"Meu sonho é ter uma loja. E esse sonho está próximo de ser realizado."

Parceria do ACNUR com instituições financeiras leva mais de R$ 1,5 milhão em crédito a pessoas refugiadas e migrantes.
Livis Sarmiento, venezuelana que vende comidas típicas em São Paulo, e Nelarys Lanz, confeiteira que conquistou sucesso com suas receitas em Curitiba, são exemplos de empreendedoras que, por meio do microcrédito e juros baixos, conseguiram financiar seus negócios e expandir suas produções. Esse apoio tem sido essencial para fortalecer suas iniciativas.
Livis Sarmiento está à frente do Gosto ao Paladar, onde vende comidas típicas por encomenda em São Paulo (SP). Formada em Direito, ela está no Brasil há seis anos e trabalha em outra área, com atendimento ao cliente. A venda de pratos típicos começou durante a pandemia da COVID-19, como um recurso para ela e o esposo, que trabalha como motorista de aplicativo, conseguirem manter os dois filhos pequenos. Para financiar o seu empreendimento, ela recorreu ao microcrédito quatro vezes, sempre para investir em equipamentos e ampliar a produção.
“O Banco do Povo abriu as portas para a gente ter mais alcance, pra comprar maquinário. Primeiro, eles nos visitaram, vieram ver o que a gente fazia, conhecer a produção, valores de venda. Também fizeram um estudo social, pra ver se a gente trabalhava em outro lugar, quanto recebia por mês e quanto poderia pagar”, lembra Livis.
“A gente pegou o primeiro empréstimo e nos mostramos responsáveis pelo pagamento, aí conseguimos aumentar o valor do crédito. Hoje, estou pagando o quarto empréstimo, que vai até abril. Meu sonho é ter uma loja, onde a gente possa conversar, receber pessoas, nos sentir em casa. E esse sonho está próximo de ser realizado.”
Já a confeiteira Nelarys Lanz é outra empreendedora que recorreu ao microcrédito. Até 2018, ela produzia e fornecia bolos para grandes redes na Venezuela. Com a situação no país, ela mudou-se com a família para Manaus (AM), onde tentou, sem sucesso, vender bolos tradicionais venezuelanos nas ruas. Depois de estudar os hábitos brasileiros e de fazer alguns cursos, ela conseguiu realizar as primeiras vendas e se tornou fornecedora de restaurantes. Em 2023, já morando em Curitiba (PR), um vídeo seu ensinando a fazer a torta Tres Leches viralizou nas redes sociais. O sucesso foi tanto que ela viu a oportunidade de lançar um curso on-line para ensinar suas receitas.

Com o empréstimo do Banco Pérola, ela conseguiu comprar equipamentos para melhorar seu negócio no Brasil, o Nelas Cakes, e também teve recursos para lidar com as dificuldades impostas pela pandemia da COVID-19. “O programa deles focado em refugiados e migrantes é muito legal, pois os juros são bem em conta e as parcelas ficam baixas”, conta.
“Meu sonho é ter uma franquia do meu empreendimento. Também quero continuar com meu curso e ensinar a todas as mulheres a se empoderar e acreditar em si mesmas.”
Para além de Livis e Nelaryz cerca de outros 600 empreendedores refugiados e migrantes em 12 estados brasileiros foram beneficiados por mais de R$ 1,5 milhão investidos através da parceria estabelecida pelo ACNUR com o Banco Pérola e o Banco do Povo Crédito Solidário. Elas são instituições financeiras que passaram a oferecer linhas de microcrédito especiais para atender pessoas refugiadas e migrantes que queiram ampliar seus negócios no Brasil.
A iniciativa, que envolve diferentes instituições financeiras, foi lançada no final de 2020 para oferecer empréstimos que vão de R$500 a R$ 7 mil. Além dos juros baixos (em média, 3% ao mês), as facilidades oferecidas vão da menor burocracia para a contratação, mais opções de garantias que podem ser apresentadas pelo contratante e opções de pagamento de acordo com a possibilidade do empreendedor – semanais, quinzenais ou mensais.
Para o diretor executivo, Fabio Maschio Rodrigues, ter uma linha de crédito que possibilite o acesso a pessoas refugiadas e migrantes é parte de uma ação maior de promoção da integração socioeconômica dessas pessoas no Brasil. “O Banco do Povo Crédito Solidário tem como premissa a promoção do acesso a recursos microfinanceiros da polução sem acesso aos serviços bancários convencionais. Apoiando os empreendedores refugiados, estamos ajudando a restaurar a dignidade e a autonomia, permitindo que eles sejam protagonistas de suas próprias vidas. Assim estamos promovendo uma sociedade mais inclusiva, justa e próspera para todos.”
O Banco do Povo Crédito Solidário tem atuação no estado de São Paulo e já beneficiou mais de 360 pessoas refugiadas e migrantes na Região Metropolitana de São Paulo, Campinas, Jundiaí e Osasco. O perfil de clientes que contratam o microcrédito é formado, em sua maioria, por mulheres (52%) e com renda per capita de até um salário mínimo por mês (66%). Três em cada quatro possuem empresa formalmente constituída, em especial nas áreas de serviços (49%) e comércio (43%).
Oportunidades mesmo a quem ainda não está formalizado
Outro diferencial da iniciativa é a possibilidade de contratação de crédito mesmo por empreendedores e empreendedoras que ainda não formalizaram seu negócio.
No Banco Pérola, o negócio deve estar em andamento há, pelo menos, três meses, e a única garantia solicitada é um avalista, que assine o contrato junto com a pessoa refugiada ou migrante. De 2020 até agora, a instituição alcançou 190 pessoas em 30 cidades e 12 estados.
“Sem crédito é praticamente impossível alavancar um negócio, qualquer que seja o tamanho. E essas pessoas têm ainda menos condições de conseguir um empréstimo no mercado do que empreendedores brasileiros mais vulneráveis. Por mais que haja força de trabalho, demanda, capacidade empreendedora, existem questões muito práticas sem as quais um empreendimento simplesmente não existe, como capital de giro, recurso para comprar produtos ou para investir em uma infraestrutura mínima”, afirma a diretora Financeira e Administrativa do Banco Pérola, Andrea Federmann.
Para o ACNUR, oferecer créditos diferenciados para pessoas refugiadas e migrantes é uma forma de contribuir para o desenvolvimento dos pequenos empreendimentos, para o estabelecimento dessas pessoas de forma sustentável no Brasil e para o fortalecimento da economia local. “Temos milhares de pessoas refugiadas e migrantes que recorrem à abertura do negócio próprio como um meio de, inicialmente, ter uma renda no Brasil. Muitos conseguem expandir com investimentos mínimos. Ter as instituições financeiras nessa iniciativa é fundamental para incentivar a autonomia de muitos empreendedores que escolhem o país para recomeçarem suas vidas”, ressalta a assessora de Soluções Duradouras no ACNUR, Vanessa Tarantini.
Saiba mais sobre a história de Livis e sua paixão pela cozinha típica venezuelana:
No site Refugiados Empreendedores é possível encontrar mais informações sobre instituições que oferecem crédito e microcrédito para pessoas refugiadas e migrantes que sejam donas do seu próprio negócio. Também é possível acessar a Cartilha de Informações Financeiras para Migrantes e Refugiados, que ajuda avaliar as opções disponíveis.
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