Tráfico de seres humanos é a escravidão dos tempos modernos, afirma relatora da ONU
25 março 2014
A indústria do tráfico humano fatura bilhões de dólares anualmente, levando uma grande quantidade de pessoas para uma vida degradante, de escravidão para o trabalho, para a exploração sexual e outras formas de abuso.
“Nós sabemos que tivemos a escravidão transatlântica e que isso acabou há mais de 200 anos. Agora temos novas formas de escravidão. E o tráfico humano é parte disso. O tráfico humano é a escravidão dos tempos modernos”, afirma a relatora especial da ONU sobre o Tráfico Humano, Joy Ngozi Ezeilo.
Embora não se saiba o número exato de pessoas traficadas, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimava em 2012 que 20,9 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado globalmente, número que inclui as vítimas de tráfico de seres humanos para exploração laboral e sexual.
Até o final de 2014, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) lançará, em Viena, na Áustria, um relatório específico sobre o tráfico humano.
A Itália é o destino preferido para migrantes da África, do Leste Europeu e da Ásia que tentam fugir da pobreza e do conflito. Muitas vezes, porém, acabam vítimas de redes de tráfico internacionais.
O país tem leis de proteção de vítimas desse tipo de crime, mas sua capacidade para identificá-las é bastante limitada e, como consequência, podem acabar presas e deportadas.
A convite do governo italiano, Ezeilo visitou o país para acompanhar os procedimentos e apontar melhorias. Este vídeo mostra um pouco das histórias que ela viu e ouviu, responde como as autoridades devem combater a prática e quais são os procedimentos de proteção dessas pessoas.
Tragédias no mar
Em março de 2014, os italianos resgataram pelo menos 2 mil pessoas a bordo de mais de uma dúzia de barcos superlotados, com mais a caminho em meio a condições meteorológicas calmas. De acordo com informações da imprensa, pelo menos dois suspeitos de tráfico humano foram detidos.
A busca pelo sonho de uma vida melhor não raro acaba em tragédia. Em outubro de 2013, mais de 360 migrantes morreram afogados quando um barco superlotado naufragou perto da ilha italiana de Lampedusa. Foi um dos acidentes com maior número de mortes da história recente.
Um compromisso com as vítimas
Ezeilo, que não recebe salário da ONU para desempenhar a função de relatora especial -- assim como todos os demais especialistas independentes das Nações Unidas --, muitas vezes coloca a própria vida em risco para chegar até as vítimas.
Ela afirma que sua motivação está em todos aqueles que sequer serão encontrados vivos e nos pais que nunca saberão exatamente o que aconteceu com os filhos. “É um comprometimento não só com a humanidade, é um comprometimento com as vítimas do tráfico”, explica.