vontade política, um senso de urgência, estratégias baseadas em evidências que sejam custeadas e implementadas, uma forte coordenação e financiamento adequado.
A segurança no trânsito é uma crise que já se arrasta há tempo demais. Nenhuma morte no trânsito é necessária ou aceitável.
No entanto, também é muito mais do que isso. A mobilidade segura e sustentável pode impulsionar um futuro melhor para todos e todas nós.
Autores do artigo:
1. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)
2. Jean Todt, Enviado Especial do Secretário-Geral da ONU para Segurança no Trânsito
3. Achim Steiner, Administrador do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD)
4. Rabab Fatima, Subsecretário Geral e Alto Representante para os Países Menos Desenvolvidos, Países em Desenvolvimento Sem Litoral e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento
5. Inger Andersen, subsecretária-geral da ONU e diretora executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA)
6. Anaclaudia Rossbach, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat)
7. Filippo Grandi, Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)
8. Jorge Moreira da Silva, Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS)
9. Tatiana Molcean, Subsecretária Geral da ONU/Secretária Executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE)
10. Armida Salsiah Alisjahbana, Secretária Executiva da Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico (UNESCAP)
11. Claver Gatete, Secretário Executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África (UNECA)
12. Rola Dashti, Secretário Executivo da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA)
13. José Manuel Salazar-Xirinachs, Secretário Executivo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL)
14. Gilles Michaud, Subsecretário Geral de Segurança e Proteção (UNDSS)
15. Felipe Paullier, Secretário-Geral Adjunto para Assuntos da Juventude
16. Li Junhua, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Sociais. Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA).