A trajetória de sucesso de Ronaldo
O jovem recuperou a aprendizagem por meio do Programa Travessia Amapá e chegou ao 2º ano do ensino médio.
O olhar firme de Ronaldo Rodrigues Cardoso, 19 anos, carrega a maturidade de quem enfrentou cedo demais o peso das dificuldades. Estudante do 2º ano do Ensino Médio em Santana, cidade do Amapá, ele sonha em ser professor. Mas chegar até ali exigiu muito mais do que apenas estudar. Foi preciso atravessar ausências, doenças e o desafio de recuperar o tempo perdido.
A infância de Ronaldo foi marcada por mudanças bruscas. Aos seis anos, viu a mãe partir para o município de Gurupá (AP), ficando sob os cuidados do pai, Silvanio Rodrigues. Três anos depois, foi viver com a ela no interior e mergulhou em uma rotina dura, trocando a escola pela vida de catador de açaí. A escola ficou distante.
Foram dois anos longe da sala de aula até que, aos 11 anos, debilitado por um princípio de doença de Chagas, Ronaldo voltou para Santana, para viver com o pai. Depois de recuperar a saúde, precisou recomeçar os estudos e enfrentar muitos desafios.
“Foi um sofrimento muito grande para mim. Tenho quatro filhos, mas naquela época eu só tinha ele. Esses dois anos longe atrapalharam bastante os estudos do Ronaldo. Quando voltou, não pensei duas vezes e matriculei ele no colégio. Eu sabia que ele tinha capacidade de vencer e de estudar”, lembra Silvanio.
Alguns anos se passaram e Ronaldo foi transferido para a Escola Estadual Prof. Francisco Walcy Lobato Lima, em Santana (AP). Ali, a dedicação do adolescente e a vontade de aprender chamaram a atenção. Surgiu o convite para se matricular em uma turma do Travessia - Amapá, programa alinhado à estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar, do UNICEF, implementado pela Secretaria Estadual de Educação do Amapá, que tem como objetivo o enfrentamento da distorção idade-série e a recomposição das aprendizagens para que os estudantes avancem nos estudos.
Segundo a coordenadora do programa na escola, Davina Viana, o processo de identificação de possíveis estudantes começa com um olhar atento:
“Fazemos um levantamento, vamos na pasta do estudante e percebemos o atraso escolar. Depois disso, entramos em contato com a família para falar do programa e fazemos o convite para esse estudante, pois ele também precisa querer”.
Para Ronaldo, o convite representou um divisor de águas:
“Eu enxerguei o Travessia como uma oportunidade, porque eu estava com 16 anos e ainda no 7º ano do fundamental. Eu já pesquisava, já procurava entender assuntos de séries mais avançadas, pois sabia que uma hora ia aparecer uma oportunidade e eu tinha que abraçar. Aí apareceu o Travessia”.
A proposta do programa Travessia Amapá promove oportunidades diferenciadas de aprendizagem por meio de metodologias ativas, a fim de estabelecer vínculos mais sólidos entre professores e estudantes, o que gera impactos significativos em suas aprendizagens. Nesse processo, são consideradas a história de vida e a trajetória escolar de cada estudante.
“Quando o aluno atrasa, ele perde oportunidades e se sente desestimulado. Tendo essa chance, que o programa oferece, ele consegue dar um salto grande no aprendizado, que se reflete no futuro dele”, afirma Leidilene Rocha, uma das professoras da turma do Travessia, responsável por levar Ronaldo para participar do programa.
Oportunidades de aprendizagem e acolhimento
Foi nesse espaço que Ronaldo encontrou não apenas oportunidades de aprendizagem, mas também acolhimento. Era um espaço diferente, pensado para adolescentes como ele, que carregavam atrasos na vida escolar. Para a professora de matemática Rutilene Oliveira, ele representa muito mais do que um estudante esforçado.
“O Ronaldo é meu aluno desde o 1º ano do ensino médio. Ele é excelente, um menino dedicado, responsável, determinado, uma pessoa maravilhosa. Ele é um jovem prodígio”, afirma, orgulhosa.
Hoje, já em uma turma regular do 2º ano do Ensino Médio, Ronaldo não esconde os planos: quer ser professor de matemática. Silvanio, o pai, sonha junto com Ronaldo:
“A gente passa dificuldade, mas ele estuda e diz que tem muitos planos. Ele tem tudo para vencer na vida. É muito inteligente, nunca repetiu de ano, o atraso dele foi fruto das interrupções forçadas na infância”.
Na sala de aula, com o caderno aberto e lápis na mão, Ronaldo projeta o futuro. Quer ensinar, inspirar outros adolescentes e jovens e mostrar que a educação é capaz de mudar destinos, como mudou o dele.
Sobre a estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar
A estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar é uma iniciativa do UNICEF, em uma parceria estratégica com Instituto Claro e em parceria com Fundação Itaú, para o enfrentamento da cultura de fracasso escolar no Brasil. O objetivo é facilitar um diagnóstico amplo sobre a distorção idade-série e o fracasso escolar no País, e oferecer um conjunto de recomendações para o desenvolvimento de políticas educacionais que promovam o acesso à educação, a permanência na escola e a aprendizagem desses estudantes.
O site da estratégia disponibiliza materiais pedagógicos – com as experiências didáticas –, textos, vídeos e dados relativos às taxas de distorção, abandono escolar e reprovação, com recortes por gênero, raça e localidade, que mostram as relações entre o atraso escolar e as desigualdades brasileiras.
Para saber mais, siga @unicefbrasil nas redes e visite a página do UNICEF Brasil: https://www.unicef.org/brazil/