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Ex-secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali falece aos 93 anos

16 fevereiro 2016

No dia 2 de janeiro de 1992, Boutros Boutros-Ghali (à direita), então secretário-geral das Nações Unidas, chega à entrada Secretariado para seu primeiro dia de trabalho na Organização. Aly Teymour, chefe do Protocolo, o acompanha. Foto: ONU/John Isaac
Legenda: No dia 2 de janeiro de 1992, Boutros Boutros-Ghali (à direita), então secretário-geral das Nações Unidas, chega à entrada Secretariado para seu primeiro dia de trabalho na Organização. Aly Teymour, chefe do Protocolo, o acompanha. Foto: ONU/John Isaac





O veterano diplomata egípcio e o primeiro secretário-geral das Nações Unidas africano, Boutros Boutros-Ghali, faleceu nesta terça-feira (16), aos 93 anos. Ele se destacou por guiar a Organização através no tumultuado início dos anos 1990 e por ajudar a moldar a resposta da ONU à realidade pós-guerra fria, elaborando um importante relatório sobre diplomacia preventiva, pacificação e manutenção da paz.



O Conselho de Segurança da ONU anunciou a morte de Boutros-Ghali pela manhã, após os 15 membros do organismo terem realizado um momento de silêncio.



“A comunidade das Nações Unidas lamentará [a perda de] um líder memorável que prestou serviços inestimáveis para a paz mundial e a ordem internacional”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.



Boutros-Ghali teve uma longa associação com temas internacionais, como diplomata, jurista, estudioso e autor amplamente publicado. Tornou-se membro do Parlamento egípcio em 1987 e, no momento de sua nomeação como chefe da ONU, já havia ocupado o cargo de vice-primeiro-ministro das Relações Exteriores do Egito, desde maio de 1991, tendo atuado como ministro de Estado das Relações Exteriores de outubro de 1977 até 1991.



Ao longo de quatro décadas, Boutros-Ghali participou de numerosas reuniões nos campos do direito internacional, direitos humanos, desenvolvimento econômico e social, descolonização, a questão do Oriente Médio, o direito internacional humanitário, os direitos das minorias étnicas e outras, o não alinhamento, o desenvolvimento na região do Mediterrâneo e a cooperação afro-árabe.



Em setembro de 1978, Boutros-Ghali participou da Conferência de Cúpula de Camp David e teve um papel importante na negociação dos acordos entre Egito e Israel, assinados em 1979.



Sexto secretário-geral das Nações Unidas, o seu mandato foi marcado por conflitos brutais no Haiti, Somália, Ruanda e na ex-Iugoslávia, entre outros. Logo depois de sua posse, o Conselho de Segurança reuniu-se em sua primeira cúpula de chefes de Estado. Boutros-Ghali foi o autor do relatório intitulado “Uma Agenda para a Paz”, uma análise sobre as formas de reforçar a capacidade da ONU para a diplomacia preventiva, a pacificação e a manutenção da paz.



Também durante seu mandato, ele liderou a reforma estrutural e de gestão da ONU. Ele visitou Sarajevo (Bósnia-Herzegovina) no final de 1992, acompanhado pelas forças de paz da ONU. A guerra nos Bálcãs, acentuada pela generalizada “limpeza étnica”, durou 42 meses, terminando em 1995.



Na sede da ONU em Nova York, Ban Ki-moon saudou o seu antecessor como um estadista respeitado, que trouxe “experiência formidável e poder intelectual para a tarefa de guiar as Nações Unidas através de um dos períodos mais tumultuados e difíceis de sua história, bem como orientar a Organização Internacional da Francofonia nos anos seguintes”.



“Atuou como secretário-geral durante um aumento dramático na manutenção da paz da ONU. Ele também dirigiu a Organização durante um momento em que o mundo cada vez mais se voltava para as Nações Unidas buscando soluções para os seus problemas, logo após a guerra fria”, acrescentou Ban.



“Ele mostrou coragem para fazer perguntas difíceis para os Estados-membros, e com razão insistiu na independência de seu escritório e do Secretariado como um todo. Seu compromisso com as Nações Unidas – sua missão e seus funcionários – era inconfundível, e a marca que ele deixou na Organização ficará para sempre”, destacou Ban Ki-moon.



Ele estendeu suas mais profundas condolências à esposa de Boutros-Ghali, bem como a toda sua família, ao povo egípcio e para os muitos amigos e admiradores do falecido secretário-geral em todo o mundo.

UNESCO também lamenta perda



A diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, também expressou profunda tristeza por ocasião do falecimento do ex-secretário-geral. “Boutros Boutros-Ghali dedicou sua vida a promover os ideais para um mundo mais justo, pacífico e igualitário; a importância da democratização da globalização; e o fortalecimento da solidariedade Sul-Sul. Ele foi um incansável defensor dos direitos humanos e da diversidade cultural”, disse a diretora-geral.



“Em nome da UNESCO, eu gostaria de dizer o quanto sua voz poderosa fará falta. Ele era ao mesmo tempo um diplomata e um intelectual, aproveitando a riqueza das culturas egípcia e árabe para compartilhar com o mundo sua paixão pela paz. Ele era um grande amigo da UNESCO, contribuindo ativamente com a missão da Organização, exercendo cargos de vice-presidente do Fórum Permanente de Diálogo Afro-árabe sobre Democracia e Direitos Humanos, criado com o apoio da UNESCO, e de presidente do Painel Internacional sobre Democracia e Desenvolvimento, estabelecido pela UNESCO em 1998.”

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura