Violinista sírio refugiado retoma carreira em pequena cidade canadense
22 dezembro 2016
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Diferentemente da maior parte dos 31 mil refugiados sírios que chegaram ao Canadá no último ano, Sari Alesh, 31 anos, não viajou apenas com seus bens materiais, mas levou ao país de acolhida algo mais valioso: sua música.
“Só segui meu coração”, disse Sari. “Ele sempre me disse: ‘você é músico, não pode fazer nada além disso’”.
O jovem violonista chegou sozinho ao chuvoso arquipélago da costa oeste do Canadá em fevereiro deste ano — no dia do seu aniversário — com outros 400 refugiados sírios reassentados na província de Victoria.
Na Síria, a vida de Sari era cheia de arte. Formado em música clássica em Damasco, ele participou de uma turnê pela Europa e pelo Oriente Médio com a Orquestra Sinfônica Nacional do país, chegando a tocar para o aclamado cantor libanês Fairuz.
Mas a guerra logo interrompeu seu sucesso, deslocando-o juntamente a mais de 11 milhões de pessoas. Em 2014, Sari fugiu da capital síria em busca de segurança em Istambul, na Turquia, deixando para trás seus familiares e uma promissora carreira musical.
Uma vez em Victoria, logo descobriu que o cenário musical de sua nova cidade era tão desconcertante quanto as imponentes árvores de cedro vermelho da ilha de Vancouver. Esperando sonatas e árias europeias puras, ele em vez disso percebeu que o violino era um instrumento bastante popular.
Logo encontrou refúgio artístico com os músicos Faraidoun Akhavan e Paulina Eguiguren, dois de seus patrocinadores. Com Sari no violino e Faraidoun com seu barbat, um instrumento iraniano, os dois passaram a tocar músicas do Oriente Médio em clubes noturnos.
“Quando chegamos aqui, também recebemos ajuda”, disse Paulina, que chegou ao Canadá com seu marido como refugiados mais de 20 anos atrás. “Sinto uma conexão espiritual com os demais quando sou capaz de ajudar de alguma forma”.
Como muitos moradores de Victoria, Faraidoun e Paulina queriam patrocinar uma família ou indivíduo sírio, mas não sabiam como o processo funcionava. Eles então se aproximaram de uma organização multicultural na cidade que reunia refugiados e patrocinadores.
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Quando foram apresentados ao refugiado sírio, logo descobriram algo em comum — os três tinham fortes conexões com as artes. “Foi perfeito”, disse Sabine Lehr, coordenadora da organização.
Paulina, que também é artista, logo se tornou amiga de Sari. “Havia algo sobre ele que era um pouco diferente”, disse. “Acho que eu identifiquei a arte nele — a compaixão que só as pessoas que sofreram podem sentir”.
Por coincidência, sua filha Julia também tocava um instrumento. Paulina não buscava um instrutor na época, mas Sari tinha seis anos de experiência como professor de música na Síria. Para sua surpresa, uma imediata química se desenvolveu entre ele e Julia quando tocaram juntos. Logo, a casa dela se encheria dos sons do acordeão acompanhado do violino de Sari.
“Meu coração foi tocado rapidamente por eles”, disse Sari. “Cinco minutos depois de nos conhecermos, nos tornamos uma família”.
A nova vida de Sari em Victoria, mais calma e mais segura, foi o primeiro sinal de que sua carreira, desmantelada lentamente pelo conflito sírio, poderia ser retomada.
Ele logo receberia uma bolsa para estudar inglês na Universidade de Victoria. Era uma oportunidade para melhorar suas habilidades linguísticas e se envolver com a comunidade, enquanto ele já sonhava obter um título que lhe permitisse ensinar música em escolas públicas.
Na universidade, desenvolveu um programa para ensino de música a estudantes com síndrome de Down. “A música ajuda a ampliar suas capacidades”, disse Sari. “Mais tarde, quando eu os reencontrei, vi melhoras e me senti orgulhoso deles — e de mim também”.
Enquanto se tornava mais popular na universidade, Sari era notado por cada vez mais pessoas. O maestro Ajtony Casaba foi uma delas, oferecendo a ele a chance de tocar na Orquestra da Universidade de Victoria. O sírio logo se tornou um músico requisitado para concertos beneficentes e eventos comunitários, tendo sido convidado a se apresentar no gramado da Assembleia Legislativa da Colúmbia Britânica para o Dia do Canadá.
“Foi uma honra tocar no Dia do Canadá”, lembrou. “Não posso descrever o que senti. Foi maravilhoso”.
Apesar disso, a guerra na Síria teve mais consequências para a vida do rapaz — sua agilidade com os dedos diminuiu devido à falta de treinamento rigoroso nos anos em que fugiu do conflito.
Uma de suas patrocinadoras, Heather Ferguson, ocupava uma cadeira no conselho do Conservatório de Música de Victoria. Com afilhados da mesma idade de Sari, ela se sentiu determinada em ajudá-lo. “Se algum dia a vida deles estivesse sido destruída e eles estivessem em necessidade, eu esperaria que alguém os ajudasse, que em algum lugar do mundo, estendessem uma mão amiga”, disse.
Heather fez com que um dos maiores professores de instrumentos de corda do Canadá, Michael van der Sloot, atuasse como mentor de Sari e recuperasse suas habilidades atrofiadas com os anos de fuga da guerra.
Enclausurado em um pequeno escritório no conservatório, Sari mergulhou na música com seu professor. As notas levavam-no de volta à Síria. As melodias eram diferentes, mas as canções eram reconfortantes.
“Quando você toca, você oferece seus sentimentos, nada mais”, disse Sari. “Quando as pessoas amam música, significa que elas entendem minha mensagem”.